Capítulo 22

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Acordei subitamente quando ouvi barulhos na porta do quarto. No escuro, eu mal podia ver sombras se movendo do outro lado. Dean dormia ao meu lado e eu imediatamente tentei me lembrar de onde havia deixado minha Glock.

Tentei ser o mais silenciosa possível, saindo de fininho da cama para tentar chegar à minha mochila, mas então as sombras sumiram, pois não havia mais nada se movendo do outro lado da porta. Engoli a seco, tentando controlar minha respiração, e esperei em silêncio por qualquer coisa.

Percebendo que eu provavelmente só estava imaginando coisas, voltei para a cama, me deitando ao lado de Dean novamente.

– Não são tão rápidos quanto pensam, Swan, e nem tão espertos assim. Não foi difícil rastrear uma ratazana fedorenta como você.

Senti meu corpo se arrepiar ao ouvir a voz dela. Virando meu rosto para o lado de Dean, vi uma silhueta perigosamente próxima à cama. Eu não precisava da luz do abajur para saber que a desgraçada estava mais perto dele do que deveria.

– Tirou o meu amante de mim. Nada mais justo que eu tirar o seu de você, não é?

Eu queria falar, eu queria gritar e mandá-lo pro inferno, mas minha voz estava presa em minha garganta.

– Seus queridos Winchesters se arrependerão do dia em que a fizeram uma caçadora, mas não se preocupe...

Sua silhueta desapareceu na escuridão.

– Você assistirá ao espetáculo na primeira fila, Isabella – sussurrou em meu ouvido.

Abri meus olhos assustada e ofegante, percebendo que Dean estava bem ao meu lado, me olhando preocupado.

– Calma – ele afagou meu rosto. – Tá tudo bem. Tá tudo bem, eu tô aqui – me puxou para perto, me abraçando.

Não consegui impedir as lágrimas de descerem. Só de pensar... Só de pensar que Victoria poderia nos encontrar a qualquer momento... Só de pensar que ela poderia feri-lo, aquilo me mortificava. Eu precisava racionalizar, me lembrar que Alice estava de olho neles e que nos avisaria se a ruiva sequer pensasse em nos pegar, e que eu não era mais a garota cujos pais seu amante havia matado.

Eu era a garota que estaria pronta pra arrancar a cabeça dela do corpo e fazer com que se arrependesse de ter cruzado o meu caminho.

– Fazia tempo que você não tinha pesadelos – Dean chamou minha atenção, afagando meus cabelos.

– É, acho que minha cabeça tava ocupada demais pensando em outras coisas.

– Outras coisas? Outras coisas tipo eu?

– É, outras coisas tipo você – ri sem graça. – E exorcismos, e demônios, e um monte de outras coisas – me afastei um pouco para vê-lo melhor. – Contente?

– Muito – beijou minha testa. – Não esquenta com a ruiva, vamos pegá-la.

– É, a gente vai, sim – me apoiei em meu cotovelo. – Mas eu não quero falar dela agora... – comecei a beijar seu pescoço.

Ele riu baixinho, seus dedos percorrendo minha cintura.

– De novo?

– Tá cansado, senhor? – me afastei para fitá-lo.

– É, um pouco – ele fez uma careta. – Você devia comer alguma coisa, também.

– A gente poderia... Pedir comida, mas, talvez, a melhor coisa se fazer agora seja continuar na estrada.

– Pensei nisso, também. Tem certeza de que quer continuar agora? Não quer descansar mais um pouco?

– Vou descansar melhor quando chegarmos na casa que Alice falou, prometo.

– Tá bem – encostou o rosto ao meu. – Vou avisar o Sam.

Banho, roupas limpas e um pouco de café, e logo estávamos na estrada novamente. Sam praticamente havia empurrado Dean de volta ao meu carro, dizendo que queria distância de nós dois por um bom tempo.

Nós nunca havíamos conversado tanto quanto naquele meio tempo em que estávamos na estrada. Agora que a tensão havia se dissipado, começamos a falar sobre nossas primeiras impressões um sobre o outro no dia em que nos conhecemos. Dean ficou mais do que chocado quando eu disse que quando o vi pela primeira vez, pensei que fosse me roubar ou algo do tipo.

– Eu sei que fraudar cartões de crédito não é menos pior, mas eu nunca roubaria ninguém assim – ele se defendeu rindo. – Sendo sincero, quando aquele sanguessuga apareceu do nada atrás de você, eu sabia que você precisava de ajuda.

– Falando nisso, como chegaram até nós tão rápido? – franzi o cenho.

– Seguimos vocês depois de ver o jipe dele passar. Cê não tem ideia de como eu queria matar ele ali mesmo.

– Não vale a pena – o fitei por um momento. – Ele tá bem longe da gente agora.

– Já chegou a pensar em...? Sabe?

– Cheguei a ameaçar ele com isso, mas a verdade é que eu não sei se teria coragem de matá-lo. Apesar de tudo, Carlisle e Esme não merecem isso.

– É, eles pareciam ser gente boa. Qual era o problema da loira com você, hein?

– Ah, bem... – mordi o lábio por um momento. – Ela nunca gostou da ideia do Edward se envolver com uma humana por causa dos riscos que isso representaria.

– Imagino que ela deve estar mais do que feliz agora.

– Provavelmente – ri sem graça. – Mas ela não estava errada. Eles teriam que deixar Forks em algum momento, mas o que aconteceu acelerou isso, então... E pensar que houve um momento em que eu quis ser uma vampira – uma risada nervosa escapou.

– Você? – ele arqueou as sobrancelhas. – Você queria ser vampira?

– Olha, em minha defesa, eu estava num período completamente insano, tá?

– É, não brinca! – ele riu.

– Eu sinceramente... Não sei que diabos me deu. É como se toda vez que ele ficasse por perto eu ficasse... Sob encanto ou algo assim. Depois de um tempo meu medo conseguiu quebrar esse efeito, mas antes... Sei lá – dei de ombros. – Hoje eu vejo que aquilo não era normal.

– Não era pra ser normal, Bella – me encarou. – Sem ofensa, mas vampiros ainda são predadores dos humanos. Tudo que ele fizesse ou dissesse, ele querendo ou não, seria com a finalidade de te atrair e o desgraçado conseguiu.

– É – suspirei. – E isso é passado – engoli a seco. – Nada com o que se preocupar agora, juro.

– Bom saber – sorriu. – Porque se ele cruzar o nosso caminho de novo, eu não vou perder tempo conversando.

– Nem eu. Ele foi avisado.

Meu celular começou a tocar dentro do porta-luvas. Franzi o cenho, estranhando.

– Poderia atender pra mim? – pedi a ele.

– Claro – ele pegou o celular. – Alice? – ele se surpreendeu. – Espera, espera, fala devagar, meus ouvidos são humanos – e então seu rosto se fechou, ficando sombrio. – Tem certeza disso? Quanto tempo temos?

– O que foi? – perguntei assustada.

– Alice disse que...

Minha janela se estilhaçou em mil pedaços de vidro.

Tudo aconteceu muito rápido e eu não sabia o que havia me atingido, mas algo acertou minha cabeça e minha visão escureceu.

WaywardOnde histórias criam vida. Descubra agora