Capítulo 6 - Descobertas

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Dois dias se passaram desde que Teach recebeu o livro de Von Draken e entre a limpeza do navio, o estudo cartográfico com Amara, mais treinamento com Salazar e maus tratos por grande parte da tripulação, principalmente por Zach, ele lia. O jovem havia levado uma lamparina para a parte das celas do navio e estava já nas últimas páginas quando Von Draken desceu até lá. Ele estava tão entretido com o livro que nem percebeu que ela havia chegado. Von Draken parou ao lado dele e deu um tapa leve em sua testa.

— Não vai cumprimentar a capitã?

— Desculpe, eu nem percebi que estava aí. Boa... Tarde?

— Sim, quase boa noite. Gostando da leitura?

— Sim, a história dos três reinados é interessante! Este livro foca mais na história do reinado de Auruel, o reino élfico e suas alianças com os outros reinados. É um livro muito bom, com um foco mais abrangente na cultura e nas relações sociais do reinado. Muito obrigado por me dar esse livro capitã! Você já leu?

— Não, eu não sei ler. Mas que bom que você gostou. Conseguiu se lembrar de algo?

— Infelizmente não. O nome de uma cidade me parece familiar, mas não me fez lembrar de nada nem de ninguém.

— Hm. Certo. Você sabe escrever também?

— Creio que sim, capitã.

— Sabe ensinar? Eu quero aprender a ler. Acho que isso pode ser útil em algum momento, apesar de eu não ter tanto tempo assim.

— Não sei se eu sei, mas posso tentar. Tava falando com a Amara e ela disse que nós vamos passar no porto de Kalindor, subindo pela fronteira de Raconys. Se me deixar descer, posso tentar arranjar papéis e lápis.

— Diga que é pra você.

— Sim senhora. Ah, capitã... Pode me tirar uma dúvida? É que eu não sei se vai se ofender ou não...

— Se eu ficar ofendida, você dorme pendurado no mastro. E agora não tem chance de voltar atrás, pode perguntar.

— Então... - Teach engolia em seco. — Se a senhora não sabe ler... Como reconhece poesia?

Von Draken respirava fundo e se sentava em um barril um pouco mais à frente dele, cruzando as pernas e colocando o sabre repousado ao seu lado.

— Quando eu era pequena, minha mãe lia pra mim. Eu não lembro muito bem do rosto dela, mas como não tínhamos tanto dinheiro assim, ela não pôde me colocar em uma escola. Ou ao menos, era o que ela dizia.

— Como assim?

A capitã olhava para ele, como se pensasse bem no que estava prestes a dizer ou como se não conseguisse encontrar as palavras certas para aquilo.

— Bem... Digamos que por mais que minha mãe fosse muito bela, além de gentil e cuidadosa comigo, eu nunca soube quem era meu pai. Principalmente porque vários homens apareciam na nossa casa. "Casa" ainda é um jeito de dizer, nós morávamos no trabalho dela. Minha mãe teve uma vida muito difícil e não sinto vergonha do que ela fez pra me criar, já que ela nunca me deixou passar fome e fez o possível pra que eu aprendesse a me defender. E eu adorava quando ela lia pra mim, ou contava histórias de outros mundos fantásticos, com servatrizes, com ninjas, com coisas do futuro... - ela então parava, suspirando. — Sinto falta dela... Depois que eu virei mocinha, as coisas ficaram ainda mais complicadas, já que o dono do trabalho dela me via como uma mercadoria valiosa. Virgens são caras e o leilão de uma rende bastante. Ela me fez prometer que se eu conseguisse fugir, nunca mais voltaria lá. Ela conseguiu essa brecha. Ela morreu por isso. Eu fugi e nunca mais voltei.

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora