Capítulo 18: O Desfecho do Iluminado

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Leis, por mais antigas e retrógradas que fossem, existiam por motivos relevantes. Alguns sonhavam em mudar essas leis para algo melhor, mesmo que durasse uma eternidade e fosse contra tudo e todos. Ela iria ter o poder de mudar algumas leis tempos depois de concluir seu treinamento com o Chefe da tribo, mas ele chegou antes que tudo isso pudesse ser resolvido, antes que qualquer coisa pudesse ser feita para mudar sua situação e agora estava para ser executado na frente de todos da sua tribo. Claro, ainda teria direito a algumas coisas antes da execução e, como alguns integrantes da tribo estavam longe, ele ia passar alguns dias trancafiado em uma cela, sem receber visitas. O isolamento fazia parte da tradição.

Angelo meditava em sua cela, conseguia sentir as almas de todos em sua tribo de onde estava e diferenciava cada um deles. Procurava pela alma de seus pais no fluxo de energias que corria pela tribo e, quando finalmente encontrou, conseguiu sentir a profunda tristeza que eles sentiam. Era um abismo de desespero, dor, desesperança, aflição e agonia. Ele quase conseguia sentir as lágrimas que escorriam pelo rosto de seus pais, que, abraçados de joelhos pediam para a deusa Ushi olhar por ele e redimí-lo de um destino tão cruel e a Nibar para livrá-lo de uma morte injusta. A dor era tanta que mesmo de olhos fechados algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. 

— Perdoem-me, meus amados... Mas faço isso por vocês também. - ele sussurrava. 

Mais alguns dias se passavam e só então outra alma se aproximou de sua cela, trazendo comida. Quando as portas se abriam, era o Oráculo. Ela se sentava de frente ao jovem Enali e colocava a bandeja em uma pequena mesa no centro da cela. 

— Angelo... Eu sabia que voltaria... Só não quis acreditar...

— Eu nunca tomei decisões sábias, Grande Oráculo. Mas garanto que esta é a decisão mais sábia que irá presenciar vinda de mim.

— Abra os olhos, meu pequeno passarinho¹.

— Eu estou te vendo mesmo com eles fechados, Grande Oráculo.

— Eu quero ver seus olhos. Abra-os, por favor.

Angelo dava um leve sorriso antes de abrir os olhos lentamente, e a Oráculo podia ver, mesmo com seus olhos cegos, a grande diferença nos olhos do jovem Enali à sua frente, o que a fazia rir pela primeira vez desde que ele ganhou a marca. 

— Sabia... Você é especial, Angelo. 

— Obrigado, Grande oráculo. - ele dizia, retornando a fechar seus olhos. — Me diga... Você teve visões sobre o que está por vir, não é?

— ... Sim.

— Então, entende o motivo do meu retorno?

— Entendo... Você quer se sacrificar pra poderem ouvir o que tentaram calar de mim. Você entende os motivos do chefe e do concelho dos anciões privarem todos disso, não é?

— Entendo. Mas eles precisam saber. 

— Mesmo que morra pra isso?

— A vida é passageira, Grande Oráculo... Eu sei que minha impulsividade provavelmente ia me fazer perdê-la mais cedo ou mais tarde... Provavelmente mais cedo. - dizia, dando uma leve risada. — Mas todos na tribo são minha família, e não vou deixar minha família sofrer por culpa dos anciões. Obrigado pela comida e pela visita. É hoje, então?

— Amanhã pela manhã. Hoje você vai receber duas visitas além de mim. 

— Certo. Estarei preparado. 

A Oráculo levantava, ia até o jovem Enali e lhe dava um abraço. Receber o abraço de um Oráculo quase sempre era visto como algo ruim, pois era certamente uma despedida. Mas este foi diferente. Dava pra sentir que não era um mau agouro ou mau presságio. Ela então saía e passado algumas horas, novamente outras pessoas entravam na cela. O abraço caloroso de seus pais faziam seu coração tremer. 

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora