O perdão Que Desejamos.

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Acordei leve naquela manhã, estava um tempo chuvoso, as nuvens pareciam escuras no céu e pequenas gotas ameaçavam cair. Olhei ao redor e vi que meu quarto estava uma bagunça. Era quase embaraçoso. Olhei para o relógio e vi que tinha acordado algumas horas mais cedo. Ainda não sei como ou porque faço isso, eu sempre acordo cedo, não importa se estou esgotado, não importa se o que eu mais quero é dormir, nada disso importa, porque uma vez que abro os meus olhos eles não se fecham e não se tranquilizam facilmente.

Decidi que aproveitaria essas horas de vantagem para arrumar meu quarto. Me levantei silenciosamente para não acordar minha mãe. Nossa casa não era muito grande, na verdade ela era bem pequena, de modo que qualquer passo em falso pode significar um barulho que ocupe a casa toda. Então com cuidado e rapidamente fui ao banheiro. Lavei meu rosto, escovei meus dentes. Me olhei no espelho, e ao ver minha cicatriz me lembro do beijo delicado de Mila, isso me aquece, e faz brotar um sorriso em meu rosto.Engraçado como algumas pessoas podem fazer suas cicatrizes mudarem de significado.Olhava agora pra mim mesmo e só conseguia sorrir, me lembrando do toque suave de suas mãos em meu rosto.

Volto para o meu quarto e me deparo com uma bagunça de meias e blusas no chão, junto com algumas folhas amaçadas que eram rascunhos de cartas que não deram muito certo. Comecei por deixar o chão visível. E aos poucos a montanha de roupas e objetos era gradualmente desfeita. E depois de mais ou menos uma hora de limpeza meu quarto estava habitável.

Coloquei em cima da minha mesinha o vale tatuagem que o Wall havia me dado. Eu até hoje fico intrigado sobre como Wall consegue as coisas de graça assim tão facilmente. Um dia ele me disse que fazia parte do charme pessoal dele, e é claro que eu não engoli isso fácil, mas se tratando de Wall eu realmente espero de tudo.

Uma vez que a minha pequena faxina havia acabado, tomei um banho rápido, coloquei meus jeans de sempre e uma de minhas blusas, estava na cozinha tomando meu café e pensando no que eu poderia fazer. Era domingo, e pela primeira vez em muito tempo eu não queria ficar em casa trancado no meu quarto.

Eu queria viver.

Percebi que eu não podia me comunicar com ninguem, e que eu era possivelmente o único adolescente de 17 anos que não tinha um celular. Ri baixo, ainda era cedo. Minha mãe ainda dormia pesadamente, e eu não quis acorda-la.

Decidi pegar um dos cadernos novos que minha mãe havia comprado, peguei tambem alguns lapís e canetas, enfiei tudo em uma bolsa e saí.

Eu andava escrevendo muito, acabei que tornei um hábito escrever essas cartas, e tambem escrevia outras coisas, algumas histórias inventadas, tentei alguns poemas, mas eles nem sempre saíam muito claros, e eu me via obrigado a amassar o papel e joga-lo fora.

Estava andando pelas ruas e pensando sobre o que iria escrever, o tempo ainda estava nublado, e rajadas de vento vinham de encontro ao meu rosto. Tremi um pouco mas continuei.

Acabei me sentando em um banco de praça qualquer. Não havia uma alma viva no lugar, e então respirei fundo, e comecei a descrever o local. Pouco a pouco a praça ganhou vida no papel e não me lembro muito bem do tempo que se passou, a verdade era que quando escrevia entrava em um estado nebuloso, e parecia que o tempo parava pra mim, as coisas dentro de mim ficavam claras, enquanto o ambiente e tudo que me cercava parecia embaçado. Ainda é assim hoje, ainda sinto esse torpor. E confesso que gosto desta sensação.

Saí do meu transe quando começou a chover. Guardei o caderno imediatamente e corri. Tentei achar algum abrigo, mas era domingo de manhã, e não tinha nada aberto. Acabei desistindo e aceitando a chuva. Não me importei muito em me encharcar, ate gostei. A chuva não estava grossa, ela batia no asfalto gentilmente, fazendo com que o seu barulho fosse relaxante.

Cartas de um SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora