Capítulo 15 - Connor

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Já haviam passado alguns dias. Não havia sinal de sua suposta avó, muito menos de sua irmã. 

Algumas semanas passaram. Pessoas iam e vinham, cortavam seu cabelo, davam banho, o alimentavam, mas não falavam sobre sua irmã ou da senhora Kali.

Aqui, o tempo já estava confuso. Seus braços e pernas tiveram que ser desacorrentados pois estavam ficando em carne viva. Agora, as pesadas e gélidas correntes estavam em seu pescoço, barriga e coxas. Mas ainda nada de sua irmã, ou da senhora Kali.

Sem noção de tempo, dia ou noite, ele começou a analisar os guardas que iam e vinham de seu cárcere. Um deles era mais gentil que os outros, um outro era muito mais violento, um outro mancava, um outro tinha o hábito de cortar fatias de frutas com a mão esquerda e fatias de pão com a direita, um deles respirava pesado demais, um estava sempre espirrando e talvez fosse pela poeira na sala, mas ninguém além deles o visitava e estava começando a achar que o plano dela era apenas o trancafiar até definhar lentamente. 

Mais tempo se passava, e finalmente as pesadas portas de ferro que fechavam seu cárcere se abriram. Ele não olhava, pois sabia pelos sons dos passos quem era. Era o carcereiro gentil. Mesmo com os olhos fechados, ele sabia mais ou menos onde o carcereiro estava, mas se assustava quando algo cremoso era encostado em sua boca e então abria os olhos, tentando se afastar, só pra ver uma tortinha na mão dele.

— Não quer comer?

Era a primeira vez que ouvia a voz dele. Uma voz suave, doce, parecia acalmar seus sentimentos por um momento e ele fazia que sim com a cabeça. A tortinha estava realmente muito boa, o sabor do chocolate junto ao creme meio amargo era uma combinação que causava ao jovem um misto de nostalgia e dor, pois era o mesmo que sua mãe fazia. Uma lágrima escorria pelo seu rosto e o carcereiro a enxugava.

— Está ruim? - de novo aquela voz reconfortante.

— Não... É que... É igual ao da minha mãe... Achei que não podiam falar comigo...

— Não podemos.

— Então? O que mudou?

— Você estava muito calado. Achei que conversar um pouco poderia te ajudar a aguentar um pouco mais o cativeiro. Mas se falar pra alguém que eu falei com você, vou negar e parar de te tratar bem.

— Não vou falar a ninguém. Prometo.

Dava pra perceber que ele esboçava um sorriso por trás da máscara que cobria o seu rosto. O carcereiro passava a mão pelos cabelos do jovem, que recuava instintivamente ao toque.

— Precisa cortar o cabelo, vou informar ao pessoal. Precisa estar apresentável.

— Apresentável?

— Sim. Senhora Kali vai vir te ver hoje.

Essas palavras batiam nele como bolas de ferro. Já havia perdido a noção do tempo ali, talvez tivessem se passado semanas ou meses desde que a tinha visto pela última vez e desde então... Só suas correntes haviam trocado de lugar. Várias coisas se passavam em sua mente e algumas estáticas crepitavam pelas correntes que o prendiam, até o carcereiro segurar seu rosto com as duas mãos.

— Não faça isso. Temos ordens de te dar um "tratamento especial" se você perder o controle. Olhe nos meus olhos e prometa que vai se comportar. A senhora Kali não está tentando fazer mal a vocês, mas se você, principalmente você se descontrolar... As coisas podem ficar muito feias. Você quer ver sua irmã, não quer?

— Mais do que qualquer coisa nesse mundo... - ele respondia fracamente.

— Então seja um bom menino e se acalme. Fazer as coisas contra o que ela quer só vai piorar a situação e te impedir de ver sua irmã.

Herança de Sangue, Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora