Segunda Carta

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A gente vê a vida,e parece que algumas pessoas simplesmente nasceram para nada,elas continuam empurrando suas vidas e esperando por algo que não vai acontecer,eles preenchem esse mundo de desgosto e solidão.

Um exemplo perfeito disso é a minha mãe,que não tem um dos empregos mais honrosos,paga aluguel de uma casa de merda com 3 cômodos,e aos domingos vai a igreja para se redimir com ela mesma,ou ter a falsa impressão de que seus pecados da semana foram perdoados.

Eu ainda me lembro muito bem de quando eu estava na escola e uns meninos idiotas me chamavam de "filho da puta",e não com o sentido de ofensa,mas como se fosse uma droga de apelido,no começo eu arrumava confusão,procurava briga , e mais de uma vez minha mãe precisou ir á escola porque eu havia socado tanto a cara de um filho da mãe que os olhos nem se abriam, mas isso era só no começo,porque essa era a verdade certo ?

 Eu sou um filho da puta,a vendida da rua Augusta ,porque afinal eu estava ficando irritado? Eu não podia mais usar a desculpa de defender a honra da minha mãe , uma vez que ela nao tem honra a ser defendida,foi então que eu me conformei,e me arrastei até o 2º ano,onde decidi desistir... 

Era o certo a se fazer, porque veja bem, eu nunca consegui amigos na escola,nem o apresso dos professores, e eu sempre fui mediano quando se trata de notas, e seria injusto culpar somente a minha mãe por isso, eu tambem tenho minha parcela de culpa, eu nunca quis me misturar de verdade, tudo era tão eventual e simplório, nem as garotas mais bonitas eram tão bonitas,e os inteligentes não sabiam de muita coisa, no final eu vi que a escola não me ensinaria nada de útil,eu não sobreviveria com as Leis da física ou com os ensinamentos de Sócrates.

 Nada disso me ajudaria a sair do fundo desse poço. Faz 9 meses que eu não vou á escola, em vez disso acordo cedo e vou caminhar,na verdade desenvolvi esse hábito a pouco mais de um mês,é interessante como a cidade parece morta antes das seis, e enquanto a minha mãe pensa que eu estou na escola eu na verdade estou na rodoviária olhando as pessoas indo e vindo e imaginando o que as traz aqui, ou o que as faz ir embora. 

Isso é o que me move todos esses dias,o propósito desconhecido de todas essas mentes ativas,eu acordo pensando em que tipo de pessoas eu vou me deparar e durmo pensando em todas elas.

 É engraçado,mas ao mesmo tempo é vazio.


Cartas de um SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora