Capítulo 13 - Atitudes e Consequências pt. 1

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Rey finalmente conseguia abrir os olhos, o frio da chuva que caía parecia piorar ainda mais a dor do seu ferimento, mas a sensação ruim que sentia não passava de forma alguma. Ele colocava a mão na ferida e sentia a crosta de sangue seco em sua roupa, mas também sentia que o sangramento tinha parado, ainda assim não estava com forças o suficiente pra se levantar. Estava sentado com as costas apoiadas em uma árvore e pela primeira vez pedia aos deuses para que ajudassem. Ele conseguia lembrar de seu irmão dizendo que pedir algo aos deuses era bobagem já que eles eram todos surdos, cegos e mudos. Nunca ajudariam ninguém, muito menos escravos, então eles tinham que agir sem esperar que alguma ajuda caísse do céu. Mas agora ele não era mais escravo e estava desesperado por ajuda. A frieza da chuva em sua pele se misturando com o calor de suas lágrimas o deixava ainda mais desesperançado, era como se a natureza ao seu redor dissesse que não adiantava o esforço, nada ia mudar. Ele ia continuar ferido, desesperado e sozinho. Nunca ia conseguir encontrar seu irmão, nem seus mestres que o acolheram com tanto carinho, nem ia conseguir escapar do cruel destino que o aguardava. Suas mãos trêmulas se agarravam com toda força que lhe restava pra fazer um último pedido, pois já sentia que ia desmaiar de novo e talvez desta vez não voltasse a abrir seus olhos novamente. 

— Por favor, senhora Larael... Meu irmão disse que vocês são todos cegos, surdos e mudos, mas por favor... Você é a deusa que protege os feridos e doentes. Por favor... Por favor... Proteja o senhor Connor e a senhorita Cristine. Não deixa eles desamparados, faz eles melhorar e cuida deles, por favor... Eu imploro... Salva eles...

E enquanto sua visão ia escurecendo, ele sentia o cheiro familiar de seu irmão e se permitia dar um último sorriso. Tinha encontrado seu irmão antes de partir. 

★★★

Cristine estava tendo um sonho permeado por vozes do lado de fora. Ela sabia que não estava acordada pois estava novamente em uma mesa de taberna com as quatro pessoas que conviveu nos últimos tempos: Connor discutindo com Angelo, Rey tentando comer com uma colher e Drake oferecendo um copo de suco pra ela, que aceitava com um sorriso. Era um sonho bom e caloroso, mas o barulho de chuva e o som de cascos de cavalo do lado de fora a deixavam incomodada. 

— Cristine? - Drake chamou. — Você não parece muito bem. 

— Ah, não é nada... O que você leu hoje? - ela tentava mudar o rumo da conversa.

— Um livro sobre a história de uma cidade, mas não tem tanta importância assim. Estamos aqui, juntos! Todos nós. E nada vai nos separar.

Ela olhava para os rostos e sorrisos dos quatro à mesa com ela e isso parecia abrir uma ferida em seu peito, ainda mais quando as imagens começaram a borrar e ela sentia as lágrimas correndo por seu rosto. A garota se recusava a abrir os olhos pois ainda conseguia lembrar dos sorrisos deles e isso a fazia querer não acordar mais. Ela passava a mão pelo rosto e sentia uma movimentação ao seu redor, mas ainda não queria abrir os olhos, nem mesmo quando sentiu uma picada em seu pescoço que a fez voltar para o mundo dos sonhos... Mas desta vez não estava na taberna com seus companheiros, mas sim de volta a uma cena que preferia não lembrar: ela estava de volta ao dia em que perdeu suas mães. 

Connor estava de olhos abertos. A viagem que estavam fazendo parecia ser longa e os captores perceberam que ele estava fraco demais para usar seus poderes, por isso apenas o acorrentaram e deram um remédio colocado em um chá pra que a febre diminuísse. Em troca, ele prometeu cooperar. 

— Estão nos levando ao Exílio?

Não obteve resposta. Era de se esperar. Pelo menos dentro daquela carroça com uma tenda não estava frio e úmido, mas ainda estava ruim. Blocos de feno cobriam as laterais da carroça e o chacoalhar da estrada o estava dando ânsia de vômito. Ele acariciava os cabelos de Cristine que agora se mexia demais e respirava muito forte enquanto dormia, sinal claro de que estava tendo um pesadelo, mas não tinha como a acordar com aquele sedativo. 

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora