Capítulo 10 - Desafio

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Teach não tinha perdido a noção dos dias pois estava anotando todas as noites atrás dos cartazes de procurado que havia pego o tempo que passou. Desde que saiu do porto de Kalindor, o jovem estava empenhado em fazer suas tarefas. Ele trocou o óleo das lamparinas do navio pelas pedras de fogo e explicou para a tripulação como utilizá-las do jeito correto, mas eles só ouviam atentos pois a capitã mandou prestarem atenção. Muitos ali ainda desconfiavam de Teach e o boato espalhado faziam as coisas ficarem ainda piores para o lado dele, por mais que já tivesse feito alguns amigos ali. O estudo sobre navegação o ajudou bastante a cair ainda mais nas graças de Amara, que agora podia conversar muito mais do que ensinar alguma coisa enquanto estavam juntos, já que era difícil pra ela conseguir se concentrar em ensinar algo pois acabava se distraindo e falando de coisas aleatórias sobre aventuras que já passou no mar desde que encontrou com a capitã e como gostava de estar no navio e sobre o tempo e sobre o gosto da comida e sobre como o cheiro da carne de porco é estranha e por conta de coisas assim ela dizia que era impossível focar, exceto quando a capitã pedia pra ela traçar alguma rota segura e também quando estava rabiscando mapas de suas próprias aventuras marítimas. Teach gostava do tempo que passava com Amara pois adorava ver como ela tinha um espírito leve e livre, mesmo que não saísse do navio. Ele também tinha começado a dar aulas noturnas à capitã Von Draken, que custava a conseguir aprender mas já mostrava alguma evolução pois tinha começado a escrever seu nome, mesmo com letras que mais pareciam garranchos infantis. Ela sempre deixava alguns sorrisos escaparem quando conseguia escrever algo e estava começando a aprender a ler palavras simples, era difícil pronunciar o que estava escrito mas ela se esforçava bastante.

Zach continuava importunando Teach, mas agora não era apenas ele, outros marujos também começaram a judiá-lo, fazendo-o cair da escada enquanto carregava algo pesado, sujando o convés quando ele tinha acabado de limpar e alguns até colocavam um saco em sua cabeça antes de jogá-lo pra fora do navio com as pernas amarradas, mas logo ele era puxado pra não dar muito na vista. Apesar de saber que isso era errado e ruim, ele não reclamava. Estava passando por momentos bons com os que o queriam por perto e não ia deixar que coisas assim o deixasse pra baixo. Porém quatorze dias de constante perseguição o deixou irritado, mas não a ponto de revidar pois queria manter uma certa calma no navio, e a capitã informou a todos a equipe que iria descer do barco já que eles iam aportar em uma ilha pra pegar alguns recursos.

— Colins, Rudger, Sam, Jack e Teach. Peguem um pouco de lenha seca, as frutas que acharem, água e se encontrarem alguma coisa interessante, tragam pro navio. Eu quero pelo menos seis barris com água pra gente ter o que beber além do rum e pro Jorge cozinhar pra vocês. Tentem não morrer, tem uns animais na ilha e só vocês não foram até agora. Vamos passar dois dias aqui, não quero desculpas pra não conseguirem os mantimentos! Quem não trouxer o que eu mandei dorme amarrado na proa por duas semanas!

Isso despertava o riso de vários da tripulação que já iam se aproximando deles pra dar algumas dicas.

— Sem ajudar eles, pessoal. Quero ver como esses cinco vão se virar.

— O que a gente pode levar pra de defender dos animais, capitã? - perguntava Teach.

— Coragem e esperteza. Levem uma arma e tomem cuidado, quem morrer não vai ser enterrado. Amara, eu quero ver uma parte da rota com você.

Dito isto, a capitã saía do convés e chamava Amara que ia a seguindo, mas não antes dela desejar boa sorte aos cinco dando um abraço em cada um e voltar correndo pra não deixar a capitã esperando. Como os meses invernos estavam começando, Teach estava preocupado em não conseguir achar madeira seca, mas ia tentar dar um jeito. Outra coisa que o preocupava eram os animais na ilha, já que não sabia quais eram. Então, enquanto arrumava as coisas que iria levar, decidiu levar uma adaga. A depender do tipo de animal, seria melhor uma arma ágil ao invés de uma arma pesada e longa, pois também não sabia que tipo de bioma aquela ilha teria. Pelo que ele havia lido no livro de navegação, o fluxo de poder que permeava o mundo através do Véu as vezes mexia com os biomas em locais isolados no oceano e fazia com que algumas ilhas se desenvolvessem anômalas até mesmo com o clima, por exemplo, não era difícil encontrar uma ilha tropical no meio de um oceano congelado. Mas outra coisa que o preocupava é que os quatro que estavam indo junto pra ilha eram parte das pessoas que ficavam o importunando e talvez tentassem atrapalhar sua coleta pra que ele tivesse que dormir amarrado na proa. Quando estava terminando de arrumar as coisas que iria levar, eles aportaram e Teach subiu para ver a ilha do convés. Realmente, era notável que a ilha tinha seu próprio bioma estranho pois enquanto estava apenas nublado na maré onde o navio ancorou, estava chovendo só na ilha, que ainda assim estava bem iluminada pela luz do sol, mas como ela atravessava as pesadas nuvens de chuva era um grande mistério. 

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora