capítulo dez.

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ㅡ Como você está se sentindo hoje, Harry? ㅡ Dr. Antony me pergunta e eu paro para pensar.

Os últimos dias têm sido bons. Tirei a tipóia e consigo movimentar meu ombro sem sentir muita dor. Troquei o número do meu celular, e joguei o antigo chip fora. Não tenho pensado em Aron com tanta frequência. Tenho aprendido a ficar sozinho, com a minha própria solidão, por mais que às vezes ela me machuque. Eu e Louis interagimos somente o necessário. Não tenho tanta vontade de chorar como eu tinha.

Acho que estou melhorando..

ㅡ Estou melhor. ㅡ Respondo firme.

Dr. Antony levanta os olhos do caderno e me olha com um sorriso terno nos lábios.

ㅡ Você nunca disse a palavra melhor em uma consulta nossa. ㅡ Ele diz. ㅡ Você sempre dizia "estou indo" ou "estou ok", mas, nunca utilizou melhor para definir. Acredito que temos um avanço, estamos em em progresso, Harry.

ㅡPode ser que sim. ㅡ Sorrio de volta.

ㅡ Aconteceu mais alguma coisa depois do que conversamos na última consulta?

ㅡ Não. Nada de relevante que eu me lembre.

ㅡ E como estão as coisas no trabalho? Com Louis?

Dr. Antony sabe de Louis, afinal, ele foi mencionado várias e várias vezes durante as minhas sessões de terapia. Nas primeiras vezes, por ser amante de Aron. Depois, por ser o meu chefe. Agora, por simplesmente ser um pé no saco.

ㅡ Está normal. ㅡ Respondo. ㅡ  A gente se evita o quanto pode.

ㅡ E você tem se sentido seguro lá? Tem sentido alguma espécie de ansiedade? Medo? Pânico? ㅡ Ele ajeita os óculos enquanto me analisa.

ㅡ Não. Eu gosto de trabalhar naquele departamento. Inclusive, tenho feito amizades. Zayn é um doce de pessoa, e agora, tenho me aproximado também de Dean, mais conhecido pelo o último nome, Feyden. Ele também é um doce.

ㅡ E alguns dos dois te causa algum tipo de sentimento? Que extrapola a amizade?

Paro para pensar. Ambos são lindos.
Zayn é uma beleza mais exótica. Feyden em contrapartida, é comum, mas não deixa de ser bonito.

ㅡ Acredito eu que não.

ㅡ Certo. ㅡ Ele cruza as pernas e se inclina um pouco. ㅡ Chegará um momento, Harry, que você vai voltar a gostar de alguém. As barreiras que você está construindo em seu coração vão começar a tremer. É natural que você repele qualquer tipo de sentimento desse tipo, você sofreu uma grande decepção. Mas, acredite em mim quando eu digo que haverão pessoas pelas quais vale a pena derrubar as muralhas que demoramos tempo demais construindo. Quando isso acontecer, não se impeça de viver. Todos aqueles que entram em nossa vida, irão nos decepcionar de uma forma ou de outra, é o curso dos sentimentos. Somos diferentes, pensamos diferentes, temos sonhos diferentes. A diferença é que alguns vão saber reparar os danos, e outros não. Um coração partido ainda pode bater forte por um outro alguém.

Apesar de absorver as palavras que ele acabou de me dizer, eu ainda tenho uma certa relutância. Não acredito que eu consiga me envolver com mais ninguém. Talvez seja um trauma passageiro, mas só de pensar em me entregar, já me bate uma ansiedade. Posso até ficar com outros caras, mas me apegar, não penso tão cedo.

ㅡ Certo. ㅡ Respondo.

ㅡ Você tem escrito os seus pensamentos no caderno que Gemma te deu? ㅡ Ele pergunta, e eu penso em mentir, mas acabo sendo sincero.

ㅡ Tenho esquecido. ㅡ Digo envergonhado.

ㅡ Tente não esquecer, Harry. É uma boa maneira de você exteriorizar sentimentos que talvez você não tenha coragem de dizer em voz alta. ㅡ Ele diz me entregando um bloco de notas novo e eu assinto. ㅡ Vou diminuir as nossas sessões. Não vejo mais a necessidade de duas sessões por semana. Passaremos a nos ver apenas uma vez na semana. O outro dia, que era para você estar aqui, use para fazer algo que você goste. Assista um filme que você gosta, caminhe pelo parque, jogue algum jogo, tanto faz, mas faça algo que você goste.

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