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Admiro sua preocupação, sabe? A minha irmã me abandonou na primeira oportunidade que teve.

Eliya era a garota mais adorável que já vi. Mais do que Tinny. Com uma habilidade impressionante, ela examinou Hale e descobriu o problema em questão de minutos. Alguns exames e touché! A mulher explicou que havia uma infecção no trato respiratório superior de Hale e isso explicava o cansaço excessivo, as tosses carregadas e a febre.

— Sinto muito — falei, tentando reconfortá-la. Eu nunca soube como agir quando falamos sobre passado doloroso com outras pessoas.

Entretanto, ela riu.

— Não se preocupe. Ela sempre foi muito irresponsável. Mas suas intenções não foram maldosas.

— Há quanto tempo não a vê? — indagou meu irmão. Eliya não parecia ser muito mais velha que Hale.

— Alguns anos desde que ela decidiu ir para Tuorc. Os sulmanitas odeiam Tuorc tanto quanto odeiam os arthorianos. Mesmo assim, seria muito difícil se tentasse entrar em contato com ela então nem me esforço. Só sei que ela está bem porque me mandou algumas cartas.

Tuorc era uma corte reservada. Nunca dizia nada, nem se envolvia com nada. O que eu sabia era que eles não gostavam muito de visitas.

— Vários deles já abandonaram ao Imperador — dizia ela. — E fazer uma aliança com eles seria terrível. Ninguém lá é cem por cento confiável.

— Por que há tanto ódio pelos arthorianos? — perguntei.

Eliya chacoalhou a solução da injeção que injetaria no meu irmão, desviando o olhar.

— Os arthorianos sempre serviram ao Imperador muito bem. É o povo dele, entende? Mas como nem sempre ele é visto pelas pessoas, muitos deixam de acreditar que ele existe. E, há muito tempo, alguns se revoltaram contra o Imperador, causando caos, desordem, e baderna. As escolhas penderam para o lado errado e a coisa ficou incontrolável.

— Mas ele é o rei de Ulyan.

Eliya virou-se, terminando de puxar o embolo e encher a siringa de um conteúdo turvo.

— Ele é o rei, mas não interfere nas nossas escolhas. E essa é a maior prova de amor que podemos dar a ele: servi-lo mesmo com tudo o que o mundo pode nos oferecer. Além disso, não existe só o lado bom no mundo. O mal pode ser persuasivo.

Eliya passou o algodão suavemente no pescoço do meu irmão, e ele virou o rosto, pronto para receber a picada. Uma careta surgiu quando ele sentiu o conteúdo entrar, mesmo assim, não reclamou.

— Então ele não interfere se alguém estiver sendo persuadido?

A observei balançar a cabeça.

— Ele pode, sim, fazer isso, mas varia do que a pessoa escolhe fazer. Se alguém, no momento da persuasão, pedir discernimento a ele, então o Imperador os guiara pelo caminho certo. Mas se ela quiser escolher o que fazer com sua vida, ele não vai impedir.

— Ele deveria, não deveria?

— Não. Isso vai contra o total caráter dele. Ele criou a regra e não descumpre. Nunca.

Molhei os lábios. Se ele criou as regras, por que o Imperador não fez todos seguirem a ele? Talvez assim não haveria desordem. Uma prova do amor, disse Eliya.

Hale me encarava de cima da mesa de metal a qual a enfermeira pediu para que ele sentasse. Seus olhos estavam fixos em mim, mas ele não parecia prestar atenção em nada. Estava absorvido pelos próprios pensamentos. Seus olhos refletiam algo que eu não saberia entender.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora