Não foi tão difícil despistar os guardas. Assim que passamos as árvores que cercavam a cidade, Renoward me guiou pelo reino como se já conhecesse todas as ruas. É lógico que conhecia. O soldado sabia de muitas coisas.
Havia um grande comércio, onde as pessoas vendiam produtos muito bem feitos. Casas, prédios, estabelecimentos; todos estavam bem divididos entre si. As ruas eram largas e possuíam uma calçada esculpida de basalto. Eram um pouco altas, deixando um degrau para subir nelas. Vimos algumas casas, e todas elas tinham uma estrutura bonita; eram grandes e esbanjavam ouro e prata.
Corremos feito loucos, deixando o vento bater contra nossos rostos. Seria legal se eu soubesse onde estava, se Renoward tivesse respondido minhas perguntas, se meu braço não latejasse a cada passo e se Hale não estivesse morto.
Apenas o pensamento me trazia um enorme calafrio. Acho que nunca me atreveria a pronunciar aquelas três palavras em voz alta.
Demoramos várias horas para atravessar toda a cidade. Paramos algumas vezes para que eu pudesse comer e para usar o banheiro.
Mas foi quando cruzamos os portões e atravessamos a ponte de pedra sobre o rio, nos aproximando do castelo, que o desespero decidiu tomar conta de mim. Eu tinha uma grande impressão de que já conhecia aquele lugar. O castelo era escuro, feito de pedra. Grandes pontas se erguiam até o alto, de pedra maciça e dramática. As janelas estavam todas fechadas e tampadas pelas cortinas escuras. As pedras estavam desgastadas. Pelo menos, o jardim, apesar de sem graça, não era descuidado.
O ar pesava a soberba. O soldado me puxava para lá. A ponte nos levava para a parte de trás do castelo, onde apenas uma porta sem graça e pequena estava posicionada.
Eu não conseguia pensar. Não conseguia, porque ainda estava em choque, ainda estava tentando processar as coisas, a ficha sobre tudo o que vinha acontecendo ainda caía.
Finquei o pé na grama, impedindo que Renoward continuasse a me arrastar para dentro. Eu não podia entrar naquele lugar.
Tique-taque. Tique-taque. Eu queria ter um relógio comigo naquele momento.
O soldado me estudou.
— O que foi?
Engoli em seco. Minhas pernas falhavam, meu braço pulsava a dor, meu coração queria pular para fora.
Neguei tão pouco que mal percebi.
— Não posso entrar lá — sussurrei. — Não me obrigue a fazer isso.
Eu ainda encarava a extremidade do castelo. Grande, feio. Não podia. Mas precisava. Eu sabia que sim.
Abaixei meus olhos para Renoward.
— Faço qualquer outra coisa — falei séria, mantendo de uma forma impressionante a voz neutralizada. — O que você quiser. Mas não vou entrar aí.
Ele ainda me analisava. Meus olhos, minha bochecha. Sua mão apertou levemente meu cotovelo.
— Você precisa.
Sim, eu sei disso. Mas não vou. Me afastei dele.
— Tanto faz. — Neguei. — De jeito nenhum. Não vou entrar aí.
Os olhos de Renoward encarava os meus. Ele não desviou uma vez sequer. Então, para a minha surpresa, ele inclinou a cabeça e pude ver um brilho de sorriso em seus olhos.
— Não é engraçado — constatei.
Ele negou.
— Sei que não.
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Arthora | A Queda de Um Império
Fantasy[Obra concluída ✔] Há 980 anos, Arthora, um dos Sete principais Reinos, foi escravizado. Gaëlle Provence é descendente dos escravos, e esteve nos campos de escravidão quando era uma bebê, até que seu irmão, Hale Provence, fugiu com ela para evitar s...