RELUTANTE

capítulo vinte e oito.

Ergo meu olhar lentamente apenas para me deparar com olhos azuis me encarando de perto. Os cílios pretos e longos piscam para mim e sinto minhas bochechas enrubescerem ao perceber que ele ouviu tudo. Ele ouviu absolutamente tudo o que eu disse.

Ele acaricia o meu rosto com as pontas dos dedos e eu estremeço.

ㅡ V-você ouviu tudo? ㅡ Gaguejo.

ㅡ Tudo. ㅡ Ele sussurra.

ㅡ E você não vai morrer?  ㅡ Minha voz sai trêmula, mas eu preciso saber, mesmo sabendo que ele está fora de perigo.

ㅡ Não florzinha, eu não vou. ㅡ Ele diz ainda me olhando.

Assim que confirmo que ele está realmente bem, eu dou um soco em seu braço, ouvindo ele soltar um resmungo.

ㅡ Aí meu braço, Harry. ㅡ Ele faz uma cara de dor e eu logo me arrependendo.

ㅡ Meu Deus, me desculpa, me desculpa… Foi sem querer. Foi na hora da raiva. Eu acertei seu ferimento? ㅡ Digo alisando o braço dele com as mãos trêmulas.

Ele solta uma risada baixa, negando com a cabeça, mas não me parece tão feliz. Meu coração estremece.

ㅡ Foi um tiro na coxa, Harry…aliás, não necessariamente na coxa… um pouquinho mais pra cima.

ㅡ Você tomou um tiro na virilha? ㅡ Digo espantado, arregalando os olhos e ele solta outra risada baixa.

ㅡ Não... ㅡ Ele solta um suspiro. ㅡ Foi na parte posterior na coxa, mas necessariamente na bunda. ㅡ Ele diz sério e eu solto uma risada.

ㅡ Você levou um tiro na bunda, Louis? Na bunda? E eu jurava que não poderia piorar... ㅡ Digo limpando as lágrimas remanescentes do rosto, enquanto minha risada vai cessando.

ㅡ Você acha que esse apoio, ㅡ ele aponta para o travesseiro embaixo do seu corpo ㅡ tá aqui a toa? O vagabundo me acertou quando eu estava me virando. Eu estava distraído e paguei por isso com um tiro na bunda.  ㅡ Ele diz, voltando a passar os dedos no meu rosto. ㅡ Eu só passei por cirurgia para retirar a bala. Eu vou ficar bem.

Eu sinto raiva por ele não ter me avisado que estava acordado e dou outro soco em seu braço, ouvindo os seus resmungos outra vez. 

ㅡ Seu filho da puta. ㅡ Digo sentindo meu rosto esquentar. ㅡ Por que você não me falou que estava acordado? Eu estava aqui aos pratos, e você não se importou em dizer nada, Louis? Ficou fingindo de morto?

ㅡ Nossa, eu fui tão carinhoso com você quando você levou um tiro, e quando sou eu, você me agride. ㅡ Ele solta um gemido em forma de risada. ㅡ  As máquinas estavam com meus sinais vitais, Harry. Não tinha como eu me fingir de morto. Se você tivesse prestado atenção, veria meus batimentos cardíacos aumentarem quando você começou a falar.

Engulo em seco, tentando acalmar meu coração. Eu estou tão nervoso, tão apreensivo. Agora, ele sabe de tudo. Ele sabe como eu me sinto e isso me apavora. Solto um suspiro preso em minha garganta ao pensar nisso, e ele continua:

ㅡ  Além do mais, eu queria ouvir cada uma de suas palavras… porque eu sabia que se você soubesse que eu estava ouvindo, você não diria nem metade das coisas que me disse.

Seu semblante volta a ficar sério, como poucas eu vi. Mordo os lábios sentindo meu coração se acelerar.

Nossos olhares estão presos um no outro, enquanto o silêncio nos rodeia. Seus dedos ainda estão pousados em minha bochecha, me acariciando de leve.

Sei que ele sabe que eu espero uma resposta, mas não forço. Espero até que ele se sinta preparado para me dizer o que quiser. Então, ele solta um suspiro longo, e eu preparo o meu peito para receber sua sentença.