Capítulo 31

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Eu me agarrava à Dean com tanta força que tinha quase certeza de que havia cravado minhas unhas muito fundo. Era quase uma compensação pelas estocadas profundas que ele estava me dando, minhas pernas erguidas sobre os ombros dele e eu sabia que ficaria sem forças depois. Era uma forma de comemorar o aniversário dele.

Estávamos todos exaustos, então decidimos que voltaríamos para casa para recarregar as energias antes de começar a caçar novamente. Bobby e Sam ficariam de olho em sinais do demônio para que começássemos a caçar assim que possível.

Contra todos os protestos de Dean, comprei uma grande torta de maçã como substituta de bolo de aniversário, e algumas cervejas para eles. Comprei uma vela azul simples e a acendi no meio, ele sentado na frente da torta e nós dois atrás dele.

– Isso é realmente necessário?

– Claro que é! Faça um pedido e assopre a vela – entrelacei meus braços em seus ombros. Não sei o que ele desejou, mas, no fim, ele assoprou a vela.

A verdade é que eu precisei me conter para não chorar. Era o primeiro aniversário dele que comemorávamos juntos... E talvez fosse o único. Dentro de um ano, não teríamos a chance de comemorar aquilo de novo, sendo realista.

Eu queria ter fé, queria acreditar que conseguiríamos uma saída, mas a verdade é que eu tinha que me preparar para o pior. E enquanto o pior não chegava, nós estávamos na cama, transando como se não houvesse amanhã.

Porque talvez, para nós, não houvesse mesmo e a única forma de eu controlar o meu medo era fazendo de conta que nada de mais estava acontecendo, que era só mais um dia, que tudo acabaria bem.

Mal havíamos terminado o segundo round quando Sam bateu na porta.

– Ô, seus coelhos! Bobby ligou! Tá rolando coisa estranha, talvez a gente tenha um caso pra resolver! Vamos fazer as malas!

– Tá! – Dean respondeu, e suspirou, levemente irritado. – Caramba, mal ficamos em casa dois dias – se sentou na cama, pegando algo na gaveta da mesinha de cabeceira.

– Bem... Tem demônios à solta – crispei os lábios, me levantando, me espreguiçando um pouco. – Trabalho é trabalho, senhor Winchester – dei de ombros.

Levei um susto quando Dean estapeou meu traseiro, com um sorrisinho malicioso.

– Vou sentir falta dessa vista.

– Pode ter um pouco mais dessa vista se tomar banho comigo – sorri de canto, prestes a entrar no banheiro.

– Espera, espera aí... – segurou a minha mão. – Então, eu tava pensando numa coisa... – ele pigarreou se levantando. – Talvez... Talvez possa parecer loucura... E eu vou entender se você não quiser, vou entender mesmo...

– Cê tá me assustando, Dean.

– Desculpa, não é essa a intenção – suspirou. – Eu tô nervoso, nunca fiz isso antes – riu sem graça.

Você, nervoso? – arqueei as sobrancelhas. – O que poderia...?

Dean pôs um joelho no chão, à minha frente, segurando minha mão direita. Engoli a seco. Ele estava...? Não, ele não poderia... Poderia?

– Eu sei que muita coisa aconteceu nesses sete meses e que as coisas nem de longe estão como a gente queria... – engoliu a seco. – E que se disser ''não'', eu vou entender, porque eu fiz e disse coisas horríveis pra você antes, mas... Só me resta um ano e eu queria passar o que resta da minha vida ao seu lado. Isabella Marie Swan, você me daria a honra de ser minha esposa?

Se havia algum momento em que a minha alma poderia sair do corpo, o momento era aquele. Ele realmente... Realmente estava fazendo aquilo comigo.

Nós dois nus nos encarando, sem saber o que dizer, e dentre todas as coisas que ele podia fazer ou falar...

– Há quanto tempo tem pensado em fazer isso? – pestanejei.

– Desde que a Victoria quase tirou você de mim.

– Dean... Você... Não pode falar todas aquelas coisas e me pedir em casamento como se nada tivesse acontecido. Não pode se menosprezar e dar tão pouca importância a si mesmo e pedir a minha mão dessa forma. Um casamento não é um band-aid que você cola no dedo e tudo fica bem magicamente.

Ele assentiu, baixando a cabeça.

– Mas a resposta é ''sim''.

Ele ergueu a cabeça, me encarando com os olhos arregalados.

– Que?

– Eu disse ''sim''.

– É sério? Isso é sério? Tá dizendo ''sim''?

– Sim, seu bobo! Eu aceito! – ri nervosa.

Ele se levantou de supetão, me abraçando e me tirando do chão por um momento enquanto me girava no ar. Nós dois ríamos à toa e eu apenas me entreguei.

– Espera, como vamos fazer isso? – perguntei quando ele me pôs no chão. – Você é um homem procurado.

– Bobby conhece uma vidente de Illinois que pode fazer uma cerimônia religiosa pra gente, mas eu tava pensando em subornar um padre ou algo assim – sorriu.

– Bobby sabia disso? – perguntei descrente.

– É, ele sabe há um tempinho – fez uma careta.

– Sam?

– Também.

– Seus danados – dei um soquinho em seu peito.

– Alice tava me atazanando pra fazer logo o pedido porque ela quer organizar a cerimônia, mas eu tive medo de você não aceitar.

Alice e Jasper haviam se afastado desde o incidente no cemitério dos vaqueiros, mas quando tudo se resolveu e os portões foram fechados, eles nos ajudaram com as fogueiras para cremar os corpos. Jasper quase passou por apuros com tanto sangue fresco, mas, considerando que era sangue de homens mortos, a tentação mortal acabava não sendo tão atraente.

– Você esteve bem ocupado – semicerrei os olhos em falsa desconfiança.

– É, eu... Precisava de uma segunda opinião.

– E uma terceira, e uma quarta...

– É – sorriu. – Vamos pegar uns demônios, mandar eles pro inferno, e aí a gente casa. O que acha?

– Eu topo. Se...

– Se...?

– Se nos deixar tentar salvar você.

– Bella, não tem como desfazer o trato.

– Não desfazer, então, mas alguma coisa precisa ser feita. Olha aqui, eu sou muito jovem pra ser viúva – no que ele acabou rindo sem jeito. – Você tem que parar de bancar o suicida, tá entendendo? Se ficar se atirando na cara do perigo, eu peço o divórcio.

– Não faria isso – ele debochou.

– Quer pagar pra ver? – ameacei.

– Não – franziu os lábios. – Não mesmo.

– Então vamos, senhor Winchester, precisamos de um banho.

– Espera um momento, senhora Winchester... – sorriu de canto, segurando minha mão direita e então deslizando um anel dourado fino, de pedrinhas azuladas.

– É lindo, Dean.

– Alice me ajudou à escolher. Ela insistiu porque disse que eu não tenho muito senso de estilo, o que eu acho um absurdo, diga-se de passagem.

– Eu casaria com você mesmo que o anel fosse de plástico – dei de ombros.

– O que eu fiz pra merecer você? – afagou meu rosto.

– Apenas... Ser quem é – encostei minha testa à dele. – A gente vai dar um jeito, tá legal? Eu não serei viúva, me recuso.

– Tá bem – ele assentiu. – Faremos do seu jeito.

WaywardOnde histórias criam vida. Descubra agora