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Que assuntos?

Ele não estava mais a fim de papo furado. Que bom. Porque eu também não estava.

O soldado desviou o olhar brevemente antes de voltar, recostando na poltrona e descansando os ombros.

— Me diga você. Por onde quer começar?

Levantei as sobrancelhas.

— Vai responder qualquer pergunta que eu fizer?

Qualquer, não. A maioria. Mas faça as perguntas certas. Comece. Agora temos tempo.

Não precisei pensar. Já tinha muitas perguntas na ponta da língua.

— Como sabia deste lugar?

Renoward me encarou. Ele pareceu um pouco incomodado; seu dedão tocou as costas da sua mão algumas vezes.

— Faça as perguntas certas.

Respirei fundo.

— Ótimo. Que lugar é este?

Seus olhos brilharam. Ele parecia sorrir, embora eu nunca tivesse visto se, de fato, minhas deduções estavam certas.

— O quarto ou o reino?

— Se não vai me dizer sobre o quarto, então explique o reino. Onde estamos?

As mãos de Renoward estavam cruzadas na frente do rosto, e seus cotovelos se apoiavam nos braços da cadeira.

O soldado manteve o olhar sobre mim; como um desafio ou um convite para alegar que ele estava louco.

— Sulman.

Eu congelei.

Talvez, de fato, estivesse louco.

Meu sangue parecia correr mais devagar e senti os ombros doloridos, de repente. Fiquei zonza.

Ele me levou para o lugar onde as pessoas que queriam me matar estavam. As pessoas que sentiam raiva de mim. As pessoas que escravizavam meu povo, que destruíram meu reino. O que deveria ser um lugar seguro, estava sendo o mais perigoso possível.

Eu não sabia dizer se eu quem estava louca ou Renoward que tinha perdido a cabeça. Talvez nós dois não estávamos muito bem.

— O quê? — O desespero fechou minha garganta. — Você está louco? Eles querem me matar!

— Shhh. — Renoward pousou dois dedos na frente da máscara, onde supostamente estaria seus lábios. — Este quarto pode abafar o som, mas ainda é possível ouvi-la do lado de fora. Acalme-se.

— Me acalmar. — Eu ri com escárnio. — Certo. Porque não é você quem eles queriam. Droga, Renoward. Eles levaram meu irmão. Veio me entregar também? Quanto é a recompensa?

Ele revirou os olhos.

— Não diga besteiras, Gaëlle. Não sou tolo. Já disse que estou salvando sua vida. Se eu quisesse te entregar, teria feito assim que os portões das muralhas foram abertos. Não teria necessidade de me dar o trabalho de te trazer até aqui. Não gosto de enrolar.

Fechei minha mão em um punho.

— Então por que estamos aqui?

Ele respirou fundo. Pareceu precisar se preparar para prosseguir.

— O rei de Sulman, Ridgar, é um pouco arrogante, digamos. Ou, melhor dizendo, ganancioso. Você deve saber do que ele é capaz de fazer apenas para conseguir o que quer. Ele reviraria cada reino, destruiria cada família, acabaria com tudo, mataria todos que visse pela frente ou faria alianças terríveis apenas para conseguir achar você e seu irmão. Ele não aceita que alguém burlou o sistema de segurança dele e fugiu de Sulman há quase dezenove anos.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora