O apoio

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No dia seguinte,me levantei cedo,meio zonzo fui à cozinha,preparava meu café quando vi minha mãe,estirada no sofá,ela dormia pesadamente,como se não tivesse forças nem para chegar ao quarto. Pensei em acorda-la,mas achei melhor deixar que ela acordasse quando estivesse melhor. Em vez disso,peguei um travesseiro e coloquei debaixo de sua cabeça,fiquei com medo de que ela acordasse,mas me dei conta de que nem se uma manada de elefantes passasse por ali ela acordaria, esse pensamento me fez lembrar de Grande Mike roncando em seu escritório no horário de almoço, Wall havia filmado e colocado no youtube, ele entitulou o video de "Baleia em seu escritório" e o video teve umas 150 visualizações,mas mesmo assim foi engraçado,esbocei um sorriso, minha mãe abriu os olhos e com a voz cansada disse:

- Seu sorriso esta lindo Noah.. Mamãe te ama..- notei que seu hálito cheirava a alcool.

Me afastei atordoado,não queria pensar em minha mãe bebada por aí,me concentrei em terminar de me arrumar e não chegar atrasado no trabalho. Deixei um bilhete dizendo onde estava o dinheiro para as compras do mês,e sai o mais rápido que pude.

Tentei andar rápido,mas no final terminei correndo e trombando com as pessoas que estavam no meu caminho, e se não fosse isso eu teria perdido o onibus,o que seria muito ruim. No onibus, me sentei,e respirei fundo para acalmar os meus batimentos cardíacos,realmente meu condicionamento físico não estava dos melhores, então olhei para o lado e vi uma mulher em pé, parecia ter uns 30 anos mais ou menos, seus olhos estavam cansados,vestia um uniforme escuro e sua blusa tinha grandes manchas de suor, lembrei da minha mãe, me senti estranho,meio triste por ver como algumas pessoas precisavam dar tanto suor para poder sobreviver,decidi me levantar e oferecer meu assento, ela me olhou desconfiada quando a chamei,mas me devolveu um sorrriso agradecido quando viu que eu estava dando meu lugar.

A mulher agradeceu e depois de alguns minutos acabou pegando no sono. Acabei ficando em pé,quase caí algumas vezes,mas no final acabei achando melhor não ter vindo sentado, quando desci do onibus ainda podia ver a mulher dormindo,ela agora havia apoiado sua cabeça no banco e eu podia ver que ela tinha se entregado ao cansaço ja que sua boca estava ligeiramente aberta.

Segui a pé,quando cheguei vi Mila,a secretária que havia me ajudado no meu primeiro dia, sentada na mesa da recepção, ela estava com os olhos meio pesados, e quando ela sorrriu percebi que, ou ela havia chorado a noite inteira ou estava prestes a chorar.

- Hã.. Tudo bem com voce? - Eu perguntei cauteloso.

-É.. eu.. eu estou bem,quer dizer... Ta tudo bem..tudo beleza..- ela suavizou o rosto e deu um sorriso,mas sua voz estava trincada e seus olhos ja estavam bem marejados.

Eu puxei uma cadeira pra perto dela,respirei fundo e disse:

- Mila,voce não parece estar bem,eu só quero ajudar.. Voce é muito legal e..-

Antes que eu pudesse terminar de falar, Mila começou a chorar pesadamente, e não era um choro nada silencioso,eu não sabia o que fazer, ou falar, eu nunca achei que pudesse estar na posição de consolador,mas la estava eu, com uma garota se derramando em lágrimas e tudo que eu conseguia fazer era ficar imóvel, decidi então colocar a mão em um de seus ombros,quando fiz isso ela olhou de novo pra mim, eu ja estava recuando quando ela me abraçou,apoiou sua cabeça em um dos meus ombros,e continuou a chorar, eu fiz o melhor que eu pude, retribui o abraço e permaneci sem dizer uma palavra.

Quando ela parou de chorar,nós nos distanciamos,eu ofereci um lenço de papel,ela me agradeceu,tambem pediu desculpas. Eu não sei o que me deu,mas quando vi ja tinha feito. Coloquei minha mão por cima da dela,assim como eu queria que minha mãe tivesse feito comigo todas as vezes em que me desesperei,coloquei minha outra mão em seu ombro,olhei em seus olhos e disse:

-Vai ficar tudo bem.

Ela ficou me olhando por um bom tempo,mas acho que foram só alguns segundos. Então eu me levantei e disse:

- Se precisar conversar ou.. qualquer coisa.. Voce sabe.

Ela sorriu e assentiu com a cabeça.

Durante o dia todo fiquei repassando aquele momento em minha cabeça,e em todas as 200 vezes eu consegui imaginar mil coisas mais legais pra dizer. O próprio Wall me deu pelo menos 10 exemplos de todas as frases que eu poderia ter usado.

Mas no final,acabei chegando a conclusão de que ela não queria ouvir nada,ela só queria ter alguem em quem se apoiar. Pelo menos por um tempo.

Cartas de um SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora