Capítulo 8 - Aprendizados no Limbo

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— Lembre-se, Angelo: o tempo aqui é irrelevante. Se você se concentrar no "agora", pode ter visões turvas na Fonte e ao invés de enxergar o que quer, vai enxergar o que deseja. Você conseguiu várias vezes me mostrar pessoas, mas do nada começou a ter dificuldades. Sua cabeça está em outro lugar?

— Não, eu só não estou conseguindo focar.

— Quer dar uma pausa?

— Sim, por favor...

Angelo tirava as mãos da Fonte e caía ajoelhado ao lado dela. Sentia que estava tentando se comunicar de novo com a Fonte há séculos, mas sempre sem sucesso. As vezes que conseguia se comunicar, olhava o passado e planos desconhecidos por ele, que Nibar avisava para se afastar pois haviam perigos que ele não estava pronto para lidar. Ainda assim, ele se sentia frustrado por não conseguir buscar de novo por seus entes queridos.

— Quer recapitular o que aprendeu até agora, querida criança? - perguntava elaz gentilmente.

— Aprendi a reconhecer raças, como elas são mostradas na imagem do mundo na Fonte. Aprendi a fazer pequenas projeções de poder a partir da Fonte, mas isso ainda precisa ser trabalhado bem mais. Aprendi a visualizar as auras e emoções de pessoas, mas só tenho conseguido visualizar grandes grupos e cidades... Aprendi a controlar um pouco meu poder também, com ajuda da Fonte.

— Exatamente. Você está aprendendo rápido demais, o que não é ruim! Está sabendo aproveitar a quebra de tempo deste lugar, mas não está completamente habituado ainda. Precisa aprender a meditar pra se acalmar, todas essas emoções difusas vão te atrapalhar na comunicação com a Fonte e até mesmo em seu aprendizado. Sei que a meditação é difícil pra você, mas precisa tentar. Se afaste um pouco da Fonte e dê uma volta.

— Tá bem.

Ele suspirou quando se ergueu para caminhar pelo Limbo. Novamente, ele se via passeando sem rumo por aquele lugar fora do tempo, onde tudo parecia estar debaixo d'água ao sabor de ondas suaves e o céu caleidoscópio lhe deixava agitado. Por mais que tentasse descansar, sua mente não lhe permitia. Estava estressado, ansioso, cansado, preocupado, um misto de sensações que faziam com que sua mente divagasse por todo tipo de lugares. Não demorava muito a chegar em um lugar "novo" no limbo. Ele não sabia dizer realmente se era novo, mas não tinha alcançado aquele lugar antes. Era um lugar seco e árido, com árvores espinhosas e retorcidas tentando alcançar o céu pálido e suas nuvens avermelhadas. O jovem suspirava e se sentava próximo a uma dessas árvores para observar melhor o lugar. Talvez fosse um prado verdejante antes do tempo quebrar no Limbo e avançar muito no futuro, regredir muito no passado ou estar mostrando apenas o presente, era realmente difícil dizer. Após descansar um pouco, resolveu seguir andando por aquele deserto árido e estranho para saciar sua vontade de explorar, tocando a areia e sentindo a sensação seca e empoeirada escorrer por seus dedos. Tocava suavemente os espinhos das árvores para vê-los retrairem e a árvore descer para o subsolo antes de voltar à superfície depois de algum tempo. No começo estava achando divertido, até pensar que Connor e Drake eram assim: quando cutucados ou algo que os incomodava acontecia, de retraíam e só depois de um tempo voltavam ao aparente normal, mas sempre com algo diferente. No caso dessas plantas, voltavam com espinhos a mais pra se protegerem melhor.

— Será que todas as pessoas são assim? Ou melhor, será que eu sou assim? Bem, acho difícil algo me incomodar a ponto de eu me fechar pro mundo, mas se acontecer... Como eu vou reagir? Será que volto cheio de espinhos a mais, ou cresço mais em direção ao que eu quero? Eu queria saber, mas também não queria... Reagir ao novo e a traumas é algo que com certeza não é legal.

Angelo sentia que uma resposta para suas perguntas estava sendo respondida pela natureza peculiar do Limbo, mas não conseguia entender. Era literalmente uma resposta em forma de sentimento, sons e cheiros que se uniram pra formar uma sensação que o fazia crer que a resposta estava quase ali, ao alcance de sua mão. Ele conversou por um tempo com as plantas ali, vendo o crescimento delas e ficando cansado até que decidiu encostar a cabeça em uma pequena pedra e dormir. Nos seus sonhos, uma visão de Rosalie o fez acreditar que ainda estava perto da Fonte: a enali estava, ao invés de tentando capturar, protegendo os corcéis dourados do ataque de caçadores, tirando eles de uma armadilha que havia os ferido e cuidando de suas feridas. Logo, o sonho foi ficando turvo e ele viu Drake novamente em um navio, treinando. Logo, a imagem mudou e ele viu Connor delirando de febre deitado no colo de Cristine, seguido de Rey que estava ferido e voltando para onde os irmãos se encontravam. Quando acordou, estava sozinho no mesmo lugar onde havia dormido.

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora