― Ele invadiu a nossa casa! ― Gritou Alexandre e eu arregalei os olhos.
― Eu posso explicar. ― Rebati. ― Eu queria falar com o seu filho sobre as cartas e ele ficou fugindo do assunto.
― Isso não é motivo para você invadir o meu quarto, enquanto eu saio do banheiro nu enrolado em uma toalha!― Rebateu o garoto e eu apertei os lábios. Ele tinha razão.
― Espere... ― Violeta falou. ― você não é o garoto que foi na delegacia outro dia? ― Perguntou, me fitando.
― Sim! ― Respondi sorrindo, contente por ela ter me reconhecido. ― Me chamo Eric.
― Ale, se vista. ― Ordenou, olhando para o menino que estava em frente ao banheiro. ― E você... ― Apontou para mim. ― venha comigo. ― Saiu do quarto.
Engoli em seco e a acompanhei. Alexandre fechou a porta com força atrás de mim e eu me sentei no sofá da sala, ao lado da Violeta. Lopez, o coelho de estimação, se encontrava no colo da mulher.
― Sei que você deve estar cheio de perguntas ― A detetive começou. ―, mas dê um tempo à ele. ― Pediu, acariciando o pelo branco do coelho. ― Alexandre fez esse jogo justamente para não falar e ter que explicar nada.
Eu franzi a testa.
― Como assim?
― Ele não se sente bem falando em voz alta, por isso prefere escrever. ― Explicou. ― É difícil para ele. Apenas não o pressione.
― Oh, eu não sabia, me desculpe. ― Cocei a nuca, um pouco desconfortável e ela sorriu de lado.
― Tudo bem. Quando ele terminar de se arrumar, vocês podem tentar conversar. ― Sugeriu e a porta do quarto de Alexandre fez um barulho.
Mesmo que esteja calor, ele usa um moletom azul e short. Seu cabelo está molhado e seus pés, descalços.
Ele apenas maneou a cabeça para dentro e eu o segui.
Me sentei na cama e o garoto deixou a porta encostada.
― O que houve com o seu braço? ― Perguntei de repente.
― O quê?
Alexandre arrastou a cadeira da escrivaninha até a janela e se sentou.
― O que houve com o seu braço? ― Repeti e ele abraçou o próprio corpo. ― Não precisa responder, se não quiser. ― Avisei e ele deu um sorriso fraco.
Ficamos um tempo em silêncio.
― Por que você faz aulas de violão? ― Tentei puxar assunto.
― Eu queria aprender a tocar um instrumento. ― Deu de ombros. ― E o meu tio é músico, então gostou muito da ideia.
― O seu tio é músico?!
― Sim, mas ele não é muito conhecido. ― Cruzou as pernas e eu inclinei a cabeça para o lado.
― Qual é o nome dele?
― Fernando Lopez. Eu vou à casa dele nos finais de semana e tocamos violão a tarde toda.
― Então diga à ele que no próximo final de semana, terá mais um convidado. ― Sorri e Alexandre levantou as sobrancelhas.
― Você sabe tocar violão?
― Não, mas eu vou aprender.
Os seus ombros abaixaram, um pouco desanimado.
― Duvido. ― Falou e eu dei uma risada.
― Se eu conseguir, fale com o Fernando Lopez que eu irei visitá-lo junto com você.
― Comigo?!
― Sim.
― E se você não conseguir? ― Cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.
― Se eu não conseguir, não viro cupido.
Ele pensou na proposta.
― Fechado. ― Se rendeu, sorrindo. ― Essa vai ser fácil. ― Sussurrou, mas eu consegui escutá-lo.
― Como é?
― Nada! ― Desviou o olhar, rindo.
― Eu fiz Alexandre Santiago Lopez rir? Céus, cadê o meu Oscar? ― Exclamei sorrindo e logo ela ficou séria.
Olhamos para a janela. Já estava escurecendo.
Olhei para o lado esquerdo e me deparei com uma bandeira bi pendurada.
― Ótimo, agora você vai me olhar de um jeito torto e me chamar de monstro, como o resto da sociedade! ― O garoto bufou e eu franzi a testa.
― Você não é um monstro. ― Discordei e ela encolheu os ombros. ― Você parece ser uma pessoa incrível. Você já passou por tanta coisa e continua lutando. ― Um sorrido involuntário dominou os meus lábios e Alexandre fechou a cara.
― Eu já disse para você não ter pena de mim.
― Eu não tenho pena de você, só te admiro.
― Você está admirado por um garoto que acabou de conhecer? ― Ele sorriu de um jeito sarcástico.
― Olha, tecnicamente, eu já te conhecia antes, você que não me consegue.
― Você é o aluno mais popular da escola, todos te conhecem.
Apertei os lábios e olhei para o meu colo. O que ele disse fazia sentido, mas não era bem verdade.
Ficamos em silêncio por um momento e Alexandre fitou a paisagem noturna.
― O garoto que quebrou os seus óculos quando você tinha 12 anos... ― Comecei a falar, temendo continuar a frase. ― ... era o Marcus? ― Levantei a cabeça e fitei o garoto, que já me olhava com a testa franzida.
Lá fora, começou a chover, então ele fechou a janela.
― Você está falando do Marcus Barbosa? ― Perguntou se sentando e eu assenti. ― Ele é amigo do garoto que me pertuba. ― Respondeu e eu relaxei os ombros. Ah, se fosse o Marcus...
― Esse tal garoto ainda te perturba?
― Não muito.
Ficamos um momento em silêncio e eu fitei o garoto à minha frente.
Alexandre deu um salto da cadeira quando ouvimos o barulho de um trovão.
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Trancado a Sete Chaves
Ficção AdolescenteEm pausa/em andamento/em revisão *** +16 Um garoto descolado, com uma caixa de madeira e à procura de sete chaves. Essa é a vida divertida do estudante Eric Müller. *** Pode ter gatilhos como: ansiedade, depressão, bullying, violência, gordofobia e...