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A chuva caia rasa e molhava o chão de forma suave. Chovera o dia todo. E as calçadas escorregadias se tornavam especialmente perigosas em climas como aquele. Principalmente quando se usa sapatos surrados de sola ruim e bastarda como os meus.

Naquele dia eu sentia uma pressa especial. Uma certa urgência. Queria me certificar que compraria o remédio certo e que meu irmão ficaria bem. Que ficaríamos bem, sem depender das circunstâncias que nos aguardavam dia e noite.

E então, tomando cuidado para não escorregar, mas andando a passos rápidos, eu caminhava em direção à feira mais próxima. Roupas simples me cobriam e o cabelo ruivo estava preso em um pequeno coque, escondido sob a toca. Haviam comerciantes para todos os lados.

Eu não prestei atenção quando uma mão forte cobriu minha boca e me puxou para trás.

Gritei o máximo que pude. Arregalei os olhos, me debatendo, mas eu não era forte o suficiente para me desvencilhar. Pelo canto do olho, vi algumas pessoas correr em minha direção, mas foram apenas um borrão para meu desespero.

Eu me debati, levando uma das mãos para trás e tentei puxar o cabelo, a gola, a touca, o que quer que fosse. Minhas mãos bateram nos braços, mas meus socos não eram nada perto daquele homem.

As mãos sebosas eram desconfortáveis em minha cintura e em minha boca, me impedindo de falar. Gritei o máximo que pude; fazer um escândalo talvez fosse minha melhor escolha.

Senti um puxão quando as mãos me soltaram e eu caí no chão, soluçando. Olhei para minhas mãos, trêmulas, tentando controlar a respiração.

Estremeci.

— Ei, moça, você está bem?

Era uma garota. Parecia ter minha idade. Antes que eu me desse conta, uma de suas mãos já segurava meu ombro.

Anuí.

— Amor, vou chamar a polícia. — Uma voz masculina falou atrás de mim.

A menina à minha frente assentiu.

Eu levantei o olhar, mordendo a língua para que as lágrimas não escorressem quando vi o homem que tentou me sequestrar; rosto rechonchudo, mãos calejadas de manusear armas antes de subir de cargo. Calças de grife e perfumes que dois anos de trabalho meu não pagam.

Não era um sequestro.

Agarrei o braço da garota, negando.

— Não — sussurrei.

— Você precisa de ajuda. E ele é um criminoso. Estava tentando te sequestrar.

— Não é um sequestro — falei baixinho. O garoto tinha sumido.

— Eu não estou entendendo...

— Eu não sou um criminoso! — A voz foi tão familiar que me fez estremecer. — Gaëlle, seu pai! Ele pediu para eu vir aqui- Ahhh!

O garoto que acompanhava a moça havia dado um cutucão naquele homem.

Eu estremeci. Ah. Meu pai. Não queria vê-lo.

O observei. O terno e a gravata carregavam o símbolo de uma serpente em uma árvore. Ele sabia meu nome. Não era um sequestro.

Ele sabia que meu pai estava vivo. E aquele símbolo eu conhecia bem.

— Não te conheço — menti.

— Talvez os últimos anos tenham sido um pouco... fartos demais para mim — Ele observou meu rosto. — Sou o Lorde Westingand.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora