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No envelope da primeira carta a letra do meu irmão me cativou por quinze minutos. Por mais que fosse coisa da minha cabeça, eu tinha a impressão de que podia sentir seu cheiro. Estava assim:

"Abra esta primeiro.

Para Gaëlle."

Simples. Uma curta instrução. Hale tinha mania de me dar instruções até depois que morreu. Eu observei o verso de todas. A última delas dizia:

"Abra apenas depois de se casar... Estou falando sério. Não faça isso antes de forma alguma.

Para Gaëlle."

As únicas que possuíam instruções eram a primeira e a última, mas todas estavam enumeradas, como se estivessem me indicando em qual ordem ele escreveu.

A primeira parecia ser a mais importante, então decidi seguir corretamente as instruções.

"03 do mês de Torcsky, calendário arthoriano.

Querida Gaëlle, minha irmã,

Se você recebeu esta carta, provavelmente não existo mais. Sinto muito por isso. Você sabe que minha saúde não estava a melhor. Descobri coisas sobre ela tarde demais. Meu assunto principal aqui não é a morte, apesar de ter um grande motivo aparente para eu lhe escrever isso antes de estar morto. Até porque, não posso escrever cartas da Terra do Imperador. Isso eu te conto na segunda carta.

Meu assunto aqui é outro além da morte e envolve nossa família. Nossa verdadeira família. Os Provence de sangue.

A primeira coisa que você deve saber é que somos de uma linhagem real. A primeira e mais pura descendência da antiga família real de Arthora. Sim, descendemos do rei arthoriano que perdeu a guerra. Nosso sobrenome real perdurou até hoje de alguma forma. Gostaria de ter lhe dito isso antes, mas era arriscado demais. Não me gabo pelo sangue que carregamos, de qualquer forma, porém isso é algo que você tem o direito de saber.

A segunda, é que nossa família está, possivelmente, viva. Convenci Aaden a sobrevoar Sulman discretamente e descobri que talvez nossos primos, tios e mãe estão vivos. Eu vou tentar fazer contato. Caso eu não consiga, você pode tentar. Apenas tome cuidado, está bem?

Eu amo muito você, Gaëlle. Eu daria muito mais do que apenas o que você tem. Eu queria te dar uma vida muito melhor. Me perdoe por nunca ter conseguido isso.

E daria tudo para estar com você de novo.

Quero te pedir uma coisa: Faça valer a pena. Viva, dance, cante. Tenha um amor, conheça novos lugares, compre roupas que você goste, coma quantos Profiteroles quiser. Peça para Zylia te ensinar a cozinhar (garanto que ela vai amar essa ideia). A vida é muito curta e você algum dia vai deixar isso tudo para trás. Crie memórias, Gaëlle. Isso ninguém pode tirar de você.

Eu te amo muito e eternamente,

Hale, seu irmão."

Eu solucei ao terminar a primeira carta. Pelo choque, pela honestidade, pelo conselho que Hale jogou em cima de mim. Abracei o papel, imaginando Hale ali.

— Eu também te amo — sussurrei para o nada.

A primeira coisa que rodeava minha cabeça era que minha família estava viva. Eu tinha outras pessoas. Só não as conhecia. Não consegui odiar Hale por não ter me contado isso.

A segunda coisa era que, minha família, cujo estava viva, descendia da família real arthoriana. Eu possuía o sangue real. O sangue que esteve, há 980 anos, em um rei, que governava Arthora. Era um pouco difícil acreditar nisso. Parece que a realeza gosta de me caçar, não é?

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora