17• Uma Aposta

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― Ele invadiu a nossa casa! ― Gritou Alexandre e eu arregalei os olhos.

― Eu posso explicar. ― Rebati. ― Eu queria falar com o seu filho sobre as cartas e ele ficou fugindo do assunto.

― Isso não é motivo para você invadir o meu quarto, enquanto eu saio do banheiro nu enrolado em uma toalha!― Rebateu o garoto e eu apertei os lábios. Ele tinha razão.

― Espere... ― Violeta falou. ― você não é o garoto que foi na delegacia outro dia? ― Perguntou, me fitando.

― Sim! ― Respondi sorrindo, contente por ela ter me reconhecido. ― Me chamo Eric.

― Ale, se vista. ― Ordenou, olhando para o menino que estava em frente ao banheiro. ― E você... ― Apontou para mim. ― venha comigo. ― Saiu do quarto.

Engoli em seco e a acompanhei. Alexandre fechou a porta com força atrás de mim e eu me sentei no sofá da sala, ao lado da Violeta. Lopez, o coelho de estimação, se encontrava no colo da mulher.

― Sei que você deve estar cheio de perguntas ― A detetive começou. ―, mas dê um tempo à ele. ― Pediu, acariciando o pelo branco do coelho. ― Alexandre fez esse jogo justamente para não falar e ter que explicar nada.

Eu franzi a testa.

― Como assim?

― Ele não se sente bem falando em voz alta, por isso prefere escrever. ― Explicou. ― É difícil para ele. Apenas não o pressione.

― Oh, eu não sabia, me desculpe. ― Cocei a nuca, um pouco desconfortável e ela sorriu de lado.

― Tudo bem. Quando ele terminar de se arrumar, vocês podem tentar conversar. ― Sugeriu e a porta do quarto de Alexandre fez um barulho.

Mesmo que esteja calor, ele usa um moletom azul e short. Seu cabelo está molhado e seus pés, descalços.

Ele apenas maneou a cabeça para dentro e eu o segui.

Me sentei na cama e o garoto deixou a porta encostada.

― O que houve com o seu braço? ― Perguntei de repente.

― O quê?

Alexandre arrastou a cadeira da escrivaninha até a janela e se sentou.

― O que houve com o seu braço? ― Repeti e ele abraçou o próprio corpo. ― Não precisa responder, se não quiser. ― Avisei e ele deu um sorriso fraco.

Ficamos um tempo em silêncio.

― Por que você faz aulas de violão? ― Tentei puxar assunto.

― Eu queria aprender a tocar um instrumento. ― Deu de ombros. ― E o meu tio é músico, então gostou muito da ideia.

― O seu tio é músico?!

― Sim, mas ele não é muito conhecido. ― Cruzou as pernas e eu inclinei a cabeça para o lado.

― Qual é o nome dele?

― Fernando Lopez. Eu vou à casa dele nos finais de semana e tocamos violão a tarde toda.

― Então diga à ele que no próximo final de semana, terá mais um convidado. ― Sorri e Alexandre levantou as sobrancelhas.

― Você sabe tocar violão?

― Não, mas eu vou aprender.

Os seus ombros abaixaram, um pouco desanimado.

― Duvido. ― Falou e eu dei uma risada.

― Se eu conseguir, fale com o Fernando Lopez que eu irei visitá-lo junto com você.

― Comigo?!

― Sim.

― E se você não conseguir? ― Cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.

― Se eu não conseguir, não viro cupido.

Ele pensou na proposta.

― Fechado. ― Se rendeu, sorrindo. ― Essa vai ser fácil. ― Sussurrou, mas eu consegui escutá-lo.

― Como é?

― Nada! ― Desviou o olhar, rindo.

― Eu fiz Alexandre Santiago Lopez rir? Céus, cadê o meu Oscar? ― Exclamei sorrindo e logo ela ficou séria.

Olhamos para a janela. Já estava escurecendo.

Olhei para o lado esquerdo e me deparei com uma bandeira bi pendurada.

― Ótimo, agora você vai me olhar de um jeito torto e me chamar de monstro, como o resto da sociedade! ― O garoto bufou e eu franzi a testa.

― Você não é um monstro. ― Discordei e ela encolheu os ombros. ― Você parece ser uma pessoa incrível. Você já passou por tanta coisa e continua lutando. ― Um sorrido involuntário dominou os meus lábios e Alexandre fechou a cara.

― Eu já disse para você não ter pena de mim.

― Eu não tenho pena de você, só te admiro.

― Você está admirado por um garoto que acabou de conhecer? ― Ele sorriu de um jeito sarcástico.

― Olha, tecnicamente, eu já te conhecia antes, você que não me consegue.

― Você é o aluno mais popular da escola, todos te conhecem.

Apertei os lábios e olhei para o meu colo. O que ele disse fazia sentido, mas não era bem verdade.

Ficamos em silêncio por um momento e Alexandre fitou a paisagem noturna.

― O garoto que quebrou os seus óculos quando você tinha 12 anos... ― Comecei a falar, temendo continuar a frase. ― ... era o Marcus? ― Levantei a cabeça e fitei o garoto, que já me olhava com a testa franzida.

Lá fora, começou a chover, então ele fechou a janela.

― Você está falando do Marcus Barbosa? ― Perguntou se sentando e eu assenti. ― Ele é amigo do garoto que me pertuba. ― Respondeu e eu relaxei os ombros. Ah, se fosse o Marcus...

― Esse tal garoto ainda te perturba?

― Não muito.

Ficamos um momento em silêncio e eu fitei o garoto à minha frente.

Alexandre deu um salto da cadeira quando ouvimos o barulho de um trovão.

Trancado a Sete ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora