Obrigada pelos 6 K...
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NATALIE NARRANDO...
Dor, medo, angústia, raiva, desespero. Era só isso que eu sentia quando estava naquela casa com aquele homem me mantendo refém junto com a minha filha. Quando ele atirou em mim e apontou a arma pra ela eu pensei que a morte seria o melhor para mim, porque eu não ia suportar perder minha filha. Tudo escureceu. Quando eu acordei, uma mão segurava a minha e era a da minha mulher. Senti um alívio e ao mesmo tempo uma angústia porque eu não conseguia falar, tinha um tubo na minha garganta, era uma traqueostomia. Eu estava a um mês em coma. Eu queria saber da minha filha. Logo soube que Luísa estava bem e em casa. Eu fiz uma pequena cirurgia para retirada do tubo e fechamento da traqueo. Fisioterapia respiratória doía as vezes, a fono ajudava muito a melhorar minha fala que estava baixa e rouca. As semanas que passei no hospital até ir para casa foram horríveis e quando finalmente fui pra minha casa as dores eram piores, da fisioterapia e as emocionais também. Meu pai me mandou um bilhete me culpando e falando coisas horríveis sobre mim. Queria dizer que isso não me afetava mais, só que afetava sim. E para fechar com chave de ouro, ele se matou e deixou escrito numa bíblia que a culpa era minha. Ele fez com que o velório dele e a cremação fosse no Rio para ficar ainda pior a minha situação diante da sociedade, que pressionava para entender o que tinha acontecido de verdade. Minha mulher teve que reunir meus clientes e contar toda a verdade porque eu estava a ponto de perder minha carreira novamente. Com a pressão da mídia negativa, ela foi ao velório e a cerimônia de cremação e fará uma coletiva de imprensa e contar exatamente tudo que aconteceu. Eu estava sendo muito difícil, eu estava cansada e com dores, eu não tinha mais paciência pra minha filha, eu estava num estágio grave de depressão. Eu não queria existir, mas eu tinha uma esposa maravilhosa e uma filha linda que precisavam de mim. De manhã a Pri me informou que a coletiva tinha mudado para nossa casa, o advogado achou que ficaria mais íntimo e verdadeiro falar da nossa casa. Eram 10 jornalistas, divididos entre maiores jornais do Rio e São Paulo, TV e internet. Ela aceitou que fosse na nossa casa, mas que não expusesse nosso bairro, nosso condomínio, a fachada da nossa casa, nossa filha. Reuniram todos em uma das salas da minha casa, a babá ia ficar com a Luísa no quarto brincando, pra ela não descer. Eu decidi que eu deveria falar sobre isso, as pessoas precisavam ouvir a verdade da minha boca, da boca da acusada, então eu liguei pra minha mãe antes, ela tinha que saber tudo que aconteceria. Ela e a Priscilla se desentenderam no começo, quando tudo aconteceu, minha irmã acabou de certa forma envolvida nisso tudo, mas as arestas foram aparadas, e embora um pouco receosa, ela mantinha uma boa relação com a minha mãe, mas sabia que ela tinha suas reservas também. Acho que foi o trauma de tudo o que aconteceu. Eu não me meti, eu não tinha cabeça pra isso, eu não me envolveria em nada disso, afinal era com elas e elas resolveram da melhor maneira possível entre elas, sem me envolver.
Mãe: Natalie? Está bem minha filha? – perguntou já preocupada.
Eu: Eu estou ligando pra dizer que a Priscilla não fará a coletiva. Eu que farei e eu vou falar tudo que realmente aconteceu. Achei que deveria saber, já que provavelmente vai surgir seu nome. – suspirei.
Mãe: Eu entendo filha e você pode falar o que você quiser, está no seu direito e não é mentira alguma. Quer que eu vá até ai?
Eu: Não é necessário, senão vai aumentar a falácia então é bom não tumultuar muito essa situação, a gente se fala depois.
Mãe: Ok, eu te amo.
Eu: Até mais. – desliguei.
Pri: Quer esse vestido ou esse?
Eu: O azul marinho com preto. – ela me ajudou a me maquiar e me arrumar e me ajudou a descer. Os Jornalistas já estavam lá e ficaram muito surpresos em me ver daquela maneira. Ninguém tinha me visto, ninguém sabia exatamente o que tinha acontecido comigo e as expressões de espanto eram muitas. Eu tinha hastes numa perna, um braço engessado e ainda tinha algumas escoriações que não tinham sumido. Pri me ajudou a sentar numa poltrona e colocar minha perna num puff ali. Estava tudo perfeitamente harmonizado para a coletiva. O advogado da Priscilla que ia conduzir as intervenções e perguntas.
Pri: Quer alguma coisa?
Eu: Traz água pra mim, minha boca está seca.
Pri: Vou pegar – ela pegou a água eu tomei.
Eu: Podemos começar. – começaram a gravar.
Pri: Bom dia, meu nome é Priscilla Álvares Pugliese, eu sou esposa da Natalie Kate Smith Pugliese e a princípio eu a representaria nessa coletiva de imprensa, mas como ela decidiu falar por si, nada melhor que ouvir a verdade através da principal envolvida no caso.
Advogado: A primeira pergunta... – apontou para um jornalista.
Jornalista 1: Senhora Smith Pugliese... – eu o interrompi.
Eu: Não precisa disso... Só Natalie... Podem me tratar pelo meu primeiro nome.
Jornalista 1: Tudo bem... Natalie, uma pergunta que todos nós aqui temos e todos que ouviram essa história um tanto assustadora tem em comum é... O que aconteceu que levou a desfecho... Qual era sua relação com o seu pai?
Eu: Meus pais foram pessoas públicas. Minha mãe era vereadora até ano passado, e meu pai um deputado muito conhecido como vocês já sabem. Meu pai sempre prezou muito as aparências, a vida perfeita e intocada, uma família tradicional e reta. E eu era a curva dessa família. Eu sou uma mulher lésbica, e isso era um grande incômodo para ele principalmente, mas como eu sempre fui muito discreta, ele conseguia manter a fachada cristalina de família distinta dele. Meu pai deu sinais de ser um homem intolerante e horrível, quando a minha irmã engravidou. Ele a colocou para fora de casa, a deserdou, pagou para o pai do filho da minha irmã sair do país e a abandoná-la acreditando que assim, ela jamais tivesse saúde emocional para criar uma criança sozinha. Ele pagou também, para que minha irmã fosse atropelada e ela perdesse o bebê e é claro que o plano dele não deu certo. Uma ressalva sobre tudo que eu vou falar aqui e estou falando, eu tenho provas, e vamos entregar uma cópia de tudo isso a cada um de vocês, para que vejam a veracidade do que eu estou expondo... Enfim... Minha irmã saiu de casa, se virou sozinha e hoje é uma mãe maravilhosa, e uma profissional sensacional que nunca mais falou com o meu pai. Meus pais davam muitas festas em casa para os políticos famosos e amigos, e o deputado Rodolfo que todos conhecem porque ele está preso por estupro, pedofilia, tentativa de duplo homicídio, sequestro, lavagem de dinheiro e corrupção, era o melhor amigo do meu pai e ele vivia me assediando, onde quer que eu estivesse. Em uma dessas festas na casa dos meus pais, festa a qual eu não queria ir, porque era aniversário da minha irmã e queria estar com ela, eu bebi e bebi bastante e é claro sem perder a consciência. Ele se aproveitou de um momento em que ninguém estava olhando e se sentou ao meu lado no barzinho da festa pediu uma bebida para nós dois e me entregou a taça. Ele passou a festa toda me cercando. Eu aceitei, eu não aguentava mais as investidas dele. Eu tomei a bebida dele e sai de perto. Pouco tempo depois me senti exausta, com sono, mole e resolvi subir para o meu antigo quarto. – contei tudo exatamente como aconteceu e o silêncio era imenso naquela sala. A perplexidade era surreal. Havia contado de como descobri minha gravidez tardia, da minha vinda para o Rio de Janeiro, do abandono dele a minha mãe com câncer porque ele não queria uma mulher doente e careca ao lado dele e as pessoas ficavam cada vez mais chocadas.
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NATIESE EM: NOSSAS VIDAS
Fiksi PenggemarDuas mulheres com histórias diferentes, mas com segredos um tanto parecidos. Duas mulheres com personalidades diferentes e com intensidades tão iguais. Priscilla Pugliese, uma jovem empresária de muito sucesso que carrega o peso de realizar os dese...