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A risada fofa de Eliya me tirou dos pensamentos mais profundos de volta ao mundo real.

Eu não prestava atenção na conversa fazia alguns minutos. Reprimi uma palavra torpe sobre mim quando percebi que não estava fazendo o que Hale havia me pedido; evitar pensar no que já não fazia parte da nossa realidade.

— Se eu não tivesse chegado... — Portos ria tanto quanto Eliya. Eu não via meu irmão em lugar nenhum.

— Cala a boca. Eu conseguiria me virar.

Aaden levantou as sobrancelhas com um sorrisinho travesso.

— Sei. No máximo teria morrido de medo.

— Alguém viu Hale? — interrompi.

Não havia mais ninguém além de nós no que Zylia chamava de refeitório.

Eliya e Aaden, que riam descontraídos enquanto aproveitavam o café da manhã, me observaram, dando de ombros apesar da careta preocupada.

O sol começava a invadir a tenda por meio das brechas das portas ou divisórias de lona. Não havia vento.

Eliya comprimiu os lábios.

— Ele saiu faz quinze minutos.

— Você está bem? — Portos franziu o cenho.

Não. E faz muito tempo.

Aquela pergunta me deu bom ânimo. Ele era a primeira pessoa que me perguntava isso além do meu irmão ou de Tinny. De vez em quando, minha amiga me via ter vontade de chorar, mas sempre evitei as lágrimas na frente dela.

Me remexi na cadeira, percebendo que não tinha comido nem metade do pão que passei manteiga.

Dei de ombros.

— Hale disse onde foi?

Observei os dois trocarem olhares.

— Ele falou que ia voltar para a tenda de vocês porque queria tomar banho... — a garota franziu o cenho — você não prestou atenção, né?

Deslizei a língua pelos dentes.

— Talvez.

Sem deixar que me questionassem mais, me levantei, indo em direção a porta. Aaden se levantou rápido e se colou na minha frente antes que eu conseguisse chegar perto do portal.

Levantei uma sobrancelha, cruzando os braços e observando-o.

— Você claramente não está bem.

Ergui o queixo.

— Preciso ir até meu irmão, então me dê licença.

Era uma óbvia desculpa para dizer que não queria mais ficar ali. Eu precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa.

Comecei a brincar com minha cutícula.

— Pra quê?

— Desde quando isso se transformou em um interrogatório?

— Não é um interrogatório — disse Eliya —, mas você ficou parada encarando o chão por mais de quinze minutos.

— E seu irmão disse que você não dormiu de noite.

Franzi o cenho.

— Eu não me lembro de ter intimidade com vocês a ponto de ter alguém mais se preocupando comigo.

— É lógico que nos preocupamos — Eliya falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Vocês são pessoas como todas as outras. E são arthorianos, o povo escolhido do Imperador. Além disso, abrigar alguém de seu povo é uma conquista enorme.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora