― Parece que está chovendo. ― Falei, fitando a janela fechada.
― Não me diga. ― Alexandre debochou e eu ri pelo nariz.
― Adoro o seu senso de humor.
― E eu adoro quando você cala a boca.
Eu apertei os lábios. Mais um trovão.
― Como você vai pra casa? ― O garoto perguntou, abraçando o próprio corpo.
― Alexandre Santiago está se preocupando comigo? ― Fiz uma pergunta retórica e ele revirou os olhos. ― Vou ligar para o meu pai. ― Respondi, tirando o celular do bolso da calça.
Vi que tinham várias chamadas perdidas do Pedro. Ele devia estar muito preocupado. Disquei o seu número e levei o celular ao ouvido.
― Pai? ― O chamei assim que ele atendeu.
― Filho?! Onde você está?
― Estou na casa da Violeta Lopez. ― Respondi e Alexandre arregalou os olhos.
― Você falou da minha mãe para o seu pai? ― Sussurrou e eu falei "shiu."
― Qual é o número do seu apartamento? ― Perguntei para o garoto e ele abaixou a cabeça.
Ele não queria dizer.
― Não precisa dizer, a não ser que você não queira que eu fique aqui para sempre...
― Segundo andar, apartamento 102.
― Obrigado, anjo.
― Não me chame de anjo.
― Vou te passar o endereço por mensagem. ― Disse para o meu pai e encerrei a ligação.
Mandei a mensagem para ele e saímos do quarto.
Nos sentamos no sofá e a mãe de Alexandre se aproximou.
― Está chovendo muito. ― Ela falou. ― Quer que eu te leve para casa, Eric?
― Não precisa, meu pai já está vindo. ― Informei e Violeta assentiu, cruzando os braços.
Mais um trovão, dessa vez mais forte.
Ficamos um tempo em silêncio, até que um barulho soando como um interfone tocou.
Violeta foi para o canto da sala e atendeu o telefone.
― Sim... ― Deu uma pausa. ― Sim, espere um momento. ― Pediu, tampando o bocal. ― O seu pai se chama Pedro Müller?
― Sim, senhora. ― Respondi ela voltou para o telefone.
― Sim, é Pedro Müller... Ok, peça para subir. ― Disse e desligou. ― Seu pai está chegando. ― Se virou para mim.
Logo a porta fez um barulho e Violeta se direcionou para ela.
― Esse é o seu pai? ― Perguntou olhando pelo olho mágico e eu me levantei.
― É ele mesmo. ― Respondi ao fitar o homem do outro lado da porta.
Alexandre se levantou e ficou do meu lado.
― Boa noite. ― Pedro disse assim que a entrada foi aberta.
― Boa noite. ― A detetive sorriu amigavelmente.
― Não está me reconhecendo, Violeta? ― Ele perguntou e ela franziu a testa. ― Eu te chamava de Let, porque você disse que não tinha nenhum apelido.
― Pedro? O que fez uma espécie de desenho de mim? ― Ela sorriu de lado e Alexandre e eu nos entre olhamos.
― Esse mesmo!
― Como você mudou!
― Você não esperava que eu continuasse o mesmo adolescente gato do último ano, né? ― Provocou e Violeta riu.
― Vocês se conhecem? ― Peguntei, curioso.
― Estudamos juntos no ensino médio. Eu, o seu pai, a sua mãe, o Thiago e Sarah. ― Violeta respondeu e eu arregalei os olhos.
― Que mundo pequeno. ― Murmurei e eles riram. ― Então vocês eram amigos?
― Eu meio que... gostava do Pedro na época da escola. ― A mulher disse e eu levantei as sobrancelhas.
― Que nojo. ― Alexandre retrucou e eu ri.
― Eu não sabia que o Eric era amigo do seu filho. ― O meu pai disse e Violeta deu de ombros.
― Nem eu!
O barulho do trovão os trouxeram para a realidade.
― Bom, acho melhor irmos, antes que a chuva piore. ― Pedro disse eu saí do apartamento. ― Foi bom ver você, Let!
― Digo o mesmo. ― Ela sorriu.
― Tenham uma boa noite!
― Vocês também! ― Fechou a porta e nós nos afastamos.
― Você gostava dela? ― Perguntei, assim que começamos a descer as escadas. ― Digo, na época da escola?
― Ah, não. ― Fez um gesto com a mão. ― Ela e o Thiago se davam muito bem, nunca pensei que um dia isso pudesse acontecer.
― Isso o que?
― O divórcio.
Descemos as escadas. A chuva já tinha diminuído quando saímos do prédio e meu pai começou a dirigir o carro, em direção à nossa casa.
― Por que não me disse que iria para a casa da Violeta? ― Pedro perguntou de olho na estrada.
― Foi uma coisa de última hora.
― Da próxima vez, me avise.
Se depender de Alexandre, não terá próxima vez.
Mas eu não desisto assim tão fácil.
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Trancado a Sete Chaves
Teen FictionEm pausa/em andamento/em revisão *** +16 Um garoto descolado, com uma caixa de madeira e à procura de sete chaves. Essa é a vida divertida do estudante Eric Müller. *** Pode ter gatilhos como: ansiedade, depressão, bullying, violência, gordofobia e...