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Mas como vou achar os outros representantes de Ulyan?

Ele tinha um sorriso no rosto. Um belo sorriso, que dizia muitas coisas. A principal delas, era que estava feliz com minha decisão.

— Eles vão achar você, não se preocupe com isso. Você deve se preocupar mais com conseguir o que realmente precisa.

— Esse é outro problema — relatei. — Não sei como fazer isso.

— Saberá na hora certa. Apenas precisa ir.

Assenti, sentindo o medo fechar minha garganta. Mesmo assim, engoli em seco.

E olhei para o lado de fora através da janela, onde o grande campo de trigo balançava suavemente enquanto o vento soprava e o pôr do sol mostrava-se exuberante. Olhei para a pequena casinha, que só agora reparei ter o telhado avermelhado. A casinha desestabilizada, um pouco suja e quebradiça.

Minha casinha.

Eu.

— E a casa? — perguntei, desviando o olhar desta para olhar o Imperador. — Não deveríamos terminar de limpar?

— Continuaremos a limpar, Gaëlle. Sempre, até que esteja pronta. Até lá, trabalharemos juntos. E, acredite, há muita coisa para fazer.

Eu tentei um sorriso, ainda sentindo várias coisas de uma vez. Era difícil discernir o quê. Talvez estivesse com medo porque não fazia ideia de como minha vida seguiria daqui para frente. Talvez estivesse com medo porque não quisesse perder mais ninguém. Talvez.

Não sei.

— Não sei de muitas coisas. Nem por onde começar.

Ele assentiu.

Levou a mão até pequenos rolinhos de papel amarelado na prateleira e pegou um deles, retirando a fita vermelha. Vermelha como meu cabelo. Vermelha como sangue. Ele desenrolou o papel e virou para mim. Era um mapa.

Peguei-o.

— Siga para o nordeste, em Álix. Lá encontrará os primeiros passos.

— O Jardim que Renoward me mostrou.

O Imperador assentiu.

— Mas e depois?

Ele riu.

— Você precisa dar o primeiro passo antes de saber o segundo.

Eu limpei a garganta.

— Certo.

Ele abaixou um pouco a cabeça, me olhando por cima.

— Não se preocupe. Seus amigos vão te ajudar em tudo. Está pronta para voltar?

Assenti, sentindo minhas mãos formigarem em questão de segundos.

— Guarde o mapa no bolso. Se você perder, ele voltará para você. E sempre estará dobrado em uma pequena parcela de papel, para que consiga carregar facilmente em qualquer tipo de bolso.

Assim o fiz.

O Imperador apontou para o lado, onde as portas do guarda-roupa de madeira se abriram. Eu não havia reparado que estava ali. É porque não estava.

Eu me aproximei, ainda sentindo o carpete macio afundar conforme andava. Subi, ouvindo o batuque da madeira quando coloquei os dois pés.

— E, Gaëlle! — chamou.

Eu me virei, olhando-o. Ele tinha um sorriso compreensível.

— Cuide do Renoward. Ele não se vê mais digno de viver.

Aquilo me deixou incomodada, porque eu não queria me importar com ele. Simplesmente não fazia sentido, ele era sulmanita.

Yüksek me observou.

— Não deixe seu rancor generalizar todos os sulmanitas, Gaëlle. Nem todos são ruins.

Eu abri um sorriso amarelo.

— Certo. Vou fazer isso só porque pediu. Eu ainda não gosto dele.

— Eu sei. Mas não precisa gostar para cuidar.

Eu anui.

Dei uma olhada na mansão uma última vez. Continuar ali não seria ruim, apesar de que eu não queria ser dada como morta.

Eu parei na metade de um passo quando meu voltei para trás, correndo em sua direção. O abracei como uma criança, sentindo-o devolver a atenção. Apertei e abracei como se visse meu pai pela primeira vez.

Então me afastei o bastante para olhá-lo.

— Eu também te aceito como pai.

Yüksek sorriu, e pude sentir o quanto estava feliz com isso.

Caminhei até o guarda-roupa de novo. As portas de madeira começaram a fechar-se gradativamente.

Eu olhei para o Imperador uma última vez.

— Vá até o fundo — disse ele. — E não se esqueça: eu estarei com você a todo momento.

A escuridão se fez presente quando as portas se fecharam por completo.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora