O guarda abria com dificuldade as portas de ferro da cela subterrânea e hesitava um pouco, pois já sabia o que ia encontrar. Depois de alguns instantes, ele entrava. Com a nevasca da noite anterior, o lugar estava úmido e muito gelado, a ponto de pequenas camadas de gelo ficarem visíveis nas paredes e em alguns lugares do chão na cela mal iluminada. Ainda assim, o pior anda estava por vir. Ver aquele homem empalidecendo aos poucos, com tubos de metal perfurando suas costelas, pernas e costas enquanto continuava pendurado por correntes, era um vislumbre de um castigo que os piores criminosos poderiam receber. Mas o único crime que ele realmente tinha cometido pra receber tal punição era simplesmente o fato de ter nascido naquela família.
— Olá, Connor. - ele dizia em voz baixa ao se aproximar. — Trouxe comida e remédios pra você.
Olhar aqueles belos olhos dourados sem brilho era uma tarefa difícil, mas nenhum outro guarda conseguiria fazer nada a respeito. Nenhum deles daria comida direito ou passaria os remédios com cuidado, como a senhora Kali havia instruído. As correntes que o prendiam suspenso desciam apenas o suficiente para que ele fosse alimentado com aquela comida pastosa e suco de cor indefinida, que ele comia devagar e obediente, mas ainda se sujando no processo. Seus olhos pareciam vidrados no chão e ele não esboçava qualquer tipo de reação, seu cabelo havia crescido a ponto de quase cobrir seus olhos e uma barba desgrenhada começava a cobrir seu rosto. Ele parecia uma sombra do que era quando chegou ali, estava muito pior do que quando foi capturado, era como se algo dentro dele tivesse sido arrancado. Para ser justo, realmente estava sendo. Depois de ter certeza que ele tinha tomado as pílulas, começava a passar uma pomada em volta da entrada dos tubos pra evitar que a pele ressecasse e rasgasse. O guarda deslizava o olhar pelos tubos enquanto passava a pomada e observava as máquinas ligadas a eles, doze no total, constantemente drenando os poderes do jovem e os colocando em reservatórios especiais que já estavam quase cheios, mas o medidor de potencial mágico preso ao pulso dele indicava que não havia sido drenado sequer metade.
— Impressionante...
— O que é tão impressionante?
A senhora Kali entrava na cela, assustando levemente o guarda que se virava para vê-la e se curvava em respeito. Ela mantinha uma beleza anormal para alguém de sua idade, mas isso era comum nos elfos. Seus olhos demonstravam uma frieza anormal enquanto se aproximava para olhar o medidor. Sequer parecia que o homem pendurado ali era seu neto. Seus olhos brilhavam apenas quando verificava o medidor e olhava para as células reservatórias de energia.
— Realmente impressionante. Tanto poder! Tanta capacidade e potencial desperdiçado. Se ele não fosse quem é, talvez fosse uma adição de ouro ao exército.
— Senhora, com todo o respeito, mas me permite fazer uma pergunta?
— Claro.
— Porquê não colocá-lo na guarda? Ouvi falar de um recurso onde se controla a mente da pessoa com um equipamento acoplado na nuca e que é à prova de falhas, muitos estudiosos se empenharam nisso e só uma pessoa controlada conseguiu sair desse controle, mas como até agora não foi encontrada, deram como morta.
Essas palavras pareciam ter despertado o homem preso, que levantava o rosto devagar para olhar o guarda. Algo naquela fala parecia ter despertado ele do transe e agora prestava mais atenção. E isso não passou despercebido por nenhum dos dois naquela cela.
— Não gosto desse tipo de equipamento. E outra, não daria certo com ele. O potencial energético dele acabaria sobrecarregando isso.
— Entendo, senhora. Perdão por incomodá-la com este assunto.
Ele se curvava novamente e ela saía da cela, mas parava na entrada e voltava para frente de Connor, mostrando um sorriso malicioso e triunfante que o deixava visivelmente irritado. E ela parecia se divertir com aquilo.
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Herança de Sangue, Parte 2
FantasyO segundo livro da saga, continuando as aventuras do nosso querido grupo em uma aventura que jamais se esquecerão!