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Houro arregalou os olhos encarando a mãe, que merda ela tinha ouvido?! Não ousando levantar a voz ela subiu, tinha uma semana desde que eles começaram a treinar com os alunos da 3-A e isso chegou aos ouvidos de sua irmã.

Era uma conversa unilateral que elas tinham, Toru falava e Houro fingia que ela não existia, as duas no tapete enquanto a mãe analisava alguns documentos sentada no sofá lançando sorrisos a Toru de vez em quanto, foi quando a irmã comentou sobre os treinos que a 1-C fazia e disse estar com inveja.

Houro sabia que coisa boa não viria ali quando sua mãe parou o que fazia as encarando, Toru continuou comentando sobre como Aizawa-sensei os fazia treinar além da conta e de como ela tinha inveja da irmã por se divertir tanto com sua turma e como ela também queria treinar com os senpais, que com certeza isso daria algum tipo de vantagem a Houro.

Isso pareceu ser a gota d'água para sua mãe que a acusou de querer roubar os holofotes de sua irmã no festival e de ser uma 'sanguessuga de atenção' antes de a colocar de castigo no quarto.

Houro não se importava nem um pouco com os pais demonstrando tanto desprezo por si, não machucava mais, não mesmo, então por que doía tanto? Por que queria chorar? Não que ela fosse, chorar só irritava mais seus pais e, na melhor das hipóteses, ela apanhava, então Houro apenas ficava na cama esperando que eles lembrassem dela e a tirassem do castigo.

Seu pai entrou  pouco depois de ela deitar e começou o sermão sobre como ela era uma invejosa que só queria acabar com todas as chances de sua brilhante irmã de ser uma heroína incrível antes de pegar seu celular e dizer que ficaria sem ele para aprender.

O som da porta batendo foi a quebra da barreira que segurava suas lágrimas e Houro se permitiu chorar, ela odiava tanto essa família! Por isso ela vinha fazendo bicos e alguns trabalhos aleatórios, saia pra passear com os cachorros das vizinhas, cuide do menino birrento de uma colega de seu pai, ajude uma senhora a fazer compras no mercado, ela fazia isso há anos e vinha juntando dinheiro o bastante.

Seu plano era sair de casa, ela vinha pesquisando, o dinheiro que já tinha dava para pagar três meses de aluguel no pior bairro de Musutafu, mas, sendo menor, ela não conseguiria emprego para continuar a se sustentar, e ela não queria parar no sistema, então ela aguentaria os anos que faltava, com 17 ela não precisava mais da permissão dos pais assinada para trabalhar e poderia sair daquele inferno.

- Houro - A voz de Toru a fez grunhir em frustração. Que morressem os três e sua vidinha perfeita da qual ela foi expulsa aos quatro anos! - Eu não sei o que deu na mamãe, ela foi tão injusta com você!

Houro zombou, a voz engasgada pelo choro.

- Não se preocupe tanto, heroína de merda, não foi o pior dos últimos anos.

- N-não precisa falar assim também, mamãe só deve estar nervosa com o trabalho, ela com certeza vai vir se desculpar, não é do feitio dela...

- O que?! - Houro se sentou de uma vez interrompendo Toru, as lágrimas caindo - Não é do feitio dela me tratar como uma pária?! Como se eu devesse ser menos do que você?!

- O-o que? Claro que mamãe não faria isso! Ela e o papai nos amam!

- Amam você, sua mimadinha de merda! Você nunca percebeu?! Estava tão presa em seu mundo cor de rosa que nunca notou?!

- N-notei o que?

- Olha ao seu redor caralho! Acha mesmo que eu algum dia quis todas essas coisas no meu quarto?! Uma réplica do seu? Toru, você é a única nessa casa que me conhece, você sabe que eu não gosto de coisas coloridas e de pelúcias! Você sabe muito bem que eu detesto meu cabelo curto e que eu nunca quis ter nada haver com heroísmo!

- M-mas você não está no curso e heróis.

- Mas estou na U.A.! Você realmente acha que eu queria? Essa era a sua escola dos sonhos e eu sou uma extensão sua! Eu entrei pra U.A. porque você comentou com a mamãe que se sentiria sozinha e ela decidiu que eu deveria estar lá e não atrapalhar o seu sucesso!

Toru arregalou os olhos, seus olhos rodando pelo quarto que era uma réplica do seu, a roupa que sua irmã usava também era parecida com a sua, apenas amarela ao invés do vermelho que usava, mas era a mesma jardineira e a mesma camiseta branca, como ela nunca tinha notado isso antes?

Toru queria ser uma heroína e não percebia que seus pais eram os vilões para sua gêmea...

- I-isso tudo, e-essas coisas, acontecem a quanto tempo?

- O que você acha? Desde que nossas peculiaridades surgiram, com uma empresa que presa peculiaridades de invisibilidade ter uma filha que não consegue sumir por inteiro é uma falha grave, uma falha que eles odeiam.

- Houro... - Toru abraçou a irmã chorando por ela, como ela nunca tinha reparado nisso? - Certo, espere aqui! Eu vou mudar isso pra você! - Toru saiu apressada.

Houro revirou os olhos, como se ela pudesse sair daquele inferno de quarto. Voltando a enterrar seu rosto no travesseiro ela pensou nos amigos, Izu-kun ficaria preocupado até segunda, quando ela contaria que estava sem celular, ele era tímido, mas era muito preocupado e sempre queria notícias dos amigos, ter certeza de que estavam bem, ainda mais agora que ele tinha saído do castigo que lhe foi imposto.

Toru voltou com sua bolsa parecendo animada.

- Vem, limpa esse rosto, vamos comprar coisas que você queira, papai me deu o cartão dele - Houro sentou confusa e a gêmea suspirou - Olha, eu não posso ir lá em baixo e gritar com eles, na melhor das hipóteses eles aumentariam seu castigo achando ser influência sua, então, assim como Aizawa-sensei ensinou, usarei do que tenho no momento para ajudar, vou usar meu privilégio com eles pra te ajudar.

Houro secou as lágrimas suspirando, Toru agir assim só aumentava mais o ódio por si mesma por odiar tanto a irmã, sempre soube que não era culpa dela e que não deveria a odiar como odiava os pais, mas quando era obrigada a cortar o cabelo, a ir a festas idiotas ou entrar em aulas de karatê só porque a irmã queria, ela sentia esse ódio aumentar, não queria essa vida pra si e a estava vivendo por culpa da gêmea também.

- Eu odeio fazer compras - Foi o murmúrio mal humorado que deu, o que fez Toru rir.

- Eu sei, você sempre reclama, mas dessa vez eu prometo que vai gostar, vamos comprar só o que você quiser, papai nunca verifica o que eu compro mesmo, vamos - Toru sentou a irmã e a maquiou para esconder o vermelho do choro.

Em meia hora as duas saiam, a mãe sequer reclamando de Houro sair do castigo já que era para algo que Toru queria, a aspirante a heroísmo sentiu a bile subir, como ela nunca notou isso?!

Céus! E pensar que só notava agora por conta de todas as aulas que tinha tendo, que, se fosse de outra forma, jamais notaria e Houro sofreria por muito mais tempo.

Todos Merecem FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora