Capítulo 11 - Undin

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Undin estava ofegante, suas roupas estavam rasgadas e o quarto estava completamente destruído. Ele ainda estava se recuperando de seu pequeno surto destrutivo e enquanto arrumava os cabelos e organizava sua roupa, todos os danos iam revertendo e quando finalmente colocou seu sobretudo e olhou-se no espelho, o quarto já estava impecável novamente e até mesmo suas roupas já estavam em perfeitas condições. Ele saía do quarto deixando uma moeda de ouro no travesseiro e caminhava olhando em um aro metálico que tirava do bolso.

— Aqueles desgraçados! Eu espero que o Koran e a Sari não cruzem meu caminho novamente ou vou matar eles seis vezes! Me colocar em transe foi um golpe extremamente baixo! Por causa deles eu estou atrasado!

Apesar de toda irritação descontrolada, ele deixava o lugar tão imerso em sua fúria que sequer notava que uma pessoa o enxergava mesmo que ele não quisesse e que agora o seguia. Undin andava um pouco mais tranquilamente sob a luz do sol e pela primeira vez em dezenas de anos se permitia parar um pouco para admirar as flores que uma pessoa tratava com tanto cuidado na soleira de sua janela. Eram cenas como essa que faziam seu coração pesar e talvez até sentisse culpa pelas coisas que sentia que tinha que fazer como uma obrigação. Precisava consertar tudo, a despeito de deidades e de tudo o que o povo que andava inocentemente pelo mundo inteiro desconhecia, mas que ele tinha visto com seus próprios olhos centenários e precisava mudar. E já que os outros Legados apenas seguiam as ordens de seu mestre, ele iria fazer isso sozinho. Não exatamente sozinho... Os garotos da visão em que seu plano dava certo estavam ali e ele só precisava encontrá-los e tratar de sua melhora para poderem realizar a grandiosidade de seu plano. E, com isso em mente, voltou a caminhar para o hospital e ainda não percebia que estava sendo seguido. 

Quando finalmente chegou ao hospital, foi direto para o quarto de Angelo ver se ele já havia acordado e, como se para deixar Undin ainda mais irritado, ele continuava dormindo. Um dos médicos que estava na sala dizia que o quadro dele era no mínimo estranho, já que com o tratamento que havia recebido já era pra ter acordado. Era como se ele tivesse sofrido ainda mais danos do que o exame mostrava, mas seu corpo estava em perfeito estado e Undin podia constatar isso ao tocar a testa do jovem enali e sentir que até mesmo sua energia estava fluindo corretamente pelo seu corpo. Quando os médicos deixavam a sala e uma nova pessoa entrava se sentando ao lado de Angelo, Undin se afastava do jovem e ficava pensativo por um momento, até que tentava usar de seus poderes para despertar o enali e ainda assim não funcionou. 

— Não vai dar certo, Legado. 

E só nesse momento Undin notou a presença da mulher sentada em uma poltrona perto de Angelo, comendo uma maçã e olhando para ele com um certo cinismo que o deixava profundamente incomodado. Ainda assim...

— Selena Clever... Uma das raríssimas pessoas que consegue ver os Legados, sabe quem nós somos e continua tendo a dádiva de respirar. Que encontro desagradável. 

— É sempre um desprazer te ver, Undin. Toda vez que cruzo caminho com algum dos Legados já sei que o dia vai ser ruim. Exceto Sari, é uma criança adorável quando não enlouquece. 

— Me seguiu até aqui só pra isso? Que bela cadelinha de guarda! O Exílio cuidou bem de você?

— Melhor do que imagina! Ser exilada me deu forças e tempo pra pensar. Mas não, não segui você até aqui só pra isso. 

— E por qual razão uma condenada à três prisões perpétuas me seguiu? 

— Condenação exagerada não acha? Eu estava curiosa pra saber o porquê logo você apareceu no mesmo lugar que eu estava, mas aparentemente o filho da Amélia está envolvido sem saber em algum dos seus planos estranhos. O que é dessa vez? E não me responda com o clichê "é algo que vai mudar o mundo", estou cansada de ouvir isso e nem vivi tanto tempo quanto você e seus irmãos. 

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora