capítulo três.

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Liam e Niall me deixam em casa, depois de terem me levado para tomar um café para regular o açúcar no meu sangue. Sei que fizeram isso para tentar me distrair, e de certa forma sou grato pelos meus amigos estarem comigo neste momento, mesmo querendo estar sozinho.

Relutantemente eles vão embora, depois de eu frisar várias e várias vezes que quero ficar um pouco sozinho. Preciso colocar os meus pensamentos no lugar, preciso pensar, preciso respirar, preciso de ar. Entro em casa, e vou até o meu quarto, me sentando na cama. Olho em volta e sinto minhas lágrimas voltarem a cair.

Quanto é possível um ser humano chorar antes de entrar em colapso? Se existir alguma métrica para isso, eu creio que estou quase alcançando.

Eu tinha apenas dezessete anos quando conheci Aron. Eu era apenas um adolescente. Sei que ainda sou novo, mas recomeçar é um trabalho desgastante. 

ㅡ Harry, ㅡ minha mãe me chama e entra em meu quarto. Quarto esse, que tem só a cama, já que todas as minhas coisas estão empacotadas na garagem. Ela caminha em silêncio até estar sentada ao meu lado. Sua mão viaja para o meu joelho, e ela me acaricia com carinho. Tento desvincular o pensamento, mas tudo que vem em minha mente é a imagem de Aron de cueca e Louis, "o amante", sem camisa. ㅡ Eu não irei te perguntar como você está, porque sei como deve estar se sentindo. Eu só quero ficar aqui, com você. Eu posso?

Solto um suspiro tão alto que suponho que ela tenha ouvido.

ㅡ Claro, mãe. ㅡ Eu digo limpando as lágrimas. Essas malditas lágrimas que não param de cair dos meus olhos enquanto sinto meu coração secar um pouquinho mais a cada instante.

ㅡ Como foi a conversa? Ele ao menos deu uma boa explicação?

Solto uma risada sem um pingo de humor. 

ㅡ Claro. ㅡ Digo ironicamente ㅡ  A explicação é que ele estava tendo um caso com outro homem. Enquanto eu estava plantado no altar, ele estava no apartamento dele com outro cara.

Minha mãe me olha incrédula. Suas mãos vão para a boca e seus olhos verdes se arregalam. Ela ainda está com o vestido longo bordô. Presumo que ainda não teve tempo de tirá-lo.

ㅡ Eu não acredito que ele fez isso. ㅡ Ela diz com a voz trêmula. 

ㅡ Em menos de duas horas eu descobri que Aron é capaz de coisas que eu jamais acreditei que pudesse fazer. Como eu pude me enganar tanto, mãe? Quando é que isso melhora?

Seus braços passam por cima do meu ombro e ela me trás para perto, enquanto me aconchego em seu peito.

ㅡ Eu sinto muito, meu amor. Coração de mãe não se engana. Eu gostava muito dele, eu realmente torcia para que vocês dois dessem certo. ㅡ Ela diz acariciando as minhas costas. ㅡ Só que ao mesmo tempo, eu via que você se doava mais, filho. O brilho que existia nos seus olhos quando você olhava para ele, não existia nos dele olhando para você. Eu queria estar errada, eu torcia para que eu estivesse, mas pelo visto eu não estava.

ㅡ E por que você não me alertou? ㅡ Eu inclino o rosto para olha-lá. Minha mãe também tem lágrimas nos olhos. ㅡ Por que você não me disse que sentia isso?

ㅡ Harry, certas coisas não se diz. Eu não tinha o direito de interferir na sua vida, ou nas suas escolhas, filho. Existem coisas que só aprendemos se nos decepcionamos. Meu papel não é te impedir de quebrar a cara, você precisa disso para aprender e crescer… meu papel de mãe é te amparar quando isso acontecer. ㅡ Ela passa a mão em minha bochecha, limpando as minhas lágrimas. ㅡ  Eu tenho certeza que algo de bom surgirá de toda experiência, por mais que isso leve tempo. Toda a decepção nos ensina algo, Harry.

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