18• Mundo Pequeno

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― Parece que está chovendo. ― Falei, fitando a janela fechada.

― Não me diga. ― Alexandre debochou e eu ri pelo nariz.

― Adoro o seu senso de humor.

― E eu adoro quando você cala a boca.

Eu apertei os lábios. Mais um trovão.

― Como você vai pra casa? ― O garoto perguntou, abraçando o próprio corpo.

― Alexandre Santiago está se preocupando comigo? ― Fiz uma pergunta retórica e ele revirou os olhos. ― Vou ligar para o meu pai. ― Respondi, tirando o celular do bolso da calça.

Vi que tinham várias chamadas perdidas do Pedro. Ele devia estar muito preocupado. Disquei o seu número e levei o celular ao ouvido.

― Pai? ― O chamei assim que ele atendeu.

― Filho?! Onde você está?

― Estou na casa da Violeta Lopez. ― Respondi e Alexandre arregalou os olhos.

― Você falou da minha mãe para o seu pai? ― Sussurrou e eu falei "shiu."

― Qual é o número do seu apartamento? ― Perguntei para o garoto e ele abaixou a cabeça.

Ele não queria dizer.

― Não precisa dizer, a não ser que você não queira que eu fique aqui para sempre...

― Segundo andar, apartamento 102.

― Obrigado, anjo.

― Não me chame de anjo.

― Vou te passar o endereço por mensagem. ― Disse para o meu pai e encerrei a ligação.

Mandei a mensagem para ele e saímos do quarto.

Nos sentamos no sofá e a mãe de Alexandre se aproximou.

― Está chovendo muito. ― Ela falou. ― Quer que eu te leve para casa, Eric?

― Não precisa, meu pai já está vindo. ― Informei e Violeta assentiu, cruzando os braços.

Mais um trovão, dessa vez mais forte.

Ficamos um tempo em silêncio, até que um barulho soando como um interfone tocou.

Violeta foi para o canto da sala e atendeu o telefone.

― Sim... ― Deu uma pausa. ― Sim, espere um momento. ― Pediu, tampando o bocal. ― O seu pai se chama Pedro Müller?

― Sim, senhora. ― Respondi ela voltou para o telefone.

― Sim, é Pedro Müller... Ok, peça para subir. ― Disse e desligou. ― Seu pai está chegando. ― Se virou para mim.

Logo a porta fez um barulho e Violeta se direcionou para ela.

― Esse é o seu pai? ― Perguntou olhando pelo olho mágico e eu me levantei.

― É ele mesmo. ― Respondi ao fitar o homem do outro lado da porta.

Alexandre se levantou e ficou do meu lado.

― Boa noite. ― Pedro disse assim que a entrada foi aberta.

― Boa noite. ― A detetive sorriu amigavelmente.

― Não está me reconhecendo, Violeta? ― Ele perguntou e ela franziu a testa. ― Eu te chamava de Let, porque você disse que não tinha nenhum apelido.

― Pedro? O que fez uma espécie de desenho de mim? ― Ela sorriu de lado e Alexandre e eu nos entre olhamos.

― Esse mesmo!

― Como você mudou!

― Você não esperava que eu continuasse o mesmo adolescente gato do último ano, né? ― Provocou e Violeta riu.

― Vocês se conhecem? ― Peguntei, curioso.

― Estudamos juntos no ensino médio. Eu, o seu pai, a sua mãe, o Thiago e Sarah. ― Violeta respondeu e eu arregalei os olhos.

― Que mundo pequeno. ― Murmurei e eles riram. ― Então vocês eram amigos?

― Eu meio que... gostava do Pedro na época da escola. ― A mulher disse e eu levantei as sobrancelhas.

― Que nojo. ― Alexandre retrucou e eu ri.

― Eu não sabia que o Eric era amigo do seu filho. ― O meu pai disse e Violeta deu de ombros.

― Nem eu!

O barulho do trovão os trouxeram para a realidade.

― Bom, acho melhor irmos, antes que a chuva piore. ― Pedro disse eu saí do apartamento. ― Foi bom ver você, Let!

― Digo o mesmo. ― Ela sorriu.

― Tenham uma boa noite!

― Vocês também! ― Fechou a porta e nós nos afastamos.

― Você gostava dela? ― Perguntei, assim que começamos a descer as escadas. ― Digo, na época da escola?

― Ah, não. ― Fez um gesto com a mão. ― Ela e o Thiago se davam muito bem, nunca pensei que um dia isso pudesse acontecer.

― Isso o que?

― O divórcio.

Descemos as escadas. A chuva já tinha diminuído quando saímos do prédio e meu pai começou a dirigir o carro, em direção à nossa casa.

― Por que não me disse que iria para a casa da Violeta? ― Pedro perguntou de olho na estrada.

― Foi uma coisa de última hora.

― Da próxima vez, me avise.

Se depender de Alexandre, não terá próxima vez.

Mas eu não desisto assim tão fácil.

Trancado a Sete ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora