epílogo

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Repasso os últimos meses repetidas vezes em minha cabeça, relembrando tudo que vivi para chegar nesse momento. A vida às vezes pode ser surpreendente, e acontece de forma tão avassaladora que assusta. Há dois anos atrás eu estava nessa mesma posição, mas tudo agora é diferente. Eu não tenho dúvidas, eu não tenho medo, eu não tenho um pingo de incerteza.

Daqui a pouco estarei dizendo o sim mais certeiro da minha vida.

Passo os dedos ajeitando o meu terno vermelho de linho e dou um sorriso para o espelho. Nossa história nunca foi convencional, por quê meu terno seria?

Ajeito os cachos que já estão ultrapassando meus ombros e limpo uma lágrima de emoção teimosa que insiste em escapar. Eu estou nervoso, mas não de uma maneira ruim. Estou nervoso porque sinto todas as borboletas ㅡ borboletas essas que um dia eu quis que desaparecessem ㅡ sobrevoarem por todo o meu corpo.

Levo a mão até a minha correntinha com o lacre de coca-cola, e solto um suspiro. Eu jamais tirei do meu pescoço, e nunca pretendo tirar. Quero tê-la sempre comigo, como lembrança daquele momento mágico, e da nossa história.

Ouço batidas na porta e me viro com o coração acelerado. Uma cerimonialista entra com uma caixa na mão, e sorridentemente ela me entrega.

ㅡ Seu noivo pediu que te entregasse. ㅡ Ela me diz, e eu agradeço com a voz trêmula.

Vejo ela sair e ouço a porta se fechar. Me sento na poltrona, colocando a caixa em cima da mesa ao lado. Meu coração bate tão rápido que tenho que acalmar minha respiração.

Em cima da caixa, há um envelope branco ornado com um laço dourado. Abro-o com cuidado e retiro o bilhete com as mãos levemente trêmulas. Solto uma lufada de ar, tentando me acalmar, antes de abrir o papel e ler o que está escrito.

São apenas dez palavras.
Dez palavras que fazem meu coração saltar dentro do peito.

"Estou ansioso te esperando no altar.
Te amo, minha florzinha."

Limpo as lágrimas que rolam em minhas bochechas, e levo o bilhete até o peito, suspirando enquanto meu rosto é tomado por um sorriso de alívio e felicidade.

Coloco o bilhete cuidadosamente em cima da mesa, e abro a caixa vermelha. Há várias outras pequenas caixas dentro, e vou abrindo conforme a ordem.

Na primeira caixa que eu abro, há um shampoo anti oleosidade dentro. Solto uma risada alta enquanto mando Louis ir a merda mentalmente. Pego o pequeno bilhete que está junto e leio:

"Para você cuidar da coisa mais linda dentre todas as outras coisas mais lindas que você tem."

Solto uma risada embargada pelo choro e nego com a cabeça, relembrando todas as vezes que meu cabelo foi assunto das nossas conversas e das nossas desavenças.

Posiciono a caixa com o shampoo na mesa, e abro a segunda caixa. Há uma lata de coca-cola gelada, e ao lado, um bilhete:

"Beba tudo. Não quero que tenha uma crise hipoglicêmica na hora do sim."

Solto uma risada, e abro a lata, tomando um gole. Essa é a coisa que mais me lembra Louis, e tenho certeza que, mesmo se eu perdesse a memória, eu ainda sim, me lembraria dele quando visse ou bebesse uma coca.

Dou outro gole e abro a terceira caixa. Há um bombom, junto com um bilhete. 

"Só para não perder o costume."

Mordo os lábios sorrindo, e abro a próxima caixa. É uma tulipa vermelha natural. Linda e perfumada.

"Uma flor para a flor mais linda e mais preciosa do meu jardim."

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