20• Ou Algo a Mais?

2 1 0
                                    

Dia 17, sexta-feira.

Parei a moto em frente ao prédio onde Alexandre mora e saí do veículo. Como meu aniversário de 18 anos estava chegando, meu pai deixou eu andar com a moto dele por Ipanema até ganhar a minha ―só não fala isso pra minha mãe.

Abri a porta de vidro e entrei no local.

― Eric? ― Violeta perguntou, saindo do elevador.

― Oi, Sra. Lopez.

― O que faz aqui? ― Ela se aproximou de mim.

― Eu... pensei em levar o seu filho à escola hoje.

Olhei de soslaio para o porteiro e o vi arregalar os olhos.

A mulher a minha frente me olhou de cima a baixo.

― E o Alexandre sabe disso? ― Lopez perguntou e eu engoli em seco.

― Se ele soubesse, não deixaria eu buscá-lo.

Ela riu pelo nariz.

― Bem, ele está terminando de se arrumar, mas você já pode ir subindo. ― Passou por mim e ficou em frente à saída. ― Tenha um bom dia, Eric. ― Concluiu, abrindo a porta de vidro e se retirando.

Andei até as escadas e subi os degraus. Passei pelo corredor e parei em frente à uma porta de madeira. Em cima dela, tinha o número 102.

Dei um suspiro e bati na porta.

Ouvi um barulho vindo de dentro da casa e a entrada foi aberta.

Sorri ao ver o garoto. Ele usava o casaco azul da escola e o uniforme estava impecável em seu corpo de curvas.

― Bom dia, Abelinha. ― Falei de um jeito brincalhão.

― O que você está fazendo aqui?!

― Vou te levar para a escola na minha moto. ― Lhe lancei uma piscadela e ela cruzou os braços, revirando os olhos.

― Não, você não vai. ― Discordou, saindo da casa e trancando a porta.

― Você não tem escolha. Ou eu te levo, ou eu te levo. Você escolhe. ― Informei andando ao lado do garoto de óculos.

― Parece que eu não tenho escolha. ― Entrou no elevador e eu fiquei ao seu lado.

― Você tem que usar óculos toda hora? ― Perguntei curioso enquanto Queenie apertava o botão de Térreo.

― Em breve eu não vou precisar usar mais.

Quando o elevador parou, saímos do prédio e andamos até o meu automóvel.

Entramos nele e eu dei partida.

― Uma moto preta... ― ele deu uma pausa. ― Tipo de um ladrão que usa para assaltar os lugares? ― Perguntou, sarcástica, enquanto colocava o cinto de segurança e eu ri.

― Tipo isso mesmo.

Montamos na moto, e ele agarrou a minha cintura com muita força, provavelmente nunca tinha andado de moto. Senti um arrepio.

Comecei a dirigir e ficamos um tempo em silêncio.

― O que eles vão pensar se nos verem juntos? ― Alexandre perguntou meio alto de repente.

― Eu não ligo para a opinião deles. ― Respondi e ele voltou a me agarrar. ― Não mais.

Voltei a minha atenção para a estrada e logo chegamos na escola.

Deixei a moto no estacionamento e saímos do veículo.

― Você vai na frente. ― Alexandre pediu e eu arregalei os olhos.

― Não, nós vamos juntos.

― Não podemos! ― Exclamou e eu franzi a testa. ― Vai na frente.

― Você tem vergonha de mim?

― Não é isso! ― Se encostou no automóvel preto. ― Você devia ir sozinho, eu vou depois. ― Implorou e eu fiquei a sua frente.

Segurei em sua mão e o garoto abaixou a cabeça para fitar as nossas mãos unidas.

― Vamos. ― Comecei a andar com ele.

Ele hesitou por um momento, mas acabou indo.

Quando chegamos perto dos alunos, Alexandre soltou a minha mão e cobriu a sua cabeça com o capuz do casaco.

Todos nos fitaram e o menino de óculos me olhou de baixo, por eu ser um pouco mais alto que ele. Por um momento, senti falta da sua mão na minha.

O garoto de cabelos cacheados começou a se afastar e eu enfiei as mãos no bolso da calça jeans, um pouco tristonho.

― Você anda conversando bastante com aquele menino. ― Lorran falou se aproximando. ― Ele não é o garoto da quadra?

― O nome dele é Alexandre. ― Rebati e Dandara se aproximou. ― Olá, Dand.

― Olá. ― Ela respondeu, seca. ― Novo amigo, né? ― Cruzou os braços, levantando uma sobrancelha. ― Ou algo a mais?

Engoli em seco.

Trancado a Sete ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora