Capítulo 12 - Delírios Febris

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Rey sequer tinha conseguido dormir. Faziam três dias desde que encontraram aquela gruta para se abrigar e as chuvas do inverno estavam começando a cair, dificultando achar lenha seca pra fazer uma fogueira e ferver água para os chás que usava para baixar a febre de Connor, que claramente precisava de um médico. Mas, se antes da fuga já seria difícil arrumar um médico por aquelas regiões das montanhas sussurrantes, agora seria uma missão praticamente impossível. E ele se sentia culpado, mas não era apenas isso que tirava seu sono pela noite: seu ferimento estava muito dolorido e as vezes sentia que ia desmaiar de dor, mas não podia se preocupar com isso agora, pois Connor estava doente e Cristine estava apenas um pouco melhor que ele. Ela também tinha febre, dores de cabeça e no corpo, além de estar sentindo fortes dores abdominais, que ela insistia em dizer que era normal. Mas Rey não queria aceitar que eles estavam em uma situação além do que poderia ajudar, então mesmo na chuva e sofrendo com dores terríveis que escondia com facilidade, ele avisou a Cristine que ia sair e pediu pra ela tomar um pouco de água da chuva que ele tinha guardado. E mesmo que ela insistisse que ele não saísse na chuva, o jovem experimento já havia partido. 

Cristine suspirava enquanto via o borrão da imagem de Rey sumindo na chuva da floresta. Ela estava se sentindo fraca e as cólicas não ajudavam a melhorar sua situação, ainda mais com Connor delirando com a febre alta as vezes. Ela perdia as contas de quanto tempo havia passado desde que Rey tinha saído na chuva, mas sentia sua garganta seca e um frio anormal, então bebia a água que o garotinho tinha deixado ao lado dela e a sensação de cada gole arranhar a garganta a fazia querer vomitar. Era estranho que não sentia fome, mas sabia que tinha que comer. Ela olhava para a fogueira que ainda estava acesa e se esforçava para se levantar e colocar um pouco da lenha seca que tinha sobrado pra que o fogo não apagasse.

— Que-quem está aí? - Perguntava Connor, com os olhos semiabertos. Sua voz estava cada vez mais rouca.

— Sou eu, irmão... Como você está se sentindo? - falar doía. 

— Bem... Bem... Só tô com muito frio. Cadê as mamães? 

Cristine demorava um pouco pra responder e ia até onde ele estava deitado, colocando a mão em sua testa só pra confirmar que ele estava ardendo em febre. 

— As mamães saíram. Foram trabalhar, disseram pra você descansar e ficar quietinho, senão não vai ganhar jantar hoje. 

— Tá bem... É que eu tô com saudade delas...

— Eu também, Connie... Eu também. Mas tenta dormir tá bem?

— Tá bem... 

Ela ficava acariciando o cabelo dele até que se acalmasse e então pegava um pano e molhava com água, que controlava pra ficar fria e colocar na testa dele. Mas até usar seus poderes naquela situação estava deixando-a cansada, como se precisasse se esforçar três vezes mais pra fazer uma coisa simples com eles. Cristine ficava olhando para o lado de fora da gruta, se perguntando se Rey estava bem, sozinho, debaixo de chuva. Mas ela não tinha opção a não ser confiar que ele voltaria o mais rápido que pudesse, embora isso não a deixasse menos preocupada. Quando finalmente sentou-se para tomar um pouco mais de água, pensou ter ouvido a voz de Drake e Angelo, o que a fez correr para a entrada da gruta mas quando olhava pela cortina vegetal, via apenas a chuva e sentia o vento frio tocando sua pele causando arrepios. A garota trocava a água do pano que cobria a testa de seu irmão, usando seus poderes para resfriar a água novamente e sua visão ficava embaçada, as paredes da gruta começavam a girar, ela segurava firme a mão de Connor e fechava os olhos por alguns instantes, até sentir a vertigem passar pra recolocar o pano frio na testa de seu irmão e voltava a se sentar próximo a ele, encostando na parede fria da gruta. O som da chuva caindo e o frio que sentia a estava deixando com sono, um sono irresistivelmente forte que forçava seus olhos ardendo a fechar pesadamente, sua respiração começava a ficar dolorida e ela era atingida por um acesso de tosse antes de perder a consciência. 

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora