Renoward correu para a biblioteca quando o som pulsante de um alarme horrível ressoou por todo o abrigo.
Havia se passado quatro dias desde que entramos naquele lugar. Durante esses dias, descobri que o abrigo era bem maior do que parecia. Da biblioteca, uma porta levava à cozinha. Lá em cima, próximo a escotilha, depois do corredor frio e escuro, havia três dormitórios os quais usamos nesse meio tempo. Além de todo o espaço que a própria biblioteca levava, com um pouco mais de três andares de prateleira.
Os passos pesados e apressados de Renoward nas escadas de metal me fizeram sair do pequeno transe que entrei por conta do susto pelo alarme e eu o segui escada acima. Mal tive tempo de chegar lá quando a escotilha começava a ser aberta. O soldado apontou a arma na direção da mesma.
Engoli em seco. Se tinham nos encontrado, já estávamos mortos. Não haveria outra saída a não ser nos entregar.
Hale chegou lá em cima antes mesmo que eu pudesse me dar conta de que deveria chamar ele.
Mas um corpo atlético e moreno familiar desceu as escadinhas de aço e meus ombros relaxaram. Os olhos castanhos de Zylia sobre nós fez com que o soldado de máscara abaixasse a arma. Pelo canto do olho, percebi Hale relaxar também.
Renoward saudou-a com a cabeça e foi até o dispositivo da parede para desligar o alarme.
— Que bom que estão bem — disse. — Acho que essa foi a minha maior preocupação.
— Ele já foi embora? — o soldado perguntou.
A observei negar com a cabeça.
— Consegui distraí-lo o bastante para vir aqui ver se estavam bem. Acho que vão precisar ficar aqui por, pelo menos, mais um dia.
Ele assentiu. Zylia voltou seu olhar para a minha direção.
— Me desculpem por esse susto e essa correria toda. Estamos fazendo de tudo para que possam sair daqui o mais rápido possível.
Meu irmão negou.
— Você está fazendo mais do que deveria por nós. Ainda vou dar um jeito de retribuir.
A tenente sorriu.
— Vou gostar de cobrar.
Então ela voltou-se para Renoward.
— Se a comida acabar, mande um sinal pela pulseira. Estarei atenta a qualquer movimento de pedido de ajuda de vocês.
— Eu li o regulamento mais de três vezes — devolveu ele. — Não se preocupe.
A tenente riu.
— Eu sei. Mas é sempre bom lembrar. Aguentem mais um pouco, vou fazer com que possam sair daqui sem que eles vejam vocês.
Zylia sumiu para lá da escotilha logo em seguida.
E assim, mais um dia se passou lá dentro. Eu sabia as horas por meio de um relógio da biblioteca. Comíamos três vezes por dia, mas era o bastante para saciar as necessidades.
Passei a maior parte do tempo no segundo salão da biblioteca, depois das prateleiras, onde um ambiente circular e suas paredes altas guardavam um mar de livros nas estantes. Havia um enorme sofá para leitura o qual eu usei para dormir. E pra ler. Mas nunca para pensar. Pensar demais era o que mais me prejudicava no momento.
Vi Renoward apenas algumas vezes. De tempos em tempos, meu irmão vinha checar se eu estava bem. Estava bem orgulhosa de dizer que consegui me virar com os livros repletos de tinta preta que tinha naquele lugar. As vezes eu tinha a impressão de brotar mais e mais de algum lugar que eu não fazia ideia de qual era.
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Arthora | A Queda de Um Império
Fantasy[Obra concluída ✔] Há 980 anos, Arthora, um dos Sete principais Reinos, foi escravizado. Gaëlle Provence é descendente dos escravos, e esteve nos campos de escravidão quando era uma bebê, até que seu irmão, Hale Provence, fugiu com ela para evitar s...