Dia 14, terça-feira.
― Outro dia eu perguntei para a minha mãe se ela conhecia alguém com o sobrenome Lopez. ― Disse Dandara, sentada à minha frente.
― E o que ela disse? ― Perguntei, bebendo o suco de laranja.
Estamos no pátio, no horário do intervalo.
― Ela disse que tinha uma amiga na adolescência com esse sobrenome. ― Informou. ― Também falou que não se lembrava do nome dela, mas afirmou que começava com a letra V. ― Completou e eu quase me engasguei com a bebida. ― Meu Deus, Mill! Você tá bem?
― Você disse letra V? ― Ignorei a sua última pergunta.
― Sim, por quê?
― O nome da mãe da Pessoa Misteriosa é Violeta Lopez. ― Respondi e Dand levantou as sobrancelhas.
― Que mundo pequeno.
― Pois é.
Marcus e Lorran se aproximaram e se juntaram à nós.
― Eu acho que me ferrei na prova de química. ― O loiro falou, escondendo o rosto com as mãos.
― Por quê? ― A sua irmã perguntou ao seu lado.
― Ela estava muito difícil. E o pior é que eu estudei muito!
― Relaxa, tenho certeza que você tirou uma nota boa. ― O garoto de cabelos castanhos ao meu lado prometeu.
Marcus sorriu de lado e começou a comer o seu lanche.
[...]
O dia já havia se passado e agora estou na cozinha, jantando.
― O senhor sabe quem é Lopez? ― Perguntei ao Pedro, que estava sentado na minha frente.
― Lopez? ― Meu pai deu uma pausa, tentando se lembrar de algo. ― Não é uma das melhores detetives de Ipanema?
― Sim, mas o senhor não estudou com ela? Tipo, na adolescência?
― Ah, sim. Violeta Lopez, não é? Ela era muito amiga da Sarah. ― Informou e eu levantei as sobrancelhas.
Sarah é a mãe do Marcus e da Dandara.
― Sério?
― Sim! Elas eram grudadas uma na outra. ― Respondeu dando uma garfada na macarronada. ― Por que a pergunta? ― Peter levantou uma sobrancelha. Ele parecia curioso.
― Digamos que eu me encontrei com a Violeta Lopez.
― Você jura?! Que legal! ― Exclamou. Meu pai parecia feliz por ter notícias sobre a colega do colégio. ― E como ela está?
― Ela parecia bem. ― Falei e ele sorriu.
― Será que ela ainda está com o Thiago? ― Fez uma pergunta retórica, mas mesmo assim eu resolvi responder.
― Não. ― Retruquei e o homem à minha frente levantou o rosto para me fitar.
― Como assim?― Eles se divorciaram depois que a Violeta virou detetive.
― Nossa, que triste. ― Deu uma pausa. ― E como você sabe disso?
― O filho dela me disse. ― Respondi e logo coloquei as mãos sobre a boca. Eu estava falando demais.
― Você conhece o filho dela?! Por que não me disse antes?
― Eu acabei de conhecê-lo.
Não era mentira.
― E qual é o nome dele?
Eu gelei. Comecei a suar frio, enquanto Pedro me fitava, ansiando por uma resposta.
― Olhe a hora! Tenho que dormir. ― Mudei de assunto, olhando para o relógio de parede.
― Ah, tudo bem. Boa noite! ― Meu pai respondeu enquanto eu me levantava.
Saí da cozinha e subi as escadas correndo.
Entrei no meu quarto e tranquei a porta.
Ri do que acabou de acontecer e peguei o baú. O abri e peguei a carta sete:
CARTA SETE
Bem-vindo à última carta!
Se você chegou até aqui é porque está interessado em me conhecer.
Sério, se eu achasse as sete chaves, teria desistido na primeira carta.
Então obrigada! Me sinto adorável que você me ache interessante.
Têm grandes chances de um velho tarado estar lendo isso, então se você é um: apenas me deixe em paz. Lembra? Eu faço karatê.
Quando eu tinha 13 anos de idade, o bullying começou a ser mais frequente e eu tinha medo que as pessoas fizessem algo ruim comigo, então falei para a minha mãe que eu queria fazer aulas de karatê.
Ela ficou super feliz e orgulhosa de mim. No dia seguinte, eu já comecei à fazer as aulas.
Não sei se sou um dos melhores alunos, mas o Kalel (meu professor de karatê) diz que eu sou muito bom. Estou atualmente na faixa roxa.
Um garoto idiota da escola já tinha quebrado o meu óculos antes, quando eu tinha 12 anos. Mas no ano seguinte, ele quis fazer a mesma coisa.
O menino encostou no meu ombro, eu peguei a sua mão e a conterci para trás. Depois, o joguei no chão e ele começou a gritar de dor.
Não sei se quebrei a sua mão esquerda, mas alguns meses depois ele começou à me perturbar mais ainda.
Eu tentava me controlar, mas às vezes eu perdia a paciência.
Hoje, esse garoto não me perturba muito, só quando não tem nada para fazer mesmo.
Uma vez, quando ele foi me irritar no 9° ano, a sua amiga ― pelo menos eu acho que era uma amiga ― o impediu de fazer algo comigo.
Ela sorriu para mim, e foi aí que eu me apaixonei.
Hoje em dia, nós nem conversamos, mas trocamos olhares interessantes.
Bom, essa foi a carta sete!
Agora você pode ler o papel branco e, quem sabe, me conhecer pessoalmente.
Até!
Atenciosamente, Alexandre Santiago Lopez.
Sorri ao ler a última frase e levei a mão à boca.
Ele se chama Alexandre!
Guardei a carta dentro do baú e deixei a caixa de madeira embaixo da cama.
Me levantei e saí do quarto. Desci as escadas correndo, fui até a cozinha e parei no batente da porta.
― Alexandre Santiago Lopez! ― Gritei enquanto meu pai lavava a louça do jantar.
― O quê? ― Ele perguntou, me olhando por cima do ombro.
― O filho da Violeta! ― Falei. Eu estava muito feliz por finalmente saber quem era a Pessoa Misteriosa.
― O que tem ele, filho? ― Peter perguntou se virando para mim.
― Ela se chama Alexandre Santiago Lopez!
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Trancado a Sete Chaves
Teen FictionEm pausa/em andamento/em revisão *** +16 Um garoto descolado, com uma caixa de madeira e à procura de sete chaves. Essa é a vida divertida do estudante Eric Müller. *** Pode ter gatilhos como: ansiedade, depressão, bullying, violência, gordofobia e...