Ainda parada, eu respirei fundo, sentindo o ar abafado do guarda-roupa entrar em meu pulmão. Meu nariz coçou um pouco, apesar de que não vi nenhuma poeira.
Eu virei para trás, onde havia uma grande extensão de casacos de pele, lã e couro. Ele me disse para ir até o fundo.
Assim o fiz.
Comecei a caminhar em direção ao fundo do guarda-roupa, um pouco espremida no meio dos casacos. Meus pés ainda faziam som quando de repente tudo sumiu.
Estava deitada. Sabia disso porque sentia meu corpo roçar o lençol áspero e estranho. Meus pés estavam gelados, mas aos poucos, comecei a sentir um cobertor pesado sobre meu corpo.
Meus olhos estavam fechados. Eu parecia ser puxada para baixo; a gravidade parecia me querer grudada ao chão. Eu sentia meu braço endurecido e algo gelado entrar por ele em uma velocidade estranha. Minhas veias levavam o cheiro para as narinas.
Tinha cheiro de rum.
Mas não era rum.
Sabia disso.
Eu abri os olhos.
Devagar, porque estavam pesados. O ambiente não estava claro a ponto de me cegar. Parecia ser fim de tarde, mas nenhuma luz do sol entrava.
Observei ao meu redor. As paredes eram bejes. O chão, branco, apesar de estar um pouco amarelado do tempo. Minha cama tinha barras. Ao meu lado esquerdo, havia um remédio pingando em minha veia.
Estava no hospital.
Quando e como cheguei, não sei. Como estava viva? Também não sei.
Me lembro da queda, do penhasco, do rei. Ridgar. Aquele desgraçado.
Minhas mãos estavam debaixo do cobertor, mas eu sentia meus dedos. Sentia meus pés.
Ufa.
Alguém limpou a garganta. Eu olhei para o lado, e encontrei um par de olhos verdes me encarando. Sua máscara impermeável ainda cobria parte do seu rosto. Ele segurava um copo de café em uma das mãos envolvidas delicadamente em luvas de couro preto.
Ficamos nos encarando. Eu não sabia o que dizer. Ele não sabia o que dizer.
Depois de alguns segundos, ele se aproximou e apertou um botão na cabeceira. Eu dei uma de curiosa e olhei, observando que o botão parecia uma campainha.
Abri a boca para falar, mas não consegui fazer nenhum som.
Renoward negou com a cabeça.
— Espere um pouco — disse ele. — O médico precisa te ver antes.
Ele deu as costas. Voltou.
— Que bom que está bem. Que está acordada.
Depois, deu as costas de novo e saiu.
Não fiquei muito tempo sozinha. Alguns segundos depois, duas enfermeiras idênticas entraram no quarto. Uma delas gritou alguma coisa, mas eu não consegui entender.
Elas se aproximaram. Uma mediu meus batimentos cardíacos e a outra minha pressão.
Estável, elas disseram.
— Preciso que responda algumas perguntas, pode ser? — pediu.
Eu anuí, sentindo uma forte dor na cabeça, que pegava toda a minha coluna.
— Ótimo. São perguntas de sim ou não, então você não precisa falar, já que vai ter um pouco de dificuldade agora no começo.
— Você sente dor? — a enfermeira que estava ao meu lado esquerdo perguntou.
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Arthora | A Queda de Um Império
Fantasy[Obra concluída ✔] Há 980 anos, Arthora, um dos Sete principais Reinos, foi escravizado. Gaëlle Provence é descendente dos escravos, e esteve nos campos de escravidão quando era uma bebê, até que seu irmão, Hale Provence, fugiu com ela para evitar s...