Cartas de um Suicida

A fumaça e A chuva.

Tudo que estava acontecendo me fez lembrar de um livro que eu havia lido a muito tempo atras,era sobre um garoto que sonhava em voar pelo mundo,ele se imaginava livre pelos céus,a brisa fresca em seu rosto e as nuvens o envolvendo,ele passou toda a sua infância contando ás pessoas sobre seu sonho,mas ninguém acreditava que ele pudesse se concretizar. Ninguém conseguia imaginar um menino tão pequeno e sem jeito voando por todo o mundo. Sua mãe o repreendia constantemente e seu pai não gostava nem de ouvir sobre aquela bobagem que parecia impossível.

Mas não importava, o garoto acabou guardando aquele sonho bem lá no fundo do seu coração,e passou a somente contar seus planos ás estrelas,ele ficava horas acordado,conversando com a lua e com o vento,e acabou por desenvolver essa intimidade com o céu.

O menino acabou crescendo,e seu sonho cresceu com ele.

E não demorou muito,lá estava ele.

A primeira tentativa foi falha, e na segunda quase morreu.

Mas na centésima primeira,quando ja tinha quase 60 anos ele levantou voo,não era como ele pensava,não era mágica.

Mas era seu sonho virando realidade.

Eu não sei porque, mas foi isso que me veio a cabeça. Ela me disse que estava grávida,e eu comecei a me lembrar da história,e tudo que eu pude fazer foi dar um abraço apertado no meu primeiro amor,e dizer " Se cuida".

Não achei minha bicicleta.

Foi levada.

Mas não era como se aquilo tivesse estragado o meu dia.

Eu andei reto,sem me dar conta do meu estado,calças de pijama,peito exposto,era sol como de costume,e meu all star contrastava com o resto de mim.

Procurei mesmo sabendo que não ia encontrar,algum cigarro em meus bolsos. Eu estava sem dinheiro,sem roupas,sem cigarro,e sem telefone.

Muito longe de casa,muito perto do meu lar. Eu nunca gostei de mudanças repentinas. Nunca fui fã de surpresas extraordinárias.

Eu gostava de viver nas bordas do sistema,não era centro,mas também não estava na média. Eu me equilibrava nas bordas.

E se eu vou embora,carrego teus defeitos junto com seus descasos,faço um embrulho bonito e te guardo no quartinho do meu coração.

Disquei o número do meu 'melhor' em uma chamada a cobrar.

Ele não aceitou de primeira.

Na segunda tambem não quis.

Mas na terceira lá estava ele irritado.

- Se voce não tem dinheiro pra me ligar eu não sei o que esta querendo comigo seja quem quer que for ! - Aquela mesma arrogância de sempre não me assustou.

- Wall ?

- Noah ! Cara ! Oi ? Alô ?

Fiquei calado por um instante.

- Você esta ocupado ?

Ele riu.

- Eu ? Ocupado ? Claro que não ! Onde a gente se encontra ?

Dei as coordenadas de onde eu estava,e ele não questionou.

Era o Wallace de sempre.

Esperei alguns 30 minutos para que um fusca azul,bem conservado businasse e me tirasse do torpor em que eu havia me colocado.

Wallace saiu do carro e me deu um sorriso todo cheio de amizade.

- Esta tudo bem cara ?

- A gente pode sair daqui ?