A cela fria e úmida estava menos suja graças a Rey, que havia improvisado uma vassoura com um pedaço de pau que jogaram dentro da cela enquanto dormiam e que abriu um corte na testa de Cristine, palha que forrava o chão da cela na parte em que dormiam e um pouco dos próprios pelos e alguns fios de cabelo dos irmãos, que ele trançou até conseguir amarrar a palha e assim fazer uma pequena vassoura para limpar a cela. Ele também era quem pegava a comida que entregavam, já que quase todas as vezes simplesmente jogavam a bandeja no chão e o jovem experimento fazia o possível para conseguir aproveitar o máximo da comida para os três e guardava pedaços de pão, já que também haviam dias em que deixavam eles sem comer. O garoto estava muito preocupado com eles dois, principalmente com Connor, que estava apático desde que foram jogados na cela. A ferida na testa de Cristine parecia estar infeccionando, ele não tinha como conseguir remédios e a água que mandavam geralmente não estava limpa. Mas o que mais o perturbava era o fantasma que aparecia pra falar com ele de vez em quando. Talvez estivesse mesmo ficando louco.
— Rey...? - Cristine chamou, ao amanhecer.
— Estou aqui, senhorita Cristine.
— Cadê o Drake e o Angelo?
— O senhor Angelo está no hospital, e o senhor Drake sumiu...
— Ah... Desculpa, eu vou voltar a dormir...
Rey se aproximava dela e colocava a mão em sua testa, por mais que não precisasse disso pra ver que ela estava com febre bastante alta. O rosto dela estava começando a ficar vermelho também e os guardas não eram muito receptivos a dar remédios a qualquer um. Connor também havia acordado e passava a mão pelos cabelos de Cristine, olhando para ela em silêncio.
— Rey... Desculpe por você precisar passar por isso com a gente.
— Tá tudo bem, senhor Connor. Eu passei por coisa pior quando tava na caravana.
— Ainda assim... Me desculpe.
— Tá desculpado.
— Você não quer saber o que eu fiz pra gente estar aqui?
Essa pergunta pegou Rey de surpresa. Era a primeira vez que Connor falava tanto assim em um dia, ou que demonstrava interesse em falar sobre algo.
— O senhor é inocente.
— Não, Rey... Não sou.
— Senhor Connor... O senhor é gentil. Pessoas gentis como vocês não fazem coisas erradas de propósito. Então, pra mim vocês são inocentes.
— Foi seu irmão quem te disse isso?
— Sim. Ele também disse pra desconfiar de gentilezas demais, principalmente de elfos e humanos. Disse que ser gentil e fazer gentilezas são coisas diferentes.
— Ele é inteligente. Mas, desta vez, ele está meio errado. Senta aqui, eu vou te contar uma história.
Rey ia pra perto de Connor e se sentava apoiado no colo dele pra ouvir a tal história do porquê estavam presos. Ele aproveitava pra pegar um pano sujo que haviam jogado na cela pra ele se cobrir e o usava para abanar Cristine, na esperança de pelo menos ajudar um pouco a garota.
— Fazem alguns anos... Eu estive nessa cidade procurando pela Cristine e me envolvi com gente perigosa atrás de pistas dela. Eles me disseram pra fazer algumas coisas e eu fiz sem pensar nas consequências. Foram seis meses de crime pra mim, mas tudo valia se fosse pra ter chance de encontrar ela... Mas no final, eles só estavam me usando. Quando finalmente percebi isso, acabei ficando muito, muito irritado e perdi o controle do meu poder. Eu matei todas as pessoas da gangue que estavam comigo em uma única descarga violenta de energia, mas como não estava controlando nada, acabei matando e ferindo várias pessoas inocentes. Algumas delas eram pessoas que eu tinha feito alguns laços e bem... Eu acabei fugindo. Tentei ajudar algumas pessoas antes, mas a polícia não quis enxergar isso. Tudo o que eles viam era um cara perigoso, descontrolado, que representava perigo, que tinha matado e ferido seus filhos, esposas, pais, irmãos... Enfim... Foram trinta e dois mortos e vinte e seis feridos em estado crítico, e esses foram os que eu consegui ver. Acho que de todo o nosso grupo, eu sou quem mais carrega sangue nas mãos. Não quero que vocês passem por algo como isso que eu passei, principalmente você, Rey. Eu estava planejando algumas coisas que daria pra fazermos juntos, se tudo isso não tivessem acontecido... Mas a dona sorte parece que me odeia.
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Herança de Sangue, Parte 2
FantasíaO segundo livro da saga, continuando as aventuras do nosso querido grupo em uma aventura que jamais se esquecerão!