Capítulo 1

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Vampiro.

A palavra soava idiota. Eu me sentia idiota por ter concluído aquilo, mas o sentimento de choque superou o de idiotice completamente. Edward era um vampiro. Com uma família inteira de vampiros morando na cidade. As lendas quileutes eram reais e eu finalmente entendia os motivos pelos quais Billy não saía do meu pé.

Antes Edward me parecia estranho e suas oscilações de humor me confundiam. Agora eu sabia que muito provavelmente era o lado humano dele lutando contra o lado vampiro para me manter viva e em segurança ao invés de me morder e sugar meu sangue. A ideia me arrepiava da cabeça aos pés.

De repente a ideia de ter um relacionamento com ele não me era tão apelativa. Era difícil entender o que ele queria, já que ora me dizia para ficar longe dele, que era melhor que não fôssemos amigos, e então continuava me procurando nos intervalos, no refeitório da escola.

Eu me sentia tola em ter dito que ele não precisava ficar longe de mim. Eu não sabia o que deveria fazer. As confissões dele, sobre ler os pensamentos de todos menos os meus, de me observar dormindo quase todas as noites...

Eu não me sentia segura. Eu nunca lhe dera permissão para fazer isso.

O mais perturbador era sua estranha necessidade de ficar perto de mim. Meu cheiro era atraente demais, ao que parecia, daí também a explicação para a cara de dor de Jasper. E mesmo que todos, exceto Rosalie, fossem receptivos e gentis quando ele me apresentou a eles como namorada, quando me percebi em uma casa cheia de vampiros, sendo a única humana e com um cheiro irresistível, ponderei a possibilidade de não sair dali viva e fiz o possível para ficar calma e agir com o máximo de naturalidade que podia.

Eu não queria apresentá-lo como namorado ao Charlie.

Eu queria qualquer coisa, exceto ele perto do meu pai, que adorava Carlisle, até onde eu sabia, e confiava plenamente nele.

Mas Carlisle era uma coisa, Edward era outra completamente diferente. Carlisle tinha a experiência de mais de duzentos anos perto de sangue humano, atuando como médico, e tinha um autocontrole invejável, pelo que me contaram.

Já Edward...

Aparentemente ele não gostou muito das regras de Carlisle em seus primeiros anos como vampiro e matou muita gente. Apesar de seu remorso, eu não me sentia mais tranquila. Pensar em todos os momentos em que estive vulnerável, momentos em que ele confessou ter um desejo ardente de beber meu sangue...

Qualquer resquício de paixão que um dia senti por ele havia sumido. Era como... Como se eu conseguisse pensar com clareza e respirar normalmente quando ele não estava por perto.

Como se termina um namoro com um vampiro?

Eu adorava Alice. Mesmo Jasper, que, apesar de me dar calafrios, nunca me tratou mal. Emmett, sempre muito aberto, um urso ultra abraçável, um gigante gentil. Carlisle e Esme eram afáveis e gentis, tinham tato para tudo, faziam eu me sentir bem-vinda, mesmo que, no fundo, eu soubesse que não era totalmente, graças a Rosalie. A ideia de ficar longe de meus recém-feitos amigos me deixava triste, mas a preocupação com a segurança de Charlie perto de Edward, que me assustava com suas confissões e espionagens noturnas, era muito maior que qualquer tristeza que eu pudesse sentir em me afastar deles.

Passei aquele fim de semana ponderando maneiras de como terminaria com Edward. Sequer havia o apresentado como namorado a Charlie, mas isso tornaria as coisas mais fáceis, talvez. Pedi a ele o fim de semana sozinha, disse que tinha muitas coisas a fazer, o que não era mentira.

Precisava reabastecer a dispensa e a geladeira ou viraríamos peixe, considerando a quantidade que comíamos ultimamente. Precisava de algo novo, o que me obrigou a ir ao mercado e, de quebra, comprei caixas de cereal para abastecer meu estoque pessoal. Saí com as mãos mais cheias do que eu esperava. Talvez eu não devesse ter deixado a lista de coisas a comprar aumentar tanto.

Tentei equilibrar as várias sacolas contra meu colo, segurando-as com um único braço enquanto tateava a chave do Chevy no meu bolso, mas quando finalmente a alcancei, senti as sacolas de papel deslizando do meu abraço.

– Opa! – ouvi uma voz masculina ao meu lado. – Quase! – senti a sacola que quase caiu sendo tirada de mim.

''Meu deus, eu serei roubada?'', engoli a seco.

– Tudo bem aí?

Virei-me devagar para ver quem falava. Um homem alto, loiro, usando uma jaqueta de couro marrom que parecia desgastada pelo uso. Tinha um largo sorriso, parecia tentar ser simpático, mas eu estava assustada demais para ficar numa boa com um estranho aparecendo do nada ao meu lado no estacionamento.

– Ah, obrigada – respondi por fim, abrindo a caminhonete rapidamente para colocar as outras sacolas no banco do carona, praguejando mentalmente por ter me esquecido do spray de pimenta em casa.

– Aqui – ele devolveu a sacola.

– Tudo certo aí? – ouvi outra voz, que me deixou arrepiada. Quantos mais?

Outro homem, ainda mais alto, de cabelos castanhos mais longos que o do outro, se aproximou de nós.

– Sim, sem problema – respondeu o loiro. – Ah, a propósito – ele se voltou para mim. – Meu nome é Dean, esse é o meu irmão, Sam – indicou o outro.

– Bella – os cumprimentei desconfiada.

– Nome legal – Dean sorriu de canto. Algo me dizia que era o típico cafajeste. – Escuta, Bella, sabe de algum hotel legal onde a gente pode se hospedar?

Pestanejei algumas vezes, bufando e desviando o olhar. Eu já estava ali havia um tempo considerável, mas não saía o suficiente para conhecer a Forks atual.

– Ah, na verdade não – fiz uma careta. – Desculpe. Talvez no mercado alguém saiba indicar.

– Forks Motel, na 351 South Forks Avenue.

Eu quase parei de respirar quando ouvi a voz de Edward. De onde ele tinha saído? Aproximou-se de mim pelas costas e não parecia nada feliz com a presença dos dois.

Sam e Dean pareciam tão surpresos e confusos quanto eu. Edward passou o braço ao redor da minha cintura, me puxando para mais perto de si.

– Valeu – Dean fez uma careta. – Tenham um bom dia – deu meia volta, se afastando com o irmão e rumando para o mercado.

– Você estava me seguindo de novo? – encarei Edward.

– Não exatamente.

– Você estava – suspirei, me afastando dele para fechar a porta do carona e ir para o lado do motorista.

– Quero manter você segura. Você disse que não sairia hoje.

– E não ia, mas precisei fazer compras – esclareci. – Você não precisa ficar me seguindo a cada passo que eu dou fora de casa, sério.

– Mas, Bella...

– A gente se vê na escola, Edward – eu disse entrando no carro e dando a partida.

Era demais pedir um pouco de paz de espírito?

WaywardOnde histórias criam vida. Descubra agora