25• Girassóis

4 1 0
                                    

Dia 20, segunda-feira.

Cheguei na escola e semicerrei os olhos ao avistar um garoto de cabelos escuros perturbando Alexandre.

Soltei um suspiro e percebi que era o Cardoso. Ele é um dos jogadores do time da escola ―e amigo do Marcus.

― Deixe ela em paz, Cardoso. ― Falei me aproximando deles.

Ouvimos o barulho de um trovão. O tempo está fechado desde ontem à noite. O chão está molhado e o céu, nublado.

Olhei para Abelinha e de, alguma forma, senti que ele ficou mais desconfortável com a minha presença.

Ele usava o casaco azul e abraçava o próprio corpo.

― Qual é, Eric? ― Retrucou o garoto à minha frente. ― Você é o príncipe dele?

Ele riu do próprio comentário, mas eu me manti sério.

Cardoso encarou Alexandre e esboçou um sorriso ladino.

Ele ia dizer algo à ele, mas eu o interrompi:

― Deixe ele em paz.

Ele sussurrou "eu consigo me virar" e Cardoso me fitou.

― Ouviu o quatro-olhos? Ele sabe se virar.

Trinquei os dentes e senti meu rosto ficar vermelho de raiva.

― Não chame ele assim.

― Ou o quê? ― Ele riu, dando um passo para frente.

Foi tudo muito rápido. O empurrei e ele acabou caindo em cima de uma poça d'água.

Abelinha me olhou assustado e percebi o desprezo em seu olhar.

― Eu sei me virar. ― Falou em voz alta e eu engoli em seco.

Saiu de perto de mim e, sem olhar para trás, entrou na escola.

Não sou de brigar, mas aquela cena me deixou com muita raiva.

Eu já passei por isso, e não desejaria que ninguém sentisse o mesmo que eu.

Logo os alunos se aproximaram e Marcus ajudou Cardoso à se levantar.

― Qual é o seu problema, Eric? ― Perguntou o garoto de cabelos escuros.

Ele olhou para a própria roupa, agora suja e molhada e me fuzilou com o olhar.

Marcus entrou na escola com Cardoso e Dandara e Lorran se aproximaram de mim.

― Você está bem? Ele te machucou? ― A minha amiga exclamou, segurando delicadamente o meu rosto.

― Estou bem. ― Respondi, tentando evitar contato visual.

― Por que você fez aquilo?

― O Cardoso estava perturbando o garoto da quadra. ― Ouvi a voz de Lorran e levantei a cabeça para o fitar. ― O Eric quis defendê-lo, mesmo ele dizendo que sabe se virar. ― Enfiou as mãos no bolso da calça jeans e eu o encarei com raiva.

― É sério que você fez isso? ― Dand retrucou e eu a fitei confuso. ― Sei que você gosta de ajudar os outros, mas pense um pouco em si. ― Pediu, soltando o meu rosto. ― Você podia ter se machucado. E se o Cardoso revidasse?

Ficamos em silêncio.

Dandara levantou a cabeça para me olhar nos olhos.

― Não é egoísta pensar em si mesmo às vezes.

[...]

O dia se passou e Alexandre não olhou na minha cara desde a briga de mais cedo.

Trancado a Sete ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora