Tique-taque. Eu ainda tentava entender de onde vinha o batuque pulsante e repentino que estralava em meus ouvidos.
Tive um sonho estranho. Muito estranho. E eu sentia a textura dos papéis sob meu rosto, que pendia em cima da mesa de madeira. Um vento frio e desconhecido soprou, me fazendo encolher um pouco.
Estava escuro. As luzes estavam apagadas e tudo estava um breu. A única fonte de luz perto de mim era o pequeno abajur que compramos na volta para o castelo e que apontava para mim.
Eu ouvia vozes distantes.
Levantei a cabeça, descolando o papel da minha bochecha logo em seguida. Olhei em volta. Eliya dormia atrás de mim, no sofá já esticado, e me lembrei de que ela havia feito isso há pouco tempo.
Bem que Renoward disse que o sofá era uma cama.
Aaden dormia em um canto mais afastado, em um grande colchão que eu não fazia ideia de onde ele havia tirado.
A luz do escritório estava acesa. Ninguém dormia na cama de Renoward.
Caminhei até lá, me sentindo exausta enquanto o colchão parecia me chamar para uma boa noite de sono. Tinha dormido em cima das anotações que o soldado me deu. Eram muitas coisas para realizar em muito pouco tempo, e eu me perguntava se o relógio colaboraria conosco.
Se fosse meu irmão no lugar da princesa, eu não pensaria duas vezes em salvá-lo. Em fazer de tudo para tirá-lo de lá. E ela o salvou havia quase duas décadas, então queria retribuir o favor.
De repente, senti remorso. O que eu estava me tornando?
— Pegue leve com ela, Renoward — dizia Zylia.
Pude escutar a conversa deles quando me aproximei da cama. Me enfiei debaixo das cobertas, quase tremendo, mesmo que ainda estivéssemos na primavera. Em Sulman, o clima era mais frio em todas as estações do ano, principalmente durante a noite. Mas não chegava a ser tão frio quanto Tuorc – o reino de gelo.
— Eu estou tentando, mas o egoísmo dela me estressa. E não importa qual foi a desculpa que ela deu. Sabemos que ela não fez porque não queria fazer — retrucou Renoward.
Zylia suspirou.
— Eu sei. Não tiro sua razão.
— Mas?
— Mas... eu também a entendo. A forma como essas informações chegou nela não foi uma forma muito agradável, apesar de que a culpa foi dela.
— Acha que ela se arrepende?
— Ah, claro que sim. Ela vai agir de forma idiota muitas vezes, Renoward, mas é nessas horas que devemos ensiná-la. Com paciência, nós a instruímos.
— Isso se ela quiser aprender.
— Isso a gente descobre.
Eles ficaram em silêncio. Por um momento, fiquei sonolenta. Meus olhos começaram a se fechar quando Renoward falou:
— Eu não a entendo. Ela é confusa. Cada hora é uma ideia ou alguma suposição bizarra. Ela está com raiva e de repente, só quer ficar sozinha.
— Você vai detestar admitir que estou certa, mas você e eu já passamos por isso. Você já sentiu a dor do luto tanto quanto eu. A cabeça dela deve estar uma bagunça agora por tudo que ela descobriu enquanto sentia a falta do irmão. Não a julgue. Você sabe como é isso, Renoward.
— Eu já fui assim? — não havia tom de desprezo em sua voz, apenas a mais pura curiosidade.
— Como você acha que era quando chegou em Álix? A diferença agora, é que eu e você somos treinados e já sentimos isso. Nós sabemos lidar. Gaëlle é apenas uma criança. Eu não sei pelo que ela passou antes, mas isso, com certeza, está contribuindo. Temos que ter paciência.
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Arthora | A Queda de Um Império
Fantasy[Obra concluída ✔] Há 980 anos, Arthora, um dos Sete principais Reinos, foi escravizado. Gaëlle Provence é descendente dos escravos, e esteve nos campos de escravidão quando era uma bebê, até que seu irmão, Hale Provence, fugiu com ela para evitar s...