Lea Von Draken andava de um lado para o outro no convés, dando ordens aos marujos à bordo do seu navio pirata, o Dragão dos Mares. Na verdade, não era esse o nome do navio e ela estava pensativa sobre isso no momento. Seu navio ganhou esse apelido porque ninguém conseguia o atingir ou perseguir por muito tempo, nem outros piratas, nem a marinha. Algum de seus marujos estava conversando com outras pessoas em uma taberna e chegaram dizendo para a capitã que tinham apelidado seu navio assim e assim ficou conhecido, mas o nome que estava gravado na proa era Rainha Anna. Ela estava olhando para o mar, vendo as nuvens de tempestade se formarem e esperava por sua navegadora que estava traçando uma rota mais segura para a próxima ilha, onde ia pegar alguns suprimentos. Enquanto passava pelo convés para ir até a proa, ela olhava mais uma vez o garoto que estava amarrado ao mastro principal. Já fazia um bom tempo que ele estava dormindo e não dava sinal de que ia acordar, mas estava vivo.
— Capitã! Capitã! - gritava um marujo chamando sua atenção. — Encontrei um barril flutuando! Devo pegar ele?
— Pegue, mas com cuidado. Não sabemos a carga e se for algo explosivo estaremos em grave perigo. Jogue uma garrafa vazia nele antes. Se for vinho ou rum, é toda sua.
— Certo!
O marujo saía correndo sorrindo alegremente e pegava uma garrafa vazia pra jogar no barril. A capitã ficava olhando pra ele, apesar de ser um bom lutador, inteligente e rápido, muitas vezes não parecia diferente de uma criança qualquer. Mas logo, outra coisa chamava sua atenção: o garoto amarrado no mastro começava a gemer e chorar. Ela se abaixava para olhar e logo alguns marujos se aproximavam, fazendo o mesmo. Ele realmente parecia estar sofrendo, mas não fazia nada mais além de gemer e chorar, como se estivesse muito machucado.
— Estranho... Ele não tinha nenhuma ferida quando a gente achou ele, né?
— Shhhh... Acho que ele tá falando alguma coisa.
Todos ficavam em completo silêncio e se aproximavam mais, embora não chegassem tão perto da capitã, que continuava olhando fixamente para o garoto mas todos puderam ouvir ele dizendo "me desculpem" por entre as lágrimas antes de subitamente parar de chorar e abrir os olhos devagar. Ele não parecia estar com medo ou em pânico, sequer parecia que estava chorando dois segundos atrás, ele parecia... Em dúvida. O garoto olhou para um lado, depois para o outro, então encarou a capitã e com muita dificuldade balbuciou algumas palavras.
— Não entendi. - respondeu a capitã.
— Eu... Conheço vocês? - perguntou o garoto.
— Não.
— Vocês... Sabem quem eu sou?
— A gente tava esperando você acordar pra dizer isso.
— Ah... Então temos um problema, não lembro de nada...
— Não é o primeiro que diz isso. Voltem ao trabalho pessoal, deixem ele secando aí por dois dias. Talvez isso refresque a memória.
A tripulação ia se dispersando e aparentemente alguns tinham feito apostas sobre quando ele acordasse, pois jogavam saquinhos provavelmente com moedas uns para os outros. O garoto continuava sem entender, mas percebia que estava amarrado no mastro de um navio, mesmo que não soubesse o motivo. Será que era um pirata? Ou um clandestino? Ou um companheiro que fez algo errado e agora duvidam dele? Ou foi possuído por algum espírito do mar, quase afogou a tripulação, teve severas mudanças em sua personalidade, uma crise de identidade e agora estava ali para sua segurança e de todos os outros? Bem... Nada disso fazia muito sentido e não se lembrava de nada. Ele tentava chamar a atenção de alguns marujos até perceber que era inútil. Então, ele olhava para o céu, que estava nublado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Herança de Sangue, Parte 2
FantasyO segundo livro da saga, continuando as aventuras do nosso querido grupo em uma aventura que jamais se esquecerão!