Exatamente às seis horas da manhã, como de costume, o relógio de cabeceira apitou. Win demorou a se acostumar com aquele despertador irritante, mas ele já devia saber que, com o tempo, tudo ficava mais fácil. Nos acostumamos com as piores coisas e, no fim, acaba nos restando mais vazio do que prazer.
Ele esfregou os olhos mais ou menos quatro vezes. Acordar cedo, antes que o sol nascesse completamente, ainda era perturbador, mesmo que Win já estivesse acostumado. Era um ritual, uma questão de necessidade. Precisava acordar às seis, às vezes seis e meia, para caminhar no parque antes de ir para a delegacia.
Win acordava, ia até o banheiro, observava a imagem sonolenta refletida no espelho, lavava o rosto, arrumava a cama e aparecia na cozinha. Bebia um pouco de água e procurava algo para comer. Às vezes, escolhia cereal, um pão, porém, o café não podia faltar. O bom e velho café preto, feito pela máquina que ele demorou a aprender a usar. Não tinha problemas para admitir que café era o seu vício.
Gostava da sua rotina e não tinha a mínima vontade de mudá-la. Era sempre a mesma coisa, exceto pelo café da manhã. Mudanças o assustavam. Era bom que soubesse quais passos precisaria dar e o que faria em cada horário. Ter o controle da própria vida era essencial para si. Ele se sentia seguro.
O apartamento era confortável. Para quem morava sozinho, estava de bom tamanho. Gostava de ter o próprio lugar e a própria paz, embora se sentisse solitário na maioria das vezes. O pessoal da delegacia o fazia companhia quando conseguiam uma folga no trabalho, especialmente Fong e Type. Win sentia que podia confiar no parceiro de trabalho e no próprio chefe. O seu problema era não ter confiança nas pessoas em geral, e grande parte daquilo era resultado dos problemas que tinha com a família. Win não era um filho ruim, nunca foi um mau garoto, ele não escolheu viver em um lar em conflito. Sua vida foi moldada sem que tivesse controle. Talvez aquele fosse o motivo de gostar tanto de controlar tudo ao seu redor agora, porque antes, não teve a oportunidade. De qualquer forma, eram águas passadas.
A cozinha estava sendo iluminada aos poucos pelos raios de sol vindos da janela. Win não tinha palavras para descrever como gostava de sentir a quentura em sua pele e o silêncio da manhã. Era possível ouvir os cantos dos pássaros e os seus vizinhos se aprontando para saírem de suas casas, coisa que ele já devia ter feito, se não houvesse acordado com tanta preguiça.
Uma caneca de café cheia e algumas bolachas foram o suficiente para Win, que correu apressado até o quarto para tirar o pijama e vestir uma roupa para a sua caminhada matinal. Um conjunto de moletom estava em seu corpo em segundos. Ele agarrou o Ipad depois e deu play em sua playlist favorita. Saiu do prédio com "As The World Caves In" de Matt Maltese soando em seus ouvidos.
Quando corria no parque, praticamente sozinho, a respiração relaxava e a mente se tornava um papel em branco. Ele fazia sempre o mesmo circuito, ora pela pista de corrida, ora pelo caminho secreto por dentro do bosque, onde não avistava ninguém e sentia a brisa da manhã em sua pele. Aquele era o único momento em que Win tinha paz, quando estava fora da delegacia, distante de todos aqueles casos para resolver, momento até quando esquecia do detetive que era. Viver no meio de tanto mistério, entre uma investigação ou outra, casos de assassinato e muito mais, era estranhamente bom e fatigante ao mesmo tempo. Era como se vivesse dentro de um castelo de cartas, onde sentia tudo muito frágil e que a qualquer momento as coisas pudessem desmoronar. Um passo em falso e tudo acabaria. Tanto a sua carreira como detetive, como o caso investigado. Honestamente, viver era exaustivo.
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— Quantas canecas de café você já tomou essa manhã, detetive?
Win soltou um riso fraco pelo nariz ao ouvir a fala de Fong. Ele havia acabado de entrar na delegacia onde todos dividiam o espaço e cada um tinha a sua própria mesa. Melhor amigo eram palavras que não existiam no vocabulário de Win, mas Fong era a pessoa que chegava mais perto daquilo.
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Castelo de Cartas
FanfictionWin Metawin é um detetive renomado vivendo entre mistérios e investigações. Não tendo o apoio dos seus pais para seguir carreira e com uma convivência familiar conturbada, ele não consegue confiar em qualquer pessoa. Um dia, aparece um caso intrigan...