Mila foi embora. Ela acordou de repente,com pressa e cheia de compromissos, tinha que ir em tal lugar, resolver tal coisa, falar com tal pessoa, e eu tal como fiquei, sozinho e sem despedida. Olhei deitado ela sair, e ir embora.
Não sei se foram as circunstâncias, ou se foi o desprazer dos últimos acontecimentos, mas peguei o meu caderno que usava para escrever mais cheio de emoções do que o normal, e descarreguei tudo que transbordava dentro de mim.
Todos os meus sonhos, até os desconhecidos, todas as minhas vontades, os meus segredos, os meus amores, as minhas piores partes, e piores faces, e os meus sintomas mais estranhos. Coloquei todos eles em pessoas inventadas, todas as experiências bem vividas e mal aproveitadas, foram todas para lá.
Viraram uma história de amor.
Mas por algum motivo não tinha final, não via maneira de dar um fim. Na verdade não queria. Ou simplesmente não conseguia.
Resolvi parar por um instante, as ideias não fluíam como deviam, e os meus pensamentos se misturavam com meus sentimentos de uma maneira perturbadora.
Alguém bateu a porta. Eu disse que podia entrar.
- Noah, seu pai quer falar com você.
Me levantei no mesmo instante, e com caderno e tudo fui em direção ao quarto dele. Não nos víamos muito, meu pai estava sempre cansado, ou doente demais. Eu me esgueirava pelos cantos da casa meio solitário, e escapava ás vezes para minha mãe, alguns dias passava com Wall,já outros fugia para mim mesmo. Esses dias eram os mais difíceis, os mais solitários, mas ironicamente, eram os mais claros, aqueles em que entendia exatamente o que estava acontecendo. Aprendi que se eu entender o que acontece comigo, o resto do mundo passa a ser apenas um borrão, a vida fica forte, e as razões se intensificam.
E apesar de tudo, os momentos que eu passava com ele, eram os mais profundos, cheios de significado e de sabedoria.
Até seu silêncio me ensinava.
E quando falava, era como um sopro quente de verão; não importa o quanto está quente, um sopro é sempre bem vindo. E assim era sua companhia, não importava se tudo não fazia sentido, ou se era complicado, sua presença era sempre bem vinda.
Ele era o único que ouvia meu romance. Lia palavra por palavra, como se recitasse os 10 mandamentos de Deus, como se estivesse lendo a receita da paz mundial.
Gostava quando ele sorria fraco, e quando suspirava. Mas amava suas críticas, o modo como suas sobrancelhas se levantavam, e quando ele dizia:
"Não acha que isso está certo demais ? Amor não é sobre as coisas darem certo, é sobre as coisas funcionarem apesar de tudo "
Amava isso. Amei sua ideia de amor.
E logo quando vi isso. Percebi que meu amor não era tão amado.
Meu coração havia sido deixado aos poucos.
E o amor já não era mais o mesmo.
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Cartas de um Suicida
RomanceAs cartas a seguir são um segredo,mas porque ja temos conversado,e eu vi que você é alguém de confiança,vou mostra-las, e as trate como um segredo, conte somente aos mais íntimos. Para que eles contem aos seus mais íntimos, ate que não seja mais seg...