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Quando Shouta voltou da patrulha, de madrugada, ele estranhou encontrar as luzes acesas e suspirou em exasperação em ver uma barraca feita de cobertores no meio da sala, quando abriu a porta da barraca encontrou Izuku enrolado entre Hizashi e Hitoshi e Oboro mostrando a Hitoshi algo em seu notebook, os dois concentrados em uma séria discussão.

- Isso é sério?!

- Shiii! Vai acordar os bebês! - Oboro olhou feio pro marido antes de se certificar que Hizashi e Izuku ainda dormiam.

- Vocês fizeram acampamento na sala e eu não estava aqui! - Shouta acusou, Hitoshi piscou surpreso com a fala e o moreno terminou de entrar na estrutura acolchoada sorrindo fechado ao ver seu saco de dormir ali.

- Desculpa, Zashi se animou com a ideia e as duas nuvens doces concordaram - Oboro beijou a bochecha do marido antes de voltar seu foco ao notebook.

- Shou? - Hizashi abriu um olho sorrindo bobo ao ver Izuku enrolado em si.

- Estou em casa, seu idiota - O moreno bufou enquanto ia se sentar com os outros querendo saber o que eles viam.

- Seu jantar está em um prato na geladeira, eu iria esquentar, mas não quero acordar Midoriya - O loiro explicou.

Hitoshi estava surpreso, para dizer o mínimo, os homens certamente eram mais carinhosos em casa do que na escola, mas nunca tinha os visto assim tão... íntimos.

Oboro sorriu para o arroxeado bagunçando seus cabelos antes de se erguer saindo da barraca que eles fizeram.

- Sensei - Hitoshi testou, ele quase não fala em casa, ainda mais com um dos adultos por perto, eles poderiam ser carinhos um com o outro, mas até onde eles seriam com Hitoshi? Aizawa ergueu o olhar para o garoto esperando que ele continuasse a falar - Por que estão nos ajudando? N-não que eu não seja grato é só que... não faz sentido...

Aizawa suspirou ouvindo Shirakumo, com a experiência que tinha, andar pela cozinha para esquentar o jantar para Shouta.

- Zashi, acha que Midoriya está bem para ser acordado? Se eu for contar isso será só uma vez.

- Little Boy? - Hizashi chamou baixinho, Izuku abriu apenas um olho verificando onde estava antes de se sentar coçando os olhos enquanto tentava conter um bocejo sonolento.

Foi o tempo de Oboro voltar para a barraca com yakisoba para Shouta que resmungou apensar de aceitar.

Shouta encarou os dois garotos, Izuku ainda parecia sonolento, inclinado para seu marido enquanto segurava a mão de Hitoshi que estava colado em Oboro e Shouta sentiu seu peito aquecer, esses dois meninos, tão parecidos consigo, tão machucados pelo mundo, era óbvio que Hizashi e Oboro tinham se apegado aos garotos.

- Meus pais morreram pouco depois de eu descobrir minha peculiaridade, fui imediatamente levado para um lar adotivo, um que claramente odiava o que eu tinha - Shouta começou, ele não gostava de lembrar o passado, ele deveria ser mantido lá, longe de sua atual vida, com dois homens maravilhosos, uma turma estressante e amigos sinceros, não aquele escuro que o perseguia em algumas madrugadas de pesadelos e insônia - Eu era vendado com frequência... surras e... - Ele desistiu, não conseguia falar sobre os castigos que recebia toda vez que o viam - Quando descobriram os abusos eu voltei para o orfanato e fui adotado logo depois, mas era sempre a mesma coisa, a escola também não era a melhor, a minha peculiaridade era dita vilã...

Shouta estava perdido em lembranças, sem encarar os outros, por isso não notou quando eles começaram a se mover, se assustando ao sentir braços passando ao seu redor em um abraço, um emaranhado de cachos verdes inundando sua visão enquanto Izuku o abraçava em conforto.

Hitoshi lançou um sorriso fechado antes de ir até eles também, as duas crianças consolando o herói profissional como se quem precisasse de ajuda ali fosse ele e não os dois.

- N-não precisa c-continuar contando, sensei, a-a gente entende agora - Izuku fungou.

- Izu tem razão, eu também iria querer cuidar de crianças que passam pelo que passei - Hitoshi assentiu, Shouta bagunçou os cabelos dos dois antes de eles serem interrompidos pelo choro de emoção de Oboro.

- São três gatinhos, Zashi!

- Isso merece uma foto! - Hizashi concordou e, antes que os outros pudessem protestar, os flashs aconteceram.

- Gatinhos... - Izuku sussurrou, o semblante pensativo - Snow! E-eu preciso pegá-lo com Dabi!

- Você convenceu o informante mais sangue frio do submundo a cuidar de um filhote por você? - Oboro questionou, uma risada ao ver como Izuku corou parecendo envergonhado disso.

- E-ele me devia um favor.

- Wont! Shou, olha só como o Little Boy é perfeito para o heroísmo underground! - Hizashi sorriu animado, Izuku corou ainda mais fazendo os outros rirem.

- Vocês dois serão heróis incríveis - Oboro concordou antes de bocejar - Mas para isso precisam se formar, então, Shou, termina seu jantar e vamos dormir porque amanhã ainda tem aula.

Todos concordaram e os dois adolescentes resolveram deitar perto de Aizawa que terminava seu yakisoba olhando feio para os maridos que não o deixaram ir até terminar sabendo dos péssimos hábitos alimentares do moreno.

Shouta teve que ir se ajeitar para dormir, mas todos decidiram dormir ali na sala mesmo, no mundinho que criaram, os cinco dormiram abraçados, com os dois adolescentes de cada lado de Shouta e os dois heróis mais extrovertidos nas pontas.

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No dia seguinte Izuku acordou bem, ele ainda sentia um medo absurdo de tudo ser ilusório, ele ainda não se achava merecedor de nada disso, ele ainda achava que no fim isso poderia ser uma grande piada, mas ele descobriu que era um pouquinho mais fácil sorrir ao ter acordado rodeado de pessoas que pareciam se importar.

Ele descobriu que seu coração podia se sentir quentinho ao ver os quatro deitados consigo, como sempre ficava quando ele deitava com mamãe quando mais novo, ele descobriu que sentia vontade de cozinhar, Izuku não tinha vontade de cozinhar desde que mamãe adoeceu e ali ele sentiu vontade de fazer algo especial para os quatro, para a sua família.

Izuku assobiava baixinho uma canção de ninar que veio a sua mente enquanto buscava os ingredientes em silencio quase absoluto, muito acostumado a ter que conseguir suas refeições antes que Kaachan o notasse, começando a trabalhar em um café da manhã tradicional para eles.

- O que está fazendo, Bunny? - Oboro se juntou a ele quase levando uma frigideira quente na cara pelo susto de Izuku.

- E-e-eu estou cozinhando - Izuku mordeu o lábio - B-Bunny?

- Oh, desculpe, sei que não gosta de apelidos - Oboro arregalou os olhos com seu deslize, mas Izuku apenas sorriu tímido e foi buscar os ovos na geladeira.

- E-eu gostei, m-mamãe chamava assim... - O menino não se virou, o rosto vermelho brilhante enquanto voltava a focar no café da manhã.

- Quer ajuda?

- P-pode pegar o leite, s-se não for incomodar?

- Eu ofereci ajuda, não incomoda de jeito algum, você gosta de cozinhar?

Izuku assentiu.

- M-mamãe trabalhava muito e-e cozinhar era um dos nossos momentos juntos... - Izuku sorriu bobo com as lembranças e, incentivado por Oboro, começou a contar sobre esses momentos.

Os outros acordaram com as risadas altas do herói da nuvem enquanto eles ajeitavam a mesa, Izuku sorrindo animado completamente relaxado enquanto contava sobre quando tentou cozinhar sozinho e acabou todo sujo de molho.

Shouta e Hitoshi levantaram resmungando sobre precisarem de muito café para aquele dia e Hizashi não conteve o sorriso de satisfação com a cena caseira a sua frente, sua família, que crescia gradualmente, tão fofa e preciosa para si, ele faria de tudo para a proteger.

Todos Merecem FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora