Capítulo 56

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Era de partir o coração.

Estávamos no inverno, era Natal. Dean e eu estávamos terminando de preparar alguns pratos natalinos e pedimos a Sam para decorar nossa pequena árvore de natal – que Dean ficou mais do que feliz em comprar.

Sam tinha mudanças bruscas de humor. Desde que cortara laços com Gabriel, ele ou estava completamente irritado, caçando demônios alucinadamente e me ajudando a matá-los, ou enchia a cara antes de se enfiar em seu quarto, onde passava dias sem sair. Precisávamos insistir muito para que ele se hidratasse e comesse alguma coisa.

Quando dezembro chegou, Dean e eu concordamos que era hora de parar de caçar. Havíamos caçado tanto até ali, e ainda estávamos sem pistas sobre Lilith. Gabriel também não aparecera mais, então apenas presumi que estivesse ocupado.

Naquele natal, que era o segundo que eu teria sem meus pais, meu segundo com eles, e meu último com Dean, organizei o jantar de natal do padre Kellan na igreja, ajudando com bebidas, tortas e afins, já que ele teria sua ceia com as pessoas que ele abrigava na igreja. Fiquei com eles pouco tempo antes de voltar para casa.

Bobby, Ellen e Jo aparentemente passariam o natal juntos. Enviamos nossos presentes a eles, imaginando como estariam as coisas, já que não nos falávamos havia um tempo.

E quando voltei, Sam ainda estava decorando a árvore. Parecia se esforçar enormemente para fazer aquilo, como se tentasse desesperadamente se agarrar a algo para que não pensasse em Gabriel.

O que deveria ser uma data feliz se tornou um momento ainda mais depressivo para todos nós. Nenhum presente havia nos deixado particularmente animados com nada.

Dean tinha menos de um mês de vida agora e não tínhamos respostas, não tínhamos uma saída. Não havia plano B. Qualquer trapaça, que não tinha garantia de sucesso, acabaria matando Sam. Somente um milagre poderia salvar Dean.

~

Nossa caça à Bela Talbot continuava a todo vapor, também. Acreditávamos que havia uma chance de salvar Dean se matássemos o demônio que possuía seu contrato, e para isso precisávamos do Colt e precisávamos descobrir quem teria a alma de Dean.

Sem saber mais o que fazer, e faltando três semanas para o tempo dele acabar, nós caímos na estrada novamente, interrogando um demônio atrás do outro em busca de pistas que nos levassem ao chefão, mas nenhum demônio queria ceder.

E um deles até mesmo disse que tinha mais medo do demônio que tinha o contrato de Dean do que ser mandado de volta para o inferno, o que nos fazia pensar que o chefão definitivamente não era flor que se cheirasse.

Talvez fosse Lilith. A primeira alma corrompida provavelmente era velha o suficiente para ter expertise em maldade e botar medo em qualquer um. Se fosse ela, nós estávamos ferrados, porque não fazíamos ideia de como encontrá-la.

Um caso estranho surgiu no meio do caminho. Sam até mesmo havia brincado, muito para a nossa surpresa, com a possibilidade de se tratar de um caso envolvendo zumbis. O conceito não era nem um pouco reconfortante, mas Dean estava interessado no caso.

Eu não.

Eu precisava confirmar se era Lilith que possuía seu contrato, e naquele momento, cuidar de um caso de zumbi não era nada útil para Dean, então insisti que resolvessem o caso juntos enquanto eu me ocupasse com os demônios.

Havia acabado de deixar uma vítima de demônio em sua casa depois de matar a coisa e curar o corpo da pessoa quando Dean me ligou.

– Bobby falou com alguém que sabe sobre a Bela. Eu tô indo atrás do cara, você quer vir?

– Me manda o endereço.

Finalmente uma coisa boa nessa maré de azar.

Larguei tudo e fui para Vermont, encontrar Dean na casa do contato do Bobby. Estacionei atrás do Impala e fiquei esperando que ele saísse.

E quando saiu, parecia ter visto um fantasma.

– Você não vai acreditar no que eu descobri.

Dean me contou coisas sinistras sobre o passado de Bela, que nem mesmo se chamava Bela, ao que constava. Suspeita de cortar o freio do carro dos pais, mas a polícia nunca conseguiu provar que foi ela.

A pilantrinha definitivamente era mais estranha do que imaginávamos, mas tínhamos o nome do hotel e do quarto onde ela estava, então demos um jeitinho de entrar despercebidos nas dependências do hotel e pegar a chave reserva para o quarto dela, entrando sem chamar a atenção, e lá a esperamos.

Já era noite quando ela finalmente tinha dado as caras.

Dean rapidamente a prensou contra a parede, apontando a arma para a sua cabeça, assim como eu.

– Cadê O Colt?

– Dean, não tá comigo.

– Não me enrola, não!

– Não tá comigo, O Colt já tá bem longe. Se quiser, ligo pro comprador.

Dean tirou a bolsa que ela carregava e eu logo revistei a cretina, encontrando a arma que ela tinha na cintura e tirando o cartucho. Dean começou a vasculhar o quarto a procura da arma enquanto eu olhava a bolsa dela, no que Bela tentou se esgueirar e eu atirei na porta, perto demais de sua cabeça.

– Deixei você inteira uma vez – mantive a Glock apontada para a cabeça dela. – Eu não vou cometer o mesmo erro de novo. Não me teste.

– Olha, eu localizo o comprador pra vocês. Podem pegar um avião, se quiserem. Não tá comigo.

Dean apontou sua arma para ela também.

– Vai me matar? Não é um assassino frio.

– Tipo você? – ele retrucou. – Tá certo. Mas eu não me imagino matando os meus pais. Tinha o que, uns 14 anos, Abby?

A rosa inglesa, que já era pálida, perdeu de vez a cor em seu rosto. Tentou sair do quarto, mas Dean a prensou novamente, desta vez, contra a porta.

– Como você descobriu? – ela perguntou.

– Isso não importa.

Foi quando notei uma erva caindo de cima do batente da porta. Uma erva muito específica em nosso meio.

Uma erva para afastar demônios.

– Quantos anos você tem, Abby? – eu a encarei.

– Isso importa?

– Responde a pergunta.

– 24 anos.

– Você fez um trato, né?

Dean me olhou surpreso e eu apenas apontei para a erva em cima do batente.

– E teu prazo tá no fim, não é?

– Agora eu entendi – Dean riu de nervoso, se afastando dela. – Deixa eu ver se o meu raciocínio tá certo: vendeu O Colt pra algum demônio pra ter mais anos de vida?

Ela engoliu a seco.

– Isso foi muito, muito estúpido, garota. Você cometeu um erro. Vendeu a única coisa que poderíamos usar para resolver seu problema e o do Dean e agora se ferrou.

– Como assim? – Dean me olhou.

– Se a venda tivesse funcionado pra ela ter mais tempo, ela não estaria afastando demônios.

– Eles aumentaram o preço, né? – Dean a olhou.

– É, aumentaram, eu fiz besteira! – ela começou a se desesperar.

– O que foi que te pediram?

– Pra eu matar o Sam – ela começou a chorar.

– Foi burrice sua achar que barganhar com eles daria certo – suspirei. – Demônios sempre encontram uma brecha em seus contratos pra ferrar as coisas ainda mais.

– Nem vale a pena te matar – Dean guardou sua arma, assim como eu. – Te vejo no inferno, Bela.

Nós dois saímos sem olhar para trás, mais desesperançosos e mais frustrados do que nunca. Não havia nada pior que dar de cara com um beco sem saída de novo.

WaywardOnde histórias criam vida. Descubra agora