capítulo oito.

35.4K 4.5K 11.7K
                                    

Meu sangue está começando a esfriar e começo a ter um choque de realidade. Estou sozinho em uma ambulância porque levei um tiro em uma operação que eu não deveria ter me oferecido para ir. 

Minha adrenalina começa a abaixar e começo a me desesperar. A paramédica de cabelos grisalhos percebe a minha agitação e toca meu pulso de leve. 

ㅡ Peço que o senhor fique calmo. Me chamo Chelsea, sou paramédica de resgate e estamos te levando para o hospital de Doncaster. O senhor está com um ferimento de raspão por arma de fogo no ombro direito, próximo ao músculo deltóide. Como o senhor está se sentindo? 

Respiro fundo e fito o teto da ambulância. A luz forte faz meus olhos doerem. Meu corpo treme e meu estômago embrulha. Fecho os olhos com força. 

ㅡ Eu sou hipoglicêmico. ㅡ Digo baixo. 

Abro os olhos e observo Chelsea assentir. 

ㅡ Vou medir a sua glicose. ㅡ Ela diz, buscando o aparelho. Instantes depois sinto uma picada no dedo, e espero. ㅡ Realmente, senhor Styles, o nível está baixo. Irei te dar glicose via oral, isso fará o senhor se sentir melhor. 

Assinto e tento respirar. Conto as minhas respirações enquanto reparo no teto da ambulância, desviando os olhos das luzes. Meu ombro lateja, e eu finjo não notar a dor.

Que merda eu estava pensando? 

Suspiro fundo e fico irritado comigo mesmo. Instantes depois, Chelsea me dá glicose e sinto o gosto ruim na boca. Enquanto inclino a cabeça para tomar, evito olhar para o estrago em meu ombro para não me agitar ainda mais. 

ㅡ É muito grave? ㅡ Sussurro. ㅡ Vou ficar com muita sequela?

Ela me lança um sorriso carinhoso, e toca meu punho mais uma vez. 

ㅡ Não. Não irá ficar nenhuma sequela, e não é grave. O senhor teve sorte, pegou de raspão. Iremos te levar ao hospital para fazer a limpeza dos fragmentos de pólvora, e para fazer um curativo. Não será necessário pontos ou cirurgia. É um ferimento simples, mas demanda cuidados. O senhor provavelmente ficará internado hoje em observação, mas deve ser liberado amanhã com uma tipóia. 

Tento absorver as palavras dela para tentar me acalmar. Fecho os olhos e deixo o cansaço me consumir. Minha mente está oca, por sorte não penso em mais nada quando chego ao hospital. 

Sou levado de maca para a emergência, e em instantes estou sendo atendido por um médico mais velho e por uma enfermeira.

Ela me pergunta meus dados para registrar a minha entrada no hospital, acionando o plano de saúde. Cedo a ela as minhas informações, e sou levado pelo médico até uma sala para fazer a limpeza do ferimento. Não sinto muita coisa, já que me dão uma anestesia local. Minha camisa é abaixada até a cintura, e eu mais uma vez evito de olhar, principalmente quando retiram o torniquete que Louis fez com a camisa. A limpeza e o curativo são feitos rapidamente e eles colocam aparelhos em meu corpo para monitorar os meus sinais vitais. 

ㅡ Vocês ligaram para os meus pais? ㅡ Pergunto à enfermeira que está anotando as informações em meu prontuário. 

ㅡ A recepção liga para o seu contato de emergência. Não se preocupe. ㅡ Ela me lança um sorriso. ㅡ Eles já devem estar vindo. O senhor passará a noite em observação por precaução.

Assinto de prontidão e ela me deixa sozinho no quarto. Me arrependo de não ter ligado para minha mãe eu mesmo, ela provavelmente irá surtar com a notícia de que levei um tiro. Me ajeito na cama e por sorte (diga-se remédios e anestesia) eu não sinto nada. 

Começo a repassar a noite em minha cabeça. O que eu estava pensando? Por que me submeti a isso? 

Sei que não tenho o treinamento apropriado e nem a experiência para ir para uma operação desse porte, e não deveria ter me arriscado por puro capricho. Se o cara tivesse mirado melhor, poderia ter me dado um tiro na cabeça e eu estaria morto agora. A ideia faz meu coração palpitar. Por sorte, ou ele era ruim de mira, ou estava ocupado demais tentando fugir. De qualquer maneira, sou grato por qualquer uma das alternativas. 

RELUTANTEOnde histórias criam vida. Descubra agora