12• Carta Cinco

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Pode ser difícil de acreditar, mas realmente estudamos a tarde toda.

Eram sete da noite quando meus amigos foram embora, e agora estou falando con a Dandara pelo telefone.

― Descobriu algo? ― Perguntou ela, do outro lado da linha.

― Como assim? ― Me deitei de barriga para cima na minha cama e olhei para o teto do meu quarto.

― Sobre o garoto do baú! Descobriu algo sobre ele?

― Bom... ― Dei uma pausa, pensativo. ― Ele faz aula de dança e é uma grande leitor de suspenses. ― Sorri de um jeito bobo, mas pisquei algumas vezes e fiquei sério.

― Ui, ele parece interessante. ― Minha amiga falou. ― O que mais?

― Ela tem um coelho chamado Lopez, em homenagem à mãe.

― Informação super útil. ― Falou de um jeito sarcástico e riu. ― Espere, você disse Lopez?

― Sim, por quê?

― Já ouvi esse sobrenome antes, depois pergunto para a minha mãe. ― Deu uma pausa. ― Só isso até agora?

― Basicamente.

― Quando souber mais coisas, me diga. Ele parece ser legal.

― Também acho. ― Sorri ladino.

― Opa! Têm alguém aí apaixonado por uma pessoa que nem conhece?

― Eu só quero conhecê-lo logo! ― Rebati, pondo o braço esquerdo embaixo da cabeça.

― Quantas cartas você já leu?

― Quatro.

― Bom, sei que você deve estar louco para ler a quinta carta, então vai lá! Eu tenho que jantar agora mesmo.

― Sério? Valeu!

― Até segunda-feira, campeão caçador!

― Até! ― Respondi e encerrei a ligação.

Tirei o baú de dentro do armário e o pousei em cima da cama.

Tranquei a porta e me sentei. Abri o objeto de madeira e tirei de lá o envelope de número cinco.

O abri e comecei a ler a carta.

CARTA CINCO

Olá, você de novo?

Achei que à essa altura do campeonato, você já tinha desistido de mim, mas que bom que não o fez.

Mas estou lhe dando mais uma chance, porque a minha vida pode parecer legal, porém acredite, ela não é.

Se bem me lembro, a charada cinco estava toda em francês e ela falava que a chave se encontrava em um livro de história, na parte que contava sobre a Revolução Francesa.

Isso porque a minha matéria favorita é história e eu faço um curso de francês.

Acho que se algum dia eu viajar para fora do país, iria para a França.

Não por ser o país da moda ou porque é um lugar romântico, mas sim porque eu admiro a cultura. Músicas, gastronomia, pontos turísticos e etc.

Faço aulas de francês desde os meus 12 anos de idade, um pouco antes de mudar de escola.

Eu acabei mudando de colégio quando iria para o sétimo ano.

Mudei de escola e fui para outra. E como o meu colégio antigo tinha um ensino mais avançado do que o atual, acabei ficando um ano adiantado, assim indo para o oitavo ano ao invés do sétimo.

Minha mãe ficou muito orgulhosa de mim, mas eu não fiquei exatamente assim.

Com esse lance de ser um ano adiantado do que os outros, alguns alunos me chamavam de nerd e de quatro-olhos por usar óculos.

No começo, eu levava na brincadeira, até olhar o meu reflexo no espelho e me deparar com um garoto de óculos quebrados e o rosto dominado pelas lágrimas.

Eu achava que a comida podia, de algum modo, absorver a minha tristeza e angústia, então comecei à comer muito. Mas não. Ela não podia.

Depois de um tempo, os alunos começaram a me chamar de gordo.

Fiquei acima do peso e não tinha mais vontade de ir à escola.

Minhas notas ficaram vermelhas e eu quase reprovei.

Minha mãe ficou ao meu lado esse tempo todo. Ela me incentivou à voltar com a alimentação saudável e fazer atividades físicas toda semana.

Também comecei à ir em um grupo de apoio, que ajudou bastante.

Mas, às vezes, eu tinha recaídas e voltava à comer exageradamente.

E luto contra isso até hoje.

Bom, já falei de mais!

Você com certeza me conhece bem melhor agora.

Essa foi a carta cinco!

Não sabia que essa carta ficaria tão grande...

Enfim, até a carta 6!

Atenciosamente, Pessoa Misteriosa.

Quando terminei de ler, deixei a carta de lado.

Ele sofreu tanto. Desde os 12 anos de idade!

Isso me deixou revoltado.

Trancado a Sete ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora