Capítulo 34

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Aquela tinha sido a madrugada mais louca das nossas vidas desde que os portões do inferno se abriram, mas eu sabia que aquele era apenas um aperitivo do que apareceria de pior depois. Os mortos estavam enterrados e os sobreviventes foram levados ao hospital da cidade. Tamara havia cremado Isaac e só nos restava voltar para casa e esperar pelos próximos presságios com sinais de demônios.

Mas o clima não estava amistoso e os olhares menos ainda e eu não gostei nada daquela situação. Odiava como Bobby e Dean me olhavam, como se eu fosse uma mentirosa, como se estivesse escondendo algo. Como se aqueles meses todos não significassem nada e eu fosse só uma estranha ao lado deles. Nem parecia que no dia anterior Dean havia me pedido em casamento.

Eu estava com raiva demais de toda aquela situação para ficar em casa. Se Dean ia agir estranho comigo, era melhor que cada um ficasse no seu canto por um tempo.

– Ei – Sam me chamou quando percebeu que eu estava saindo. – Tá tudo bem?

– Não – desviei o olhar.

– Aonde vai?

– Dar uma volta, espairecer – dei de ombros.

– Se importa se eu for com você?

– Não.

Então, lá estávamos, caminhando pelas ruas de Lawrence à noite, sem saber bem para onde ir. Fazia muito tempo que eu não andava à toa em algum lugar.

– Então... – Sam pigarreou, chamando minha atenção. – Cê tá chateada com o que o demônio falou, né?

– Eu nem sei do que ele estava falando – me irritei. – E odeio isso, odeio estar no escuro. Mas eu odeio muito mais ser tratada como uma estranha.

– Sei como é – me olhou por um momento. – Desde que descobrimos que o olhos amarelos tinha planos pra mim, Dean sempre me olhou com certa desconfiança, como se estivesse esperando que à qualquer momento eu fosse me voltar pro lado negro. Só que o seu caso é diferente, Bella.

– Diferente como? – franzi o cenho.

– Não sei o que você é, mas seja lá o que for, é algo que os demônios odeiam. O jeito como a Inveja falou, como se tivesse lutado contra um dos seus antes, como se precisasse se esforçar muito pra combater vocês.

– ''Vocês'' – ri desgostosa. – Não sei o que eu sou, nem Edward sabia, e duvido muito que algum vampiro saiba. É muito estranho pensar que faço parte de outra coisa que eu nem sei o que é e isso tá me deixando louca. Como vou descobrir o que sou?

– Você me pegou – deu de ombros. – Podemos procurar videntes, talvez consultar espíritos. Alguém deve saber de alguma coisa. O Bobby nos falou de uma, uma que poderia até mesmo fazer a cerimônia de casamento de vocês.

– Hm. Sabe onde ela mora?

– Sei, em Illinois. Tá pensando no que eu tô pensando? – se virou para me olhar.

– Pode crer – me virei de volta. – Vamos fazer as malas.

Mais uma longa viagem, uma de mais de oito horas, mas qualquer coisa seria melhor que ficar em casa com alguém me olhando atravessado.

E é óbvio que esse alguém queria saber onde estávamos.

– Dando uma volta, uma coisa muito não-humana – debochei enquanto pegava minha mochila e colocava roupas limpas nela.

– Aonde está indo?

– Vou procurar respostas com alguém que não me olhe como se eu fosse um monstro, pra variar.

– Bella...

– Dean – me virei para ele.

– Olha, desculpa pelo que falei antes, tá? A gente tava assustado, só isso.

– Estar assustado não é desculpa pra vocês dois me olharem como se eu fosse uma estranha, como se eu fosse uma das coisas que caçamos – me aproximei, o encarando. – Caramba, eu nunca escondi que não sabia o motivo da minha cabeça ser assim! Eu nunca escondi nada, absolutamente nada, e você ainda teve a audácia de me acusar de esconder coisas de você!

– Eu fiz besteira, desculpa.

– Não. Desculpa não é o suficiente – me virei para terminar de aprontar minha mochila. – O que você fez não é justo. Nunca dei motivos pra duvidarem de mim, ou da minha lealdade. E sabe o que mais? – tirei o anel de noivado, pegando sua mão e o colocando sobre ela. – Se vai agir assim, significa que não tá pronto pra esse compromisso. Eu tive que engolir muitas decisões que você tomou sem nem me consultar, então quer saber? Se vai agir assim comigo, é melhor a gente não casar. Pensa bem no tipo de futuro que quer ter comigo antes de me pedir algo assim – coloquei a mochila nas costas, prestes a sair do quarto.

– Eu não tenho futuro, Bella – ele me fez parar onde estava. – Não há futuro comigo, e você sabia disso quando aceitou o pedido.

– Um ano ainda é muita coisa – encarei a maçaneta. – E a gente não vai desistir de te salvar. E se eu não puder te salvar, eu vou com você até o Inferno pra descobrir uma forma de te tirar de lá, juro por Deus, ou seja lá o que for que nos salvou antes – me virei para vê-lo por um momento. – E te prometo uma coisa: não importa o quanto você se odeie, eu não vou te deixar ser punido no Inferno por isso. Seu pai pediu que eu cuidasse de vocês, então eu vou fazer isso, porque ele confiou em mim pra isso. Então pensa bem se esse casamento é realmente o que você quer se for fazer o pedido de novo.

Abri a porta e saí, antes que aquela discussão se prolongasse, encontrando Sam sentado no sofá da sala.

– Vamos.

Fomos até a garagem, colocando as malas no carro e entrando, checando nossas carteiras e documentos, por precaução.

– Odeio quando vocês brigam.

– Foi ele quem começou – encarei o portão enquanto ele se abria.

– Eu sei – suspirei. – Ele tá fazendo muito isso ultimamente, né?

– Eu sinceramente preciso de um tempo – avancei para a saída, acionando o botão para a garagem se fechar, e pisando no acelerador sem olhar pra trás.

– Vocês... Vocês vão terminar?

– Eu não sei – dei de ombros. – Mas o que sei é que ele consegue se odiar e menosprezar mais do que nos amar, e que o medo que ele sente pelo desconhecido é superior à sua capacidade de manter a mente aberta e entender as coisas. Talvez nós dois não... Talvez nenhum de nós esteja preparado. Porque quando esse ano acabar, Sam... Eu não sei como vou continuar.

– É – ele engoliu a seco. – Nem eu.

WaywardOnde histórias criam vida. Descubra agora