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Havia um ruído vindo do lado de fora da porta. Havia um tique-taque pulsante que quase tapava meus ouvidos. Havia um silêncio extraordinário vindo das pessoas que estavam dormindo.

Havia também um assoviar suave em uma melodia sigilosa. Como um fio de esperança que corre através dos montes para chamar auxílio, como um assovio melancólico ou um pedido meticuloso.

Estava escuro, um breu verdadeiro, mas eu não conseguia dormir. Havia chorado parte da noite, apesar de esse não ser o maior motivo da minha angústia. Eu estava mortalmente nervosa. Estava ciente de que não poderia dar o gostinho da vitória à Ridgar, porém mesmo assim, eu estava nervosa.

Minhas mãos estavam geladas e minha cabeça tinha milhares de pensamentos que me impediam de dormir. Eram tantos, que em alguns momentos eu parava de pensar. O sol mal soltava seus raios dourados no horizonte e eu já estava com os olhos abertos e a cabeça a mil.

Puxei as cobertas para cima do meu ombro, recebendo o clima fresco de bom grado. Senti também o choro entalado na garganta, tapando minha respiração fraca e gradativa.

A incerteza do que encontraria quase me fazia implorar para que Renoward aceitasse desfazer o trato. Entretanto, se eu pedisse isso, Ridgar sairia ganhando. Eu não podia deixá-lo ganhar. E a princesa morreria, o que também não me parecia justo.

Eu pulei quando uma mão pousou no meu ombro. Uma mão cuidadosamente revestida com couro preto. E olhos verdes cintilantes debaixo de sobrancelhas retas.

— Está na hora? — perguntei.

Renoward respirou fundo, desviando o olhar. E então, assentiu. Apenas uma vez.

— Precisa ir agora. Não quero correr o risco de ele te encontrar.

O observei. Ele voltou o olhar em mim.

— Vamos, Carmim?

Levantei, seguindo-o até o escritório. Ele não fechou a porta.

Havia algumas caixas em cima do sofá cujo não tinha visto antes. Estavam vedadas e fechadas com fita. Renoward recostou na escrivaninha.

— Seu traje está na caixa.

— Eu tenho um traje?

O príncipe assentiu.

— Vista-o.

Andei até as caixas. Franzi o cenho.

— Em qual delas?

— Na menor.

Havia uma caixa pequena e comprida. Era a única que não estava fechada com fita. A abri, encontrando um traje preto. Toquei no tecido preto e o ergui para observar. Era espesso, porém macio e esticava bastante.

Virei-me para Renoward.

— Onde conseguiu este traje?

Ele apenas deu de ombros.

Caminhei até o banheiro. Retirei minha roupa às pressas, vestindo a roupa. Ele deslizou por meu corpo facilmente a ajustou-se rápido. O tecido preto desenhava meu corpo com habilidade e me deixava... bonita?

Era lindo. Um decote nada exagerado caia até um pouco acima dos meus seios, e o corte se erguia até a metade dos meus ombros. As costas eram fechadas, onde deixavam a mostra apenas a ponta de algumas cicatrizes.

Sorri em gratidão por isso. Não gostava que nenhuma delas ficasse à mostra. Elas eram a lembrança de dias nebulosos; eu não precisava vê-las com frequência, assim como ninguém precisava. Sua costura era grossa e firme, e refletia a luz.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora