Meus passos saíram abafados contra a grama verde cintilante. Meu rosto estava inchado, meu nariz não deixou de ser vermelho um segundo sequer. Meu abdômen doía de tanto soluçar, mas as lágrimas ainda não tinham parado de escorrer.
Estava desidratada, com sono demais para comer, com fome demais para dormir. Triste e afogada demais para fazer qualquer outra coisa a não ser chorar.
Estava doendo. Oh, Santo Imperador, como aquilo doía. Eu queria arrancar o meu coração machucado para ver se doeria menos.
O soldado mascarado e eu cavamos um pequeno buraco no chão, onde desejei dar uma sepultura melhor para Hale do que apenas um pote no solo de Nova Sulman. Infelizmente, isso era tudo o que eu podia oferecer no momento.
As árvores balançavam suavemente, deixando que algumas folhas secas caíssem.
Não era grande. O buraco, nem o que eu enterraria nele. Mas a saudade que eu tinha de Hale era enorme. E agora, eu sentia o impacto da falta do seu carinho.
Devagar e com as mãos trêmulas, ergui o pote de vidro na minha mão, onde as pedrinhas brilhantes refletiam a luz da lamparina que Renoward segurava. Observei, lembrando do rosto de Hale, procurando não esquecer nenhum detalhe. Eu não podia esquecer.
Depois, beijei o pote e acariciei-o, como se Hale estivesse ali. Como se fosse o corpo dele a ser enterrado.
— Me perdoa... — falei entre soluços — me perdoa, Hale. Eu sinto tanto...
Engoli em seco, ainda observando o colar brilhar lá dentro, refletindo o fogo vivo.
— Você não merecia isso. Você merecia ter uma vida feliz, ao lado de quem ama. Ver seus filhos crescer ia ser uma honra para mim. Eu adoraria ter sobrinhos. Eu adoraria te ver realizar seu maior sonho. Eu adoraria te ver no meu suposto casamento depois que tudo se ajeitasse.
Solucei, deixando as lágrimas escorrerem.
— Me perdoa, meu irmão. Espero que a Terra do Imperador seja incrível. Você acreditava nele. Será que devo também? Porque pra mim ele parece malvado o bastante para te tirar de mim. E para infincar outro espinho no meu coração. Talvez ele goste de ver as pessoas sofrerem antes de arrancar alguém especial delas. Talvez ele não se importe. Talvez ele é egoísta o bastante para pensar apenas em si mesmo, e não se importe com o sofrimento. Deve ser por isso que você foi embora.
Enxuguei o nariz com a manga comprida da minha blusa, sem dar a menor importância se estava sujando algo, se Renoward me ouvia ou observava. Estava cansada demais para me importar.
— Talvez você nem esteja na Terra do Imperador. Talvez esse lugar nem exista e talvez ele também não exista. — Eu dei de ombros, soltando um sorrisinho amargo. — Como se fosse fazer grande diferença. Você se foi e ele não fez nada para impedir. E você nem pode me ouvir mais.
Eu jamais confessaria que daria qualquer coisa por mais um abraço reconfortante do meu irmão. Se eu tivesse apenas mais cinco segundos ao lado dele, eu certamente apenas o abraçaria. Isso diria tudo o que eu teria que dizer.
Engoli de novo, numa tentativa falha de segurar o choro.
Com isso, eu coloquei o pote no buraco, jogando a pouca terra que retiramos por cima e deixando Hale para trás, assim como parte de mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Arthora | A Queda de Um Império
Fantasía[Obra concluída ✔] Há 980 anos, Arthora, um dos Sete principais Reinos, foi escravizado. Gaëlle Provence é descendente dos escravos, e esteve nos campos de escravidão quando era uma bebê, até que seu irmão, Hale Provence, fugiu com ela para evitar s...