capítulo vinte e dois

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ㅡ Você quer mesmo ir? ㅡ Louis me olha como se eu tivesse acabado de falar o maior absurdo existente, e eu me arrependo de ter me oferecido para ir até a casa dele. 

ㅡ Você não estava me convidando, não é? ㅡ Dou um sorriso sem graça, querendo cavar um buraco no chão para me esconder.

ㅡ Não… quer dizer, estava…ㅡ Ele para de falar, e solta um suspiro exasperado, parecendo tentar regular a respiração. ㅡ Sim, eu convidei, eu só achei que você não iria aceitar.

ㅡ Ah, tá. ㅡ Digo desviando o olhar e sentindo uma pontada na boca do estômago. Fico com raiva de mim, por me entregar tão fácil. ㅡ É que, eu achei que você fosse querer que eu comprovasse mesmo.

ㅡ Você insinuou que eu não sou um bom pai, Harry. ㅡ Ele limpa a garganta e eu definitivamente deveria cavar um buraco no chão agora.

ㅡ Eu só disse que acreditava vendo… e nem sei porque eu disse isso para falar a verdade.  ㅡ Suspiro alto, e caminho até a mesa, colocando Jorge de volta na caixinha. ㅡ Quer saber, Louis… deixa isso pra lá. Podemos ir?

Olho para ele, e ele fixa o olhar no meu, me analisando por um instante. Ele então acena com a cabeça e também coloca Fred na caixinha.

Saímos da clínica e colocamos as caixinhas no banco de trás. Me sento e fico calado, olhando para a estrada à minha frente. Minhas bochechas não param de queimar, e eu estou morrendo de vergonha.

Louis com certeza sabe da vodka, sabe que eu não estava bêbado, sabe que eu quis beijá-lo… e isso me desespera. Ele com certeza deve saber que sinto algo por ele, por isso não questionou nada até agora. Sinto seus olhos me observando de soslaio, vez ou outra… mas não me arrisco a olhar de volta. Percebo que ele passou da delegacia, e eu me viro para ele franzindo as sobrancelhas.

ㅡ Você passou da delegacia, e eu preciso pegar meu carro. ㅡ Digo e observo os olhos dele se encontrarem com os meus antes dele voltá-los para a estrada.

ㅡ Ainda não estamos indo embora. ㅡ Ele diz e eu estreito os olhos.

ㅡ Pra onde está me levando? ㅡ Pergunto sentindo meu coração se acelerar.

ㅡ Pra minha casa. ㅡ Ele diz baixo. ㅡ Surrar nessa sua carinha, que eu sou sim um bom pai. ㅡ Ele dá um sorriso, olhando para a estrada e eu estremeço.

Não digo nada, apenas pressiono os lábios evitando sorrir. Esse filho da puta…

O apartamento de Louis fica próximo a delegacia, e eu percebo que é por isso que ele nunca se atrasa, e é sempre o primeiro a chegar. Ele entra na garagem, e eu observo o prédio. Não é nada luxuoso, mas também não é um prédio qualquer. O salário de delegado realmente deve ser bom. Ele estaciona, e eu saio do carro pegando a caixa de transporte de Jorge. Ele faz o mesmo com Fred.

ㅡ Preciso deixá-los afastados dos outros por enquanto. Fred precisa se adaptar primeiro. Vou colocar os dois no quarto de hóspedes enquanto você conhece os meus outros filhos. ㅡ Ele diz caminhando em direção a portaria e eu assinto, o acompanhando.

Subimos no elevador, e ficamos em silêncio até a porta se abrir no sexto andar. Louis sai primeiro e eu o acompanho.

ㅡ Não vou dizer para não reparar a bagunça, porque provavelmente não tem bagunça. ㅡ Ele me olha enquanto tira as chaves do bolso para abrir a porta. ㅡ Hoje foi o dia da faxineira vir, graças a Deus. Então, fique à vontade para reparar.

ㅡ Certo. ㅡ Digo envergonhado quando ele abre a porta.

Entro e percebo que o apartamento inteiro cheira a Louis. O seu perfume realmente impregna em todos os lugares. Olho em volta e percebo que é pequeno, e não tem muitos móveis. É apenas o essencial, mas não deixa de ser aconchegante. Louis parece ser o tipo de pessoa que não gosta muito de decoração. Tudo está em perfeito estado, e nada parece fora do lugar.

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