Capítulo 2 - Limbo

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Angelo caminhava pela floresta, pensativo. Para ele e qualquer um de sua tribo, ou até mesmo de qualquer tribo ou cidade enali, estar na presença de Nibar e se tornar um protetor era uma honra imensa. Ele não tinha noção de quanto tempo havia se passado desde que chegara ao limbo, onde a Fonte era protegida, já que ali o tempo e também o espaço eram incertos, quase como se passado, presente e futuro se misturassem. Nibar havia lhe dado duas opções, ficar e ser treinado para proteger a Fonte e ser o próximo guardião, ou voltar para ficar ao lado de seus amigos e das pessoas que ama, já que também precisavam dele. Ele parava à sombra de um grande carvalho que exalava uma luz bruxuleante e suas folhas se moviam quase como se estivesse em baixo d'água. O jovem olhava para suas mãos e tentava se focar, para ver se conseguia enxergar seus ferimentos, mas nada mudava. Ele parecia ainda mais saudável, mas sentia algo como uma agulha sendo colocada em seu braço. Instintivamente, ele cobria o local com a mão.

— Isso é... Tão estranho... Eu não queria ter que decidir entre nenhum dos dois... A maior honra enali ser entregue a mim, ter controle dos poderes e ficar longe de todos, ou voltar para o Lar e acabar morrendo tentando salvar e juntar todo mundo... É uma decisão difícil, senhora Nibar...

— Percebeu que eu estava te observando, querido Angelo?

— Sim...

— Eu entendo que essa decisão seja muito pesada, ainda mais pra um jovem adulto cheio de sonhos e esperanças... Mas é assim que as coisas são.

— A vida não é justa...

Angelo abraçava suas pernas e escondia seu rosto entre os joelhos. Nibar se aproximava e se sentava próximo a ele, passando a mão em seus cabelos para acalmar os pensamentos do jovem.

— Você sabe o que seu nome significa?

— Mensageiro, ou anjo... Mamãe me contou uma vez e eu nunca mais esqueci.

— O anjo mensageiro, Angelo... Soa bem, não é?

— É... Senhora Nibar... Faz muito tempo que me observa?

— Eu te vi nascer e acompanhei parte do seu crescimento, mas não fiquei só te observando. Comecei a te dar mais atenção quando ganhou esta marca. - ela tocava o rosto de Angelo. — Vocês são sempre meus favoritos.

— Por quê?

— Pelo simples fato de que vocês são escolhidos... Destinados à grandeza, mas limitados pelo pensamento de alguém que não conseguiu enxergar isso dessa forma.

— Hm...

Um silêncio pesado se instalou entre eles, cortado apenas pelo som das folhas ao vento. Depois de um tempo, Angelo levantou a cabeça e olhou para o céu, que estava repleto de estrelas e planetas, mesmo estando tão claro naquele lugar.

— Sabe... Eu percebi que não tenho como escolher. Meus amigos e minha família, enquanto eu não conseguir pelo menos falar com eles uma última vez, eu nunca vou conseguir me tornar um guardião... Vou acabar sofrendo demais e negligenciar o trabalho. E se eu escolher ficar aqui, minha mãe, meu pai e meus amigos vão sofrer enquanto meu corpo não reagir e eu não abrir os olhos. Eu preciso pensar... Se o Connor ou a Cristine estivessem aqui, eles iam escolher voltar, eles são tudo o que o outro tem. Se o Drake estivesse aqui, talvez ele escolhesse ficar. Apesar de que eu acho que ele ia ser emocional e voltar. Ele ia querer escrever sobre esse lugar...

— Mas e você, Angelo?

— Eu não sei... Eu não... Eu não quero te decepcionar e nem abandonar meus amigos. Você acredita no meu potencial e me escolheu dentre tantos enalies honrados pelo tempo... Eu seria ingrato e burro se perdesse essa chance.

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora